Na verdade, não era que a família não pudesse criar a menina. Eles simplesmente queriam ter um filho homem.
Devido à rígida política de controle de natalidade vigente na época, seriam severamente multados caso tivessem mais de um filho e, incapazes de arcar com essa penalidade, optaram por deixar a pequena sob os cuidados dos avós.
A criança jamais chegou a ter documentos oficiais. Era considerada uma filha excedente, nascida fora da cota permitida pelo governo. Para registrá-la legalmente, seria necessário pagar uma taxa substancial, mas a família alegava não ter recursos para isso ou, mais provavelmente, não julgava que valia a pena investir numa menina.
Era apenas mais uma boca para alimentar, um fardo desnecessário na visão da tia.
Os vizinhos frequentemente comentavam sobre os maus-tratos. A tia batia na sobrinha por qualquer motivo, xingava-a e muitas vezes a deixava passar fome como castigo.
E quanto aos avós? Não tinham coragem suficiente para defendê-la, temerosos de desagr