Theo

O motor do meu Aston Martin roncava baixo enquanto eu acelerava pelas estradas vazias de Ferranopólis como um aviso de que o dia mal começou e eu já estava ferrado. O volante parecia pequeno demais entre minhas mãos, como se tudo à minha volta estivesse comprimido, pressionando meus pensamentos... que giravam, invariavelmente, ao redor de uma única pessoa.

Clara.

Eu estava indo para a casa dela. Sete da manhã. Um horário idiota para qualquer ser humano estar de pé voluntariamente, especialmente numa segunda-feira. Mas ali estava eu, acelerando pelas ruas ainda silenciosas da cidade, completamente desperto desde às seis. Na verdade, eu mal dormi.

Tentei. Juro que tentei. Mas tudo o que conseguia ver era o rosto dela, iluminado pelas luzes coloridas do festival, e logo depois... ofegante, entregue, presa ao meu corpo naquele beco entre as barracas. A cena repetia-se em looping na minha mente, como um vício. A forma como ela disse meu nome. Como cravou os dedos nas minhas costas. Co