Capítulo 3 – Ecos da Névoa

Eros

A escuridão da noite parecia mais espessa além dos muros de Thariel. Eros caminhava entre as árvores com passos leves, treinados para não ecoarem. Mesmo agora, longe de olhares, não confiava em falar alto. Desde que deixara o quartel da Névoa, aprendera a desconfiar até do som do próprio nome.

Ele não era um soldado comum. Desde pequeno fora escolhido para a Guarda Velada — uma vertente secreta da Névoa que estudava magia esquecida, artefatos proibidos e registros da antiga linhagem. Ainda jovem, aprendera a suprimir pensamentos, mascarar memórias e apagar rastros. Mas havia limites até para o que o medo podia ensinar.

Eros fora treinado para caçar usuários da velha magia. No entanto, quanto mais estudava os fragmentos da história suprimida, mais perguntas surgiam. Por que tamanha obsessão em apagar tudo da memória coletiva? Por que a Nova Era temia tanto o passado?

E então, ele sonhou. Com uma mulher de olhos dourados e cabelos como fogo, cercada por símbolos elementares e muralhas de pedra viva. Ela gritava, mas o som não saía. O nome "Oriana" surgia como fogo entre as sombras. Acordou em pânico. Desde então, ouvira esse nome como um sussurro constante, vindo de todos os cantos da floresta, do vento, da água, até mesmo do silêncio.

Os registros que acessara em segredo apontavam Thariel como uma das últimas regiões ligadas diretamente à soberana esquecida. Eros sabia que estava sendo vigiado, mesmo ali. Por isso, disfarçara-se como mensageiro. Por isso evitava os soldados da Névoa. Mas era mais que medo. Era fé — ou o que mais se aproximava disso.

Encontrar "Aquela Ruiva" não estava nos planos. Ao olhar em seus olhos, algo dentro dele silenciou — como se o mundo tivesse prendido a respiração. Havia nela uma chama contida, prestes a romper os limites do mundo que a aprisionava. Quando ele a encarou fixamente, um nome pulsou com força.

Oriana.

Agora, caminhando de volta à vila, sentia o peso do encontro. Havia algo nela que rebatia contra tudo o que lhe ensinaram. Não era apenas poder. Era verdade.

Eros parou diante de uma árvore partida, marcada com símbolos antigos. Retirou o caderno e desenhou um deles — o mesmo da rocha cerimonial. E abaixo dele, escreveu: “Ela lembra.”

Evelin

A noite não trouxe paz. Evelin permaneceu sob a árvore espiralada, como fizera na infância, quando a avó contava histórias sobre os guardiões do equilíbrio. Só que agora não havia voz suave nem chá de raízes para aquecer as mãos. Apenas o frio da memória que teimava em renascer.

Eros.

O nome ecoava como tambor distante em seu peito. Ele falara de sonhos. De Oriana. Ninguém lembrava desse nome. Ninguém, exceto ela. E agora ele. A coincidência era improvável demais.

Havia algo nele que escapava da compreensão — como se os elementos o reconhecessem. O vento mudava de direção em sua presença. As folhas cochichavam. E, por um instante, quando ele tocou o símbolo de Oriana, Evelin sentiu como se o tempo hesitasse.

Ela levantou-se e seguiu para a clareira. Precisava ver, sentir, invocar. Ajoelhou-se entre raízes e pedras, fechou os olhos e deixou o poder fluir. A água emergiu em redemoinhos suaves ao seu redor. O fogo brilhou sob seus dedos. O vento dançou com seu cabelo. A terra pulsou sob seus joelhos.

Todos os elementos. Todos, ao mesmo tempo.

Oriana... será?

Abriu os olhos. O céu estava límpido, mas Evelin sentia a tempestade se aproximar — não nos céus, mas na estrutura do mundo. Algo havia mudado. Com a chegada de Eros, com a palavra dita em voz alta.

E isso era tão reconfortante quanto perigoso.

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