Leonardo*
Por um instante, congelei na porta. No meio do quarto, uma barraca de lençóis estava armada, com cadeiras servindo de base e uma luz suave escapando por entre os tecidos. Era impossível não ser transportado para o passado.
Minha esposa fazia exatamente aquilo. Quantas vezes eu a encontrei assim, transformando a sala ou o quarto em um castelo improvisado para as filhas da amiga dela. Depois, quando Lívia nasceu, também ganhou seu próprio esconderijo de lençóis, junto de suas amigas. A lembrança atingiu meu peito como uma flecha certeira, trazendo um aperto familiar entre a saudade e a ternura.
Mas a cena diante de mim não era do passado.
Lívia ria alto dentro da barraca, e, ao lado dela, estava Alana. A babá. Rastejando no carpete, com um sorriso no rosto, completamente envolvida na brincadeira, se metendo onde não devia.
Meu estômago revirou. Não era papel dela ser a mãe da Lívia. Não era função dela ocupar um espaço que não lhe cabia.
— O que está acontecendo aqui?
Apertei