Aproveitei o horário de almoço como se estivesse fugindo de um crime. Convencer Max de que eu e Clara só queríamos um tempo “de meninas” foi mais difícil do que admitir que eu podia estar grávida — e olha que essa parte também estava me matando por dentro.
Ele me olhou com aquela desconfiança silenciosa, como se soubesse que eu escondia algo. Mas no fim cedeu, não sem antes me lembrar três vezes de mandar mensagem, ligar se precisasse e avisar quando estivesse voltando.
Max, sendo Max.
— Ufa, missão quase impossível — suspirei, soltando o ar só depois que o portão da casa ficou pra trás.
— Não sei como você aguenta &mdas
A agulha saiu do meu braço e eu nem percebi. Estava longe dali, presa numa imagem que nem existia de verdade — ainda. Max segurando a minha cintura, ajoelhado na minha frente, com aquele olhar intenso, protetor. Uma mão firme na minha barriga, a outra entrelaçada na minha.— Prontinho — a enfermeira anunciou, cobrindo o local da coleta com um curativo pequeno de bolinhas coloridas. — O resultado sai no fim da tarde. Podemos mandar por e-mail, se preferir.— Por favor — murmurei, tentando sorrir. — Muito obrigada.Voltei à recepção e Clara se levantou na mesma hora, vindo até mim com os olhos cheios de expectativa silenciosa.— E aí? O elevador subiu devagar, como se soubesse que eu estava com pressa. Revirei os olhos para o próprio reflexo nas portas espelhadas e respirei fundo. Já de volta ao prédio da empresa, com a fachada toda imponente e aquele friozinho na barriga voltando a se manifestar — agora menos por causa do exame e mais porque eu sabia que o meu namorado dramático ia fazer um verdadeiro show por eu ter almoçado sem ele.Assim que as portas se abriram, fui direto para o andar da presidência. Caminhei com passos firmes até a sala dele, ignorando o burburinho normal do ambiente e o olhar cúmplice da recepcionista, que claramente sabia que Max estava... bem, sendo Max.Abri a porta sem bater, como já era de costume, e o encontrei na cadeira, reclinado, braços cruzados, boca fechada e expressão ofend17.2 - Viúvo e traído
No carro, enquanto Max dirigia com uma mão no volante e a outra descansando sobre a minha coxa, o silêncio confortável entre nós dizia mais do que qualquer conversa. O céu começava a escurecer, tingido por tons dourados e rosados, como se o dia estivesse se despedindo com delicadeza.Ele apertou de leve minha perna, e olhou de canto, com um sorriso preguiçoso nos lábios.— Tô com raiva desse fim de semana — resmungou. — Mas pelo menos vou dormir hoje com você... na nossa cama.Olhei pra ele, sentindo o calor subir pelo peito.— “Nossa cama”, é?— “Nossa casa”, na verdade — corrigiu, com aquela
Acordei com o vazio ao meu lado gritando mais alto que o despertador. O lençol ainda guardava o cheiro dele, o travesseiro amassado denunciava onde ele dormiu, e por um instante, fechei os olhos de novo só pra fingir que ele ainda estava aqui.Suspirei, puxando o ar com preguiça e tristeza. Era sábado, e mesmo sabendo que ele voltaria em poucos dias, parecia que tinham me arrancado um pedaço.Levantei devagar, os pés tocando o chão frio enquanto meus pensamentos ainda tentavam se reorganizar. Fui até o banheiro, me despi com calma, e deixei a água quente cair sobre mim. Queria lavar a saudade, a ansiedade, e a dúvida que ainda martelava no fundo do meu peito: será que eu realmente estava grávida?Depois do banho, me enrolei na toalha
Quando o celular vibrou, eu estava no meio da sala, com a vassoura ainda na mão, tentando terminar a faxina. Não era a melhor forma de lidar com a falta de Max, mas funcionava. Eu me afastei de onde estava, rapidamente pegando o telefone, sem olhar antes de atender. Quando vi que era ele, senti um alívio imediato, como se a saudade que me apertava o peito fosse suavizada só por ouvir sua voz.— Oi, amor — falei, com um sorriso sem querer, me encostando na parede.— Ei, amor — ele respondeu, e a voz dele tinha uma leveza que me fez respirar mais fundo. — Como você está?O fato de ele me perguntar isso, sem nem saber o que eu estava fazendo, me fez rir baixinho.— Bem. Fazendo o que posso para pas
Mesmo sendo domingo, a sede da empresa estava longe de parecer um prédio em descanso. As luzes estavam acesas em todos os andares principais, gente entrando e saindo, ligações tocando mais do que deveriam. E eu… bom, eu estava no meio disso tudo, com uma xícara de café na mão, os cabelos presos em um coque apressado e duas abas de planilhas abertas no computador.Max havia mandado uma lista de tarefas ainda de madrugada — algumas urgentes, outras nem tanto, mas todas com aquela marca registrada dele: eficiência máxima, sem perder o charme do caos.— Charlotte, consegui os arquivos da filial — gritou Becca, a assistente do setor jurídico, atravessando a sala com um tablet em mãos.— Ótimo, coloca na pasta que co
O dia foi longo.Mesmo sendo domingo, mesmo com o prédio praticamente vazio, o andar da presidência fervia com a minha dedicação — e as mensagens do Max. Eu entendia. Ele confiava em mim. Queria tudo resolvido, detalhado, perfeito, e eu não ia decepcioná-lo. Não quando ele confiava a mim o que normalmente só passava pelas mãos dele.Terminei os últimos relatórios, conferi os e-mails, respondi o que era urgente e agendei o restante. Era quase noite quando fechei o notebook e me espreguicei na cadeira dele, como se meu corpo só ali percebesse o cansaço.Peguei minha bolsa, tranquei a sala e andei em silêncio pelos corredores frios. O elevador desceu devagar, como se até ele estivesse cansado do domingo. E quand
As palavras continuavam ali, cravadas na tela do meu celular, como se tivessem vida própria:"Confirmação de gravidez: Positivo."Segurei o aparelho com as duas mãos, os olhos marejando tão rápido que a tela começou a ficar embaçada. Pisquei várias vezes, tentando manter o foco, mas a emoção era maior. Escapava de dentro de mim como uma onda descontrolada.Chorei.Primeiro em silêncio. Um soluço abafado, quase incrédulo. E então veio o resto — o riso entrecortado pelas lágrimas, as mãos cobrindo a boca, o peito apertado de felicidade.Era real.Eu estava grávida.