EnricoA luz do abajur lançava sombras suaves sobre o rosto de Giulia. Ela dormia como se nada existisse além daquela cama, do travesseiro onde seus cabelos se espalhavam como seda escura. Seus lábios entreabertos murmuravam qualquer coisa incompreensível, perdida nos sonhos. Eu deveria estar em paz por vê-la assim. Mas tudo dentro de mim gritava.Primeiro o sequestro. Agora, Victorio dentro da minha casa.A casa que deveria ser segura.Cruzei os braços sobre o peito, lutando para sufocar a sensação de impotência. Eu a conhecia bem demais. Era a mesma que me corroeu há anos. Patrizia.Mesmo quando tento não pensar nela, ela volta. Basta o silêncio... Basta Giulia adormecida."Enrico..."O som da voz de Patrizia sussurrando meu nome ecoa na minha mente. Vejo o sorriso dela. Um sorriso resignado, doce e amargo ao mesmo tempo. Estávamos no nosso quarto. Giacomo tinha acabado de adormecer. Patrizia vestia o robe de cetim azul que adorava, os cabelos molhados caindo nos ombros."Promete qu
Enrico O sol atravessava as frestas das cortinas do escritório quando Enrico Bianchi se levantou da cadeira. A casa estava em silêncio. Giulia ainda dormia no quarto acima, e ele fazia questão de deixá-la descansar. A noite anterior tinha sido longa e perturbadora.Ele girava lentamente um copo de uísque entre os dedos, ainda cheio, quando ouviu batidas na porta.Andrea surgiu. — Senhor, os gêmeos Callahan chegaram. Disseram que é importante.Enrico franziu o cenho. Já havia cruzado com eles rapidamente no hospital, quando Giulia sofreu aquele “acidente”. Lembrava-se de seus olhares intensos, mas não tinham conseguido conversar naquela ocasião. Ele assentiu com a cabeça. — Mande entrar.Caelan e Conor Callahan adentraram o escritório com passos firmes e silenciosos. A semelhança física entre os dois era inegável, mas o que mais chamava atenção era a firmeza no olhar — um tipo de dor moldada pela raiva e pelo tempo.— Bianchi — começou Caelan. — Viemos falar de alguém que, infeliz
O herdeiroMeu nome é Enrico, sou o próximo Don da família Grecco, tenho 27 anos e essa é a história da minha vida, de como eu virei capo e como foi tudo até aqui. Na verdade, minha história não foi muito diferente dos outros herdeiros da máfia, mas eu sempre quis que fosse. Assim eu não ia experimentar esse sofrimento que carrego dentro do peito. Como um doce dado para uma criança e arrancado logo em seguida. Só que junto com o doce, tinha meu coração arrancado dentro do peito e vivia ou sobrevivia quebrado. Dizem que o sofrimento transforma as pessoas, faz com que elas deixem de acreditar nas coisas do alto e só olhem para o próprio umbigo, que elas deixem de ter esperança, de sonhar. Eu nunca almejei herdar o trono do meu pai, mas como primogênito, não teve outro jeito. Só se sai da máfia morto, e eu preferia viver fingindo que estava tudo bem e sem exercer meu verdadeiro propósito, além de conviver com o vazio do luto, do que perder a vida.Sempre invejei o meu irmão Giancarlo, e
GIULIAMeu nome é GIULIA, tenho vinte e um anos, morena da cor do pecado, com olhos castanhos claros e cabelos cheios com ondas e encaracolados. Muito abençoada pelo cara lá de cima e hoje eu vou contar como o meu conto de fadas virou meu pesadelo pessoal de um dia para o outro. Eu cresci achando que o mundo era meu, que eu podia fazer qualquer coisa que eu quisesse, e nem precisava me esforçar para isso. Meus pais sempre me deixaram viver assim, tendo tudo na minha mão, no topo do mundo, ainda mais sendo filha única e mais ainda fazendo parte de uma família importante da Itália.Meu pai sempre disse ser um empresário bem-sucedido e que eu não precisava me preocupar com nada a não ser comigo. Eu vivi nessa ilusão até acabar a minha faculdade, o curso que eu escolhi com tanto carinho e que achava mesmo que ia seguir na minha carreira, abrir meu próprio negócio. A minha vida era resumida em tecido e linha, analisar as mulheres, os panos que as cobriam e imaginar o quanto eu podia melh
