POV Orion
A presença dela à minha frente tornava impossível focar em qualquer outra coisa. A bandeja de comida parecia invisível. O burburinho ao nosso redor, os sussurros e os olhares atravessados? Todos se dissolviam em segundo plano. Era só ela. Nyvie. Ela falava sobre a escola, sobre o retorno das aulas, e sobre como a professora de Biologia sempre deixava no ar, um ar de mistério, sobre como sua mãe era uma excelente médica na alcatéia e a forma cruel que mataram seu pai em um confronto de guerreiros com renegados, devido a sua bravura o Alfa até fez uma estátua na alcatéia em sua homenagem, de um lobo lutando bravamente contra outro, eu já tinha presenciado essa estátua quando cheguei na alcatéia. Fica bem na Praça Central. Na parte de baixo dela, tem uma homenagem escrita pelo próprio Alfa, que foi empalada na madeira da estátua, contando tudo sobre o nobre Beta que o serviu por tantos anos e que acabou dando sua vida pra proteger toda a alcatéia. Eu tentava absorver as palavras, mas o som da voz dela era como um feitiço, suave e envolvente, e por dentro meu lobo continuava inquieto, como se tentasse romper as paredes do meu autocontrole. — Você está me ouvindo? — ela perguntou, com um meio sorriso nos lábios. — Sim. — menti. Mal sabia o que ela tinha dito, mas não queria perder a chance de ficar perto. Ela inclinou a cabeça, desconfiada. Aquela expressão cética e divertida ao mesmo tempo mexeu comigo. Como se ela já tivesse sacado que eu estava fugindo de algo, mas ainda assim decidisse me dar espaço. — Você é um mistério, Orion. — ela disse, mordendo um pedaço da maçã. "Se você soubesse o tamanho do mistério..." pensei. Fiquei em silêncio por alguns segundos, então soltei, quase sem pensar: — Você já teve a sensação de que tudo estava prestes a mudar, mas não sabia se era por algo bom... ou perigoso? Ela me olhou de um jeito diferente dessa vez. Os olhos verdes dela brilharam sob a luz fraca do refeitório, intensos e carregados de algo que eu não sabia decifrar. Talvez ela também estivesse sentindo. — Sim... — respondeu baixo. — Já senti. Ultimamente tenho sentido muito. E foi aí que entendi. Ela também estava ouvindo o chamado do lobo. Mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, o ar no refeitório mudou. Literalmente. Um cheiro forte invadiu o ambiente. Amargo. Quente. Quase podre. Um cheiro que minha pele reconheceu antes mesmo da minha mente entender. Sangue e magia negra. Olhei em volta e vi os olhares curiosos se tornarem confusos. Alguns lobos, principalmente os mais novos, começaram a se encolher, instintivamente. Nyvie também sentiu. Eu vi os pelos de seus braços se arrepiarem. — Você sente isso? — ela sussurrou, largando a maçã. — Sim. — minha voz saiu em tom baixo e grave, mais lobo do que humano. Foi aí que escutamos o primeiro grito. Vinha do corredor principal. Todos se levantaram. O refeitório virou caos em segundos. Os professores tentavam manter a ordem, mas a agitação era inevitável. Nyvie estava prestes a sair correndo, mas segurei seu pulso. — Espere. Não vá sozinha. Ela me olhou surpresa. Não pela frase, mas pela intensidade do meu toque. O meu lobo rugiu por dentro, querendo protegê-la, mesmo sem saber o que estava acontecendo. E quando saímos do refeitório juntos, lado a lado, a certeza caiu sobre mim como um raio: Eles nos encontraram.