III- AURORA

Não sabia o motivo que aquele homem olhou para mim, assim, havia pedido ajuda a outras e outros que apenas ignoraram, mas este parou. — Desejo água para a minha senhora. — Foi o que eu disse, inclinando com a cabeça na direção deles para ele, que os olhou e assentiu. — Água? — Afirmei, ele passou a minha frente, eu o segui, andamos pela estação até que chegarmos aos fundos de um lugar com grade. — Aqui tem água? — Perguntei e vi quando riu de maneira estranha, ele parecia zombar, mas como eu poderia voltar?

— Aqui não se dá água, senhorita, sua senhora deve ter ficado entediada, pelo menos deu-lhe dinheiro? — Neguei, quando ele entrou no lugar, escuro, parecia ser um quarto, mas não tinha cama. — Entre! — Abriu a mão para eu fazer o que ele disse. Neguei, dei um passo para trás, quando o mesmo colocou o braço a minha frente. — Não aconselharia que uma moça tão... — Seus olhos desceram ao decote do vestido, tive raiva, já não bastava o senhor da casa?

— Acabou de dizer que não dá água aqui? O que pensas que sou? Uma tola? — Arqueou a sobrancelha negra grossa ao me ouvir, de fato, sim, eu sou tão tola que o segui. Ao erguer a sua mão recuei, recuei até que senti a parede em mim. — Tola, és muito tola, não tem muito tempo na cidade, tem? — Neguei, neguei ao sentir o avanço sobre mim. A sua mão tocou o meu rosto, era as costas da mão dando para sentir o seu pelo nela, e até mesmo as linhas dos dedos.

 Fechei os olhos, ao sentir medo, até que da mão senti o seu bigode, abri os olhos e seus olhos negros estavam nos meus. — És muito bonita, para andar por aí sem companhia, senhorita. — Tive medo, mais medo quando a sua boca abriu abocanhando o meu queixo, o chupou sem parar, até que engolia os meus lábios. Dava calor a sua aproximação, ao sentir a sua mão em minha nuca, aqueceu ainda mais, até que ele forçou com a sua língua que invadiu a minha boca.

Não tinha ideia do que tentava, mas a sua língua lutava sobre a minha, a sua outra mão passou a caminhar pelo meu corpo, a medida que ela deslizava sobre o tecido, encolhi-me. — Me deixe senti-la. — Neguei, ele já sentia muito de mim, muito, tudo aquilo mesmo desconhecido eu sabia ser errado. Foi naquele momento que lhe empurrei, o empurrei para longe de mim. — Não! — Gritei, gritei para o homem que perdeu o chapéu, mas logo veio até mim. — Não! Não se aproxime!

 — Não grite! Seremos presos. — O que ele poderia estar dizendo, mas colocou a mão em minha boca, era forte, alto, cabelos na altura das orelhas, além de negros cacheados, arrastou-me para dentro do quadrado. — Quem está aí? Quem está aí? — Tentei mordê-lo, mas a mão era maior que a minha boca, ao ver perder a luta, cobriu a minha boca com a sua, ali mesmo naquele lugar escuro, sua boca foi da minha boca aos meus seios, abriu o cordão apenas com uma mão, e com muito jeito fez a minha boca encher de saliva.

Ele o abocanhou de um a um, enquanto eu lhe olhava sem fazer mais nada, pior que aquilo me deu sensações desconhecidas ao ponto que quando ele soltou a minha boca, eu não gritei mais, nem reagi, apenas ofeguei. Da mesma maneira que desatou, o fechou novamente. — Eu espero vê-la novamente, senhorita, e só para saber tem belos seios. — Suspirei fundo quando me vi vestida, o calor que tomou a minha barriga, ali entre as minhas pernas até a altura do meu estômago, era diferente.

 Ao pegar na minha mão, saímos daquele lugar, e ao chegar a claridade, ele desapareceu, fiquei ali desorientada de um lado a outro, não sabia o que ou a quem procurar, de fato meus olhos queria ver aquele homem novamente, mas não o vi, no mesmo lugar de antes avistei o meu senhor de pé, olhando de um lado a outro, andei até a direção deles. — Ah, Aurora onde esteve? — A senhora perguntou com uma voz fresca, bem calma e baixa, parecia uma fada de tal maneira, mas já lhe conhecia de casa, sabia de perto o quão forte e alto ela pode falar.

— Não encontrei água, senhora, aqui não dá água. — Seus olhos me olharam de cima a baixo. — Onde esteve Aurora, você... você esta... — Parou quando o apito ressoou alto, olhei para os meus seios, não sabia que neles podia sentir algo tão, tão... desconhecido e incontrolável, mas senti, arrumei o vestido, passei a mão em meu cabelo, sobre aquele estranho nunca mais soube nada, o que ele havia feito comigo?

Tanto a senhora Margarida, como o senhor caminharam para perto do trem, pessoas desciam, algumas eram recebidas, outras saiam como se conhecesse tudo aquilo, mas de repente tudo ficou tão... tão diferente, era como se de fato, houvesse um nascer do sol em meio a escuridão, naquele trem desceu uma jovem de cabelos loiros tão alvos, olhos azuis, pele tão branca tão limpa, que talvez os anjos perdessem para ela.

