POV Orion
Ela disse que estaríamos prontos. E aquilo… me desmontou por dentro, porque ela acreditava em mim.''Acabe logo com isso.'' Rugiu Dark em minha mente, ja perdendo a paciencia, meu lobo ja não estava conversando muito comigo.
Nyvie não fazia ideia do quanto suas palavras eram uma promessa que eu não merecia. Seu toque suave no meu braço, a firmeza nos olhos verdes que encaravam a ameaça lá fora como se fossem capazes de enfrentá-la sozinhos… tudo nela era luz, coragem e ingenuidade. E eu? Eu era uma mentira. Minha mandíbula travou. Senti o gosto amargo da culpa escorrer pela garganta. Ela não sabia. Ainda não. Mas em breve, toda essa confiança que ela colocava em mim se tornaria veneno. Ela se virou para verificar se Robert estava bem. Eu aproveitei para respirar fundo e conter meu lobo, que rugia em frustração dentro de mim. Ele queria protegê-la. Sentia a conexão como se fosse real. Dark era impulsivo e estava furioso por estarmos mentindo pra ela. Mas não era real a conexão… não devia ser. O feitiço que lancei semanas antes, ainda fora da matilha, com a ajuda dos bruxos, tinha sido preciso. Uma magia antiga, que seduz e atrai, como o canto de uma sereia. Foi criada para prender a loba certa — a que carregasse a linhagem primitiva que os renegados queriam, mas quem realmente a queria, era meu pai... e eu fazia parte disso. A força adormecida no sangue dela era mais antiga que qualquer alfa vivo. A herança de uma linhagem que não devia mais existir. Um poder que, nas mãos certas, traria equilíbrio. Mas nas erradas… destruição, e esse era o caso do meu pai. Ele me enviou por isso. Para encontrá-la e usá-la. Quebrar as barreiras da linhagem com o vínculo falso de um “companheiro destinado”, eu teria que fazer ela acreditar que éramos feito um pro outro, almas gêmeas, mesmo antes que ela completasse os 18 anos pra realmente sentir o vínculo. Mas ninguém me avisou o que aconteceria quando eu realmente a conhecesse. Ninguém previu que minha alma e meu lobo — e não só minha magia — fossem ser atraidos pra perto dela como se já a conhecessem há mil anos. — Orion? — a voz dela me chamou de volta, suave e firme. — Robert está melhor. Acho que precisamos encontrar um lugar seguro agora, antes que eles voltem. Assenti, tentando manter o olhar neutro. — Conheço um lugar. Um refúgio antigo, na floresta. A escola vai ser evacuada, os professores não vão conseguir segurar isso por muito tempo. Ela hesitou por um segundo, então concordou com a cabeça. Saímos pelos fundos da escola, cortando por uma trilha escondida entre as árvores. Eu sentia o lobo observando. O de olhos vermelhos. Ele ainda estava ali, mas não nos seguiu. Ainda não. Caminhamos por minutos em silêncio, até chegarmos a uma clareira escondida por raízes grossas e pedras altas, cobertas por musgo. Um local que os mais antigos chamavam de Sussurro da Lua, onde os lobos mais conectados conseguiam ouvir as vozes dos seus antepassados. Ela se sentou em uma pedra, cansada, os cabelos grudados na testa pela adrenalina e Robert foi encontrar um local pra poder usar o banheiro, ou melhor, algum arbusto. E mesmo ali, ofegante, com medo, ela sorriu pra mim. — Você parece sempre saber pra onde ir — ela comentou. — Como se já conhecesse tudo. — Talvez porque já estive em lugares parecidos — respondi, desviando o olhar. — Orion… — ela disse, com a voz mais baixa — quem é você, de verdade? Meu sangue gelou nessa hora. A pergunta que eu temia. O começo da minha queda. — Eu sou alguém que… — engoli em seco — que está mais preso a você do que deveria. Ela franziu o cenho, mas não recuou. Só se aproximou mais. — Eu sinto isso também. Como se… fôssemos feitos um para o outro. É loucura, né? Sim. Era. E a pior parte? No fundo, Dark queria desesperadamente que fosse verdade. Mas o tempo estava correndo. Os renegados logo fariam seu movimento. E eu ainda precisava cumprir minha missão. Mesmo que, ao final dela, eu perdesse o que nunca deveria ter tocado. Nyvie. A loba que nasceu para mudar tudo… e que, sem saber, estava sendo usada por mim. E mesmo assim, ao vê-la ali, sorrindo… tudo o que eu queria era protegê-la do próprio destino que eu ajudei a tecer. — Me perdoa, pequena… um dia, você vai entender...