POV: HAPHEL
— Você não tinha o direito de fazer isso, mãe! — Gritei, a raiva queimando minha garganta como fogo. O volante tremia nas minhas mãos, a raiva me consumindo a cada palavra. — Como você pode fazer isso pelas minhas costas? Está decidindo sobre o meu futuro sem nem ao menos me consultar!
Do outro lado da linha, a voz dela vacilou, mas não cedeu. Eu podia sentir a tensão crescendo a cada segundo.
— Haphel, já te disse que estou fazendo o melhor para você. — Ela tentou se firmar, mas o desespero na voz dela era inconfundível. — Isso tudo foi um erro desde o começo. Você não pode mais voltar para a faculdade de veterinária, acabou!
O sangue ferveu em minhas veias, uma pressão crescente me esmagando o peito.
— Você não tem o direito de decidir isso por mim, mãe! — A raiva transbordava, e a frustração me apertava o peito como uma mão pesada. — Já tenho 21 anos! Eu sou capaz de tomar as minhas próprias decisões!
Ouvi um resmungo do outro lado da linha, e percebi que ela estava começando a perder o controle.
— Mas sou eu quem paga. — A voz dela soou mais fraca, carregada de um suspiro pesado. — Eu sei que você não entende isso agora, filha, mas tudo o que estou fazendo é para te manter segura.
Segura de quê? Contra quem? A pergunta pairava, ela nunca respondia. Apertei ainda mais o volante, os dedos dormentes pela pressão.
— Está me privando de ter um futuro, uma vida, amigos? Me fazendo viver nesta reserva como um animal, longe da sociedade. — Minha voz soou quase como um rosnado. O calor da raiva subia pelo meu corpo, mas eu não podia parar.
Havia uma pausa do outro lado da linha, ela respirava pesadamente.
— Se ao menos o seu pai estivesse aqui... talvez você compreendesse que... — Ela começou, mas eu não deixei.
— Mas ele não está mais aqui! O que há para compreender? — Minha voz tremia de ódio e dor. — Você está destruindo o meu futuro! É sobre a minha vida, mãe!
Fui enfática, as palavras saindo com tanta força que me senti exausta só de pronunciá-las. Ouvi ela suspirar, o som doloroso ecoando na linha,
— Você ao menos se importa com o que eu sinto, mãe? — A pergunta saiu quase sussurrada. — Por que não me diz logo por que está tentando me esconder do mundo?
O silêncio do outro lado foi longo, podia sentir o vazio se instalando na conversa.
— O mundo não é um lugar seguro, para você, Haphel. — Ela murmurou, cada palavra parecia pesar mais que o anterior. — Me escute, minha menina...
— Cansei de te escutar. — Falei com a voz carregada de exasperação, um gelo na ponta das palavras. A raiva e o desespero se misturavam em cada sílaba. — Eu te odeio... Odeio viver como uma prisioneira, odeio que o papai tenha me deixado nas suas mãos.
Do outro lado da linha, pude sentir o impacto das minhas palavras. A dor na voz dela foi quase palpável, mas a dureza que ela tentava manter não escondia o sofrimento.
— Haphel! — Ela respondeu, um soluço contido entre as palavras. — Prometi te manter segura, e como sua mãe, é isto que farei. Não quero te perder também, como perdi o seu pai!
Como se fosse tão simples assim... Eu sabia que a dor dela era real, mas a sensação de ser uma vítima o tempo todo estava me sufocando.
— Então me deixe ser livre. — Ameacei desligar o celular, meu dedo já pressionando o botão. Mas antes que pudesse, um som quebrado, algo como vidro se estilhaçando, cortou o ar da ligação. A tensão se enrijeceu dentro de mim. Em seguida, um uivo profundo e rosnados assustadores ecoaram, deixando um calafrio na minha espinha. — Mãe? O que houve?
Houve um segundo de silêncio, e tudo o que eu consegui ouvir foi a respiração pesada dela, quase ofegante, o som carregado de pavor.
— Mamãe? — Chamei, minha voz tremendo com a crescente ansiedade.
Ela suspirou pesadamente, o som de fundo parecia cada vez mais distante, e minha cabeça rodava tentando entender o que estava acontecendo.
— Droga, eles nos acharam. — Sua voz estava baixa, quase como um sussurro. Mas havia pânico ali, um medo de que eu jamais imaginei ouvir vindo dela. — Haphel, me escute, não volte para casa.
Não volta para casa? O quê? O meu corpo gelou, uma sensação de frio subindo pela minha espinha, as pernas trêmulas enquanto a adrenalina me invadia. Eu sabia que algo estava muito errado.
— O que? — Franzi o cenho, sem entender. A tensão na minha garganta parecia quase insuportável. — Do que a senhora está falando? Quem nos achou?
Antes que ela pudesse responder, um rugido monstruoso rompeu da ligação, tão profundo que pareceu atravessar o telefone. Eu quase caí para trás ao ouvir aquele som, uma sensação de pavor invadindo meu corpo inteiro.
Eu podia ouvir minha mãe gritar, e logo em seguida, uma série de sons de luta, gritos de dor que ecoaram pela linha, fazendo minha garganta se apertar. O ar parecia ter sumido de repente.
— Mãe? Mãe? Fala comigo. — Insisti, a voz falhando enquanto meu corpo se encolhia de medo. — Eu estou chegando, mãe... Por favor, responda.
— Ha...phel... — Sua voz estava fraca, como se estivesse sufocada. A cada palavra, a dor dela se espalhava por mim. — Não volte... Fuja... você precisa fugir.
Um estalo alto ecoou no ambiente, o silêncio foi total, e eu quase podia ouvir o meu coração disparando. Minhas mãos tremiam, meu corpo congelou, esperando algo. Então, uma respiração pesada invadiu a linha, e eu quase podia jurar que eram rosnados, um som profundo e ameaçador que me fez estremecer:
— Você será a próxima, Princesa. — A voz do outro lado era sombria, maligna, uma ameaça real que fez um arrepio percorrer minha espinha.
Quem ou que era aquilo?