 O sorriso em sua boca alargou-se, estando na casa branca a um mês, eu nunca havia visto vestido tão belo como o seu, rosa com flores em tom rosas mais escuros, lindo tal como ela, de luva branca nas mãos. — Filha, minha filha querida e amada! — Era a primeira vez que eu vi o senhor sorri, era largo o seu sorriso como o dela, o da jovem, a senhora Margarida apenas esperou, enquanto o senhor no longo abraço pegou a jovem nos braços, ergueu para cima dele, lhe levantou no ar como uma bailarina.

— Alfred, Alfred pare, todos olham, irá envergonhar a nossa princesa.

— Mamãe, oh, mamãe, eu não me importo com o que pensam e a senhora sabe bem disso. — Quando ele lhe desceu do ar, ela foi para os braços da senhora que mal a tocou nas costas, era estranho, mas nunca entenderia a vida deles, tampouco os seus sentimentos, haviam dias em que o senhor dormia num quarto longe dela, e nem por isso ninguém na casa questionava, os meus pais nunca dormiram separados, por isso suspeitei que o mal deles, era não haver nem cama, e nem espaço de sobra em casa para se dá a tal luxo.

 Pobre pai, pobre mamãe, em um mês nunca mais soube nada deles. — Olha, olha querida, arrumei uma acompanhante para você, para que a mande para onde quiser, faça o que quiser. — Sorri para aquela jovem, era mais que uma prece, ela tá linda como um anjo que eu tive certeza que daria o meu melhor para a mesma, por garantia que por não ofendê-la iria para o céu, era como se fosse uma obra de arte, feita pelo próprio Deus.

Com o sorriso largo na boca, esperei algo, que foi um olhar, ela me olhou, e logo o meu coração acelerou em muitas batidas. — Ao menos sabe ler? — Assenti, ajoelhei-me a sua frente, toquei no seu pé, como me foi ensinado. — Sim, senhorinha, estarei ao seu dispor, a qualquer dia, momento e hora que desejar. — Mas a minha submissão se transformou num riso. — Ah, o que é isso? Em que ano acha que esta? Que século?

A jovem de vestido rosa, deu-me as costas, virou-se caminhando, e como eu, a sua mãe foram largadas ao vento, sua atenção maior era única, seu pai. — Vá, vá, ajude com as bagagens da sua senhora. — Era o meu dever, dá o meu melhor, ajudando os carregadores, peguei seis malas da minha jovem patroa. A chegada dela ofuscará tudo que eu senti com aquele estranho que eu nem sabia o nome, alguns flashs dele passando a sua boca em meu queixo, fazendo um trilho de beijos em meu pescoço, vieram algumas vezes em minha cabeça.

Mas olhando para a fila de criados, para quem eu iria perguntar o que estava sentindo? — Aurora a partir de hoje sua missão é apenas servir a senhorinha, nada além que isso, obedeça a todos os seus pedidos e recados, tudo que ela lhe disse em confidencialidade, será segredo entre ambas, não deve sobre hipótese nenhuma ser revelado a ninguém. — Engoli em seco, a lista que ganhei em um mês de serviço, pensei que seria diminuída.

Mas ela simplesmente sumiu, toda e qualquer lista, resumiu-se a senhorinha. Aquela nobre e bela garota que é bela andando, sorrindo, falando, acenando, sim, a mim, foi dada a missão de servi-la, de agradá-la e guardar todos os segredos sobre ela, tudo que me contasse seria confidencial. Nos primeiros dias, tudo era tão comum, quando eu acordava, ela demorava duas ou três horas para acordar, a primeira missão do dia, era recolher seu xixi.

 Trocar seus lençóis, depois ajudar a vesti-la, havia tantas roupas, que o importante era vesti-la e não contar, a vantagem com a sua chegada era o que os livros tornaram-se algo de acesso livre, não para mim, evidente que não, mas todos que ela lia, eu também, em segredo. A senhorinha após o café da manhã sentava-se no piano, e foi vendo o seu mestre lhe ensinar que eu aprendi, a tocar aquele instrumento magnifico, com uma cauda retumbante, destacando-se na grande sala.

 

[...]

 Quatro anos passou-se diante dos meus olhos, quando ela fez vinte, eu completei dezenove. Apesar de ser diferentes as comemorações, para a dela a sua mãe enviou convite para grandes pessoas para la prestigia, a sala na primeira manhã antes ao seu aniversário ficou cheia de presentes, flores. Eu não vi tantas vantagens em receber tantas flores, sei que ela mal irá analisar cada uma delas, os presentes, os mais valiosos irá ficar, os menos serão guardados no sótão, podem haver alguma serventia no amanhã.

 Enquanto para mim, lendo e relendo livros descobri que o aniversário não era uma data importante, exceto pelo envelhecimento, sem ele não era possível saber quantos anos temos de vida, é como cronometrar para a chegada da morte, ainda assim tudo que eu queria, era fechar os meus olhos e voltar àquele momento em que meu pai me perguntou se eu poderia aceitar tal proposta, o trabalho nunca acabava, as manhãs começavam mais cedo, e terminavam tão tarde, além de ninguém enxergar a criadagem.

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