POV Nyvie

O toque de Orion no meu pulso foi firme, quente. Quase… protetor. Por um instante, tudo parou. A correria, os gritos, os cheiros misturados. Tudo ficou em segundo plano quando olhei nos olhos dele. Havia algo ali. Não era medo. Era alerta pro que estava por vir.

E isso me assustou mais do que o grito que ecoou segundos antes.

Saímos do refeitório juntos, empurrando os corpos assustados que lotavam o corredor. O cheiro amargo que senti antes parecia seguir um rastro. Comecei a tremer sem perceber, mas me mantive firme.

— O que está acontecendo? — perguntei a ele, mesmo sabendo que a resposta talvez não viesse.

— Não sei ainda… — ele respondeu com a mandíbula cerrada, mas seus olhos diziam o contrário. Ele sabia. Sabia que algo nos caçava. E, de algum jeito, estava ligado a ele.

Seguimos o cheiro e o caos até o hall principal. Haviam marcas no chão. Como garras… ou algo arrastado. Os alunos estavam sendo retirados às pressas pelos professores, mas nem todos conseguiram. Alguns estavam paralisados.

Inclusive Robert.

Ele estava parado no meio do corredor, ofegante, os olhos arregalados, olhando para… o nada.

Corri até ele, me ajoelhei e segurei seu rosto com as duas mãos.

— Robert! Ei, olha pra mim! Você está bem?

Ele piscou devagar, como se estivesse despertando de um pesadelo. As pupilas estavam dilatadas, o rosto pálido.

— Nyv… eles estão aqui. Eu os vi. Nos olhos de um dos guardas. Ele não era mais ele. Tinha algo dentro dele… sombrio. Como se estivesse possuído.

— Magia negra. — a voz de Orion veio logo atrás, baixa e tensa.

Me virei para ele, sentindo um calafrio na espinha.

— Você conhece isso, não conhece? — perguntei. Não como uma acusação. Como uma certeza, eu sentia algo vindo dele.

Orion me encarou por um longo momento. Sua expressão era de quem carregava um fardo pesado demais, que mal estava suportando.

— Eles estão atrás de mim… — disse enfim. — E agora, sabem que você está perto de mim.

O silêncio que se seguiu foi mais assustador que qualquer grito. Meu coração batia acelerado, mas minha mente ainda tentava entender o que ele estava dizendo.

— Quem são eles, Orion? E o que eles querem?

— Renegados... corrompidos. Eles não seguem mais a Deusa da Lua. Usam magia antiga, proibida. Estão atrás de um sangue específico. Um tipo de linhagem… e por isso me querem.

Eu sentia que ele estava escondendo algo, mas ainda não sabia o que era.

— E o que isso tem a ver comigo?

Ele respirou fundo. E então, pela primeira vez, falou com honestidade total.

— Porque quando te senti, meu lobo reconheceu o seu. E isso... nos liga. Se eles me caçam, agora caçam você também.

Fiquei paralisada. Meu lobo rugiu dentro de mim, como se já soubesse. Como se, no fundo, eu sempre soubesse que algo maior estava para acontecer.

De repente, gritos vindos de fora nos fizeram correr para a janela. Lá fora, na entrada da escola… havia um lobo negro de olhos vermelhos. Grande. Intenso. E parado. Observando.

Não avançava. Apenas nos observava.

Orion rosnou baixo, seu corpo começando a tremer. Era o prelúdio de uma transformação.

— Ele está me desafiando. — ele disse, os olhos começando a brilhar em âmbar e vermelho, provavelmente ele já tinha recebido seu lobo e podia se transformar.

— Está dizendo que sabe onde estamos. Que essa foi só a primeira visita.

Olhei para a criatura lá fora, sentindo meu peito arder de medo e fúria. Ela me lembrava de todo o mal que os renegados como ele fizeram com meu pai, até ele perder a vida em batalha. Eu não deixaria ninguém ferir meus amigos. Não deixaria que me afastassem de Orion antes que eu entendesse o que éramos e qual era nossa ligação.

Respirei fundo e me aproximei dele, tocando seu braço.

— Se ele voltar… vamos estar prontos.

Ele me olhou como se aquilo fosse tudo o que precisava ouvir.

E naquele momento, eu soube: a tempestade havia chegado até nós.