Giulia De repente, sinto as minhas mãos molhadas e olho para baixo e acabo percebendo que, o aperto que eu fazia questão de dar na mão do tal homem, chegou até mesmo a arrancar um pouco de sangue, por causa do detalhe que eu tinha no meu anel, como se um pingente com a lateral cortanteGIULIA - MEU DEUS, DESCULPA! NÃO SABIA QUE ESTAVA TE APERTANDO ASSIM TANTO.ENRICO - Anda, vamos voltar para dentro.GIULIA - Para dentro? Mas nós não estamos dentro do hotel?Agora, neste momento, percebo que posso ter fugido para um futuro desconhecido. Olho sem entender para o homem, sombrio à minha frente, no meu coração, acredito que ele é o meu cavaleiro de armadura brilhante, mas também não sei no que me estou prestes a me meter e isso também é assustador.Enrico: - Temos de voltar para Itália, onde eu mando e posso te manter em segurança.Giulia - Não, Itália não, o meu pai e este meu... como posso dizer, ex noivo, vivem lá. Eles podem me pegar, o meu pai tem dinheiro e ontem, me disse que está
EnricoFoi como se eu tivesse visto a Patrízia naquela mulher, não sei explicar porquê, mas foi exatamente isso que sentiEla era frágil, estava assustada, com um casamento que nunca lhe tinha passado pela cabeça e, no entanto, tinha a coragem de enfrentar o mundo simplesmente para seguir o seu coração Sim . . . Como acontecia quando eu estava com a minha Patrizia, como senti naquela noite, vendo a mulher que viria a ser minha esposa, ser torturada pelo meu pior inimigo, com o olho inchado, roxo de tanto levar pancada, ser humilhada, à mercê daquele desgraçado. Assim como me transformei num monstro e arranquei a traqueia dele com as minhas próprias mãos, fui atrás do covarde que se atreveu a olhar para aquela mulher como se fosse a sua presa. Ordenei ao Guilhermo que a levasse para o meu carro, o que ela fez contra a sua vontade, afinal, não nos conhecíamos, mas o medo fez com que ela concordasse quase que de imediato, depois eu me encontrei novamente com ela, depois de ter dado o m
Guilhermo Não posso negar a minha história com o Enrico, mas admito que tudo o que passamos juntos serviu para que a gente pudesse se tornar mais forte, para que o nosso elo fosse inquebrávelEu cresci com ele, nossas mães tiveram parto praticamente na mesma época e a minha, foi ama de leite do EnricoMeu nome é Guilhermo e sou filho do Conselheiro da Camorra. Meu pai era o braço direito do chefe da Máfia Siciliana e digo era porque morreu em um dos embates com nossos inimigos Quando eu era criança, morria de inveja do Enrico, achava que ele tinha a vida que na verdade, eu merecia e não ele. Sempre tendo a atenção de todos, protegido por todos, as melhores coisas simplesmente caiam sobre as suas mãos, na minha mente, ele simplesmente não merecia a vida que tinhaAté completar os seus treze anos e ter que fazer aquela viagem misteriosa. Ele podia levar apenas uma pessoa, no caso, eu, seu amigo com também treze anos. Lógico, eu sempre soube nossas origens e para onde os nossos caminho
VictorioEu estava com os nervos a flor da pele, aquele maldito ousou tocar em mim, ousou se achar melhor do que eu, quem ele pensava que era?Ninguém pode me julgar por eu ter usado as circunstâncias ao meu favor, porque é isso que o ser humano é, não é mesmo? Conveniente... eu só fiz aquilo que todo mundo, se tivesse a oportunidade também faria O Francesco era um amigo de infância, aliás, eu não posso bem falar assim, ele era um conhecido, isso sim. A sua família tinha muito contato com a minha, era de prestigio, pelo menos na época que a gente se conheceuA Família Biancchi sempre se colocou no topo da pirâmide da sociedade, se faziam acreditar como empresários bem sucedidos, mas nós, os mais íntimos, sabíamos que, pelo menos o Francesco, estava envolvido até o pescoço com a Máfia e não, não de uma forma boaNinguém tinha coragem de chegar perto dele e questionar o motivo de ele bater no peito e dizer que era influente nessas reuniões tão distintas, mas que na verdade, sempre era