Rodrigo
Querem saber o que me fez mudar? O que fez o delegado frio e racional perder o chão? Então senta, porque essa história não começa com heroísmo… mas com tragédia. Era um dia comum na delegacia. Café quente na mesa, relatórios sobre a mesa e o silêncio típico das manhãs de segunda-feira. Até o telefone tocar. — Delegado Rodrigo? É sobre o seu sobrinho e o seu cunhado... houve um acidente... O tempo parou. Minha respiração travou e meu coração... bom, esse já sabia o que vinha. Levantei num salto, largando tudo. Dirigi feito um louco até o local indicado, cada segundo uma eternidade. Quando cheguei e vi o carro completamente destruído, meu mundo caiu. Não precisei de laudo técnico. Aquilo era uma sentença. Me ajoelhei no asfalto ainda úmido da madrugada anterior, olhos arregalados e mãos tremendo. As sirenes ao fundo, os bombeiros tentando manter a ordem... mas dentro de mim, tudo era caos. — Não pode ser... não ele, não meu menino! Meu sobrinho. Meu anjinho de sorriso fácil. Meu parceiro de pescarias, partidas de videogame, tardes no parque. Eu o amava como se fosse meu filho. E agora… eu o perdera. Junto com o pai, meu cunhado. O homem que amava minha irmã com todo o coração. Meus colegas tentavam me consolar, mas as palavras sumiam no barulho dos meus próprios pensamentos. Só conseguia pensar em uma coisa: minha irmã. Como eu iria contar? Como alguém encara uma mãe e diz que ela perdeu o filho e o marido no mesmo dia? Dirigi até a casa da Brianna ao abrir a porta e me ver, olhos inchados e a alma morta, ela entendeu sem que eu precisasse abrir a boca. Ela cobriu o rosto com as mãos e chorou em silêncio. Não tive forças para impedi-la. Ela amava aquele menino como um neto. Subi as escadas com o coração na garganta. Quando entrei no quarto da minha irmã, ela estava lendo calmamente, totalmente alheia à tempestade que se aproximava. Levantou os olhos e sorriu. — Rodrigo, aconteceu alguma coisa? — Sim… — Minha voz saiu falhada. — É o… o Richard... o Pedro… Antes que eu pudesse concluir, ela desabou. Seus olhos reviraram, o corpo perdeu força, e desmaiou nos meus braços. Foi um desespero silencioso. A partir daquele instante, ela deixou de ser a mulher forte que eu conhecia e passou a ser apenas... uma mãe devastada. Tive que tomar conta de tudo: hospital, funerária, velório. Minha noiva Vivienne foi meu porto seguro. Ela não me deixou um minuto sequer. — Você não está sozinho, amor. Estou aqui. Vamos passar por isso juntos. — dizia ela, com firmeza. Depois do sepultamento, voltamos para casa. Eu estava emocionalmente destruído. Ela me puxou para o chuveiro, me abraçou sob a água quente e sussurrou: — Vai ficar tudo bem… você é forte. E eu estou aqui, meu delegado lindo. Me agarrei a ela como quem se agarra à última tábua no mar revolto. — Obrigado por ser minha fortaleza… sem você, eu teria desabado. Naquela noite, ela me fez adormecer em paz. Seus dedos percorreram meu cabelo até que o cansaço venceu e eu apaguei. Depois de quase três dias sem dormir, finalmente descansei. Acordei com uma visão que parecia vinda do paraíso. Vivienne, usando uma camisola vermelha que contrastava com sua pele clara, estava sentada ao meu lado, sorrindo. Seu toque era leve, mas firme. Seus olhos diziam: Você ainda tem motivos para viver. Mas a vida ainda guardava mais crueldade. Fui até a casa da minha irmã para vê-la e, ao chegar, percebi que havia algo errado. Portas fechadas, janelas escuras. Nem o cachorro latiu como de costume. Meu sangue gelou. — CLAIRE? — gritei, batendo na porta. Nada. Sem pensar, arrombei a entrada e corri pelos cômodos. Foi quando a vi. Minha irmã caída no chão do quarto, a pele pálida, um frasco de remédios vazio ao lado. Por um segundo, achei que fosse tarde demais. — NÃO! NÃO FAZ ISSO COMIGO! Liguei para a emergência com mãos trêmulas. Gritei com os paramédicos. Pressionei seu pulso, soprei esperança em seus pulmões. Não sei quanto tempo passou, mas ouvir um dos socorristas dizer “Ela ainda tem pulso!” foi como ouvir um milagre. Ela sobreviveu. Mas algo em mim morreu. A dor que se instalou naquele dia me mudou para sempre. A alegria fácil se tornou rara. A leveza… virou peso. E agora eu vivo para proteger quem ainda resta. Minha irmã. Minha noiva. Minha missão. Porque o que aprendi é que a felicidade é frágil, e pode ser esmagada em um piscar de olhos. Mas eu estou de pé. E por mais que a dor ainda queime, é ela que me move. Os dias seguintes foram um teste de resistência. Eu deixei tudo — minha carreira, minha rotina, minha noiva — para me dedicar à minha irmã. Não havia margem para distrações quando o que estava em jogo era a vida de Brianna. Ela estava frágil como nunca. Dormia pouco, comia menos ainda. Andava pela casa como um vulto, um eco da mulher vibrante que fora um dia. — Brianna, por favor, você precisa procurar ajuda… Você é forte, minha irmã! — implorei mais uma vez, segurando suas mãos trêmulas. Ela me olhou com olhos apagados, e foi como encarar um abismo. — Eu não quero mais viver, Rodrigo… Eu só quero morrer. Ouvir aquilo foi como ser apunhalado. Minha irmã sempre foi o meu alicerce. E agora... eu era o dela, mesmo que ela não percebesse. Passei a vigiá-la dia e noite. Deixei de ir à delegacia. Minhas prioridades mudaram. Mas, ao fazer isso, negligenciei a única pessoa que até então me dava suporte: Vivienne. Cheguei em casa um dia e a cena me derrubou: malas prontas na sala, Vivienne parada na porta. — Vou embora, Rodrigo. Cansei de ser deixada de lado. Você só pensa na sua irmã! — disse, com os olhos marejados de mágoa, mas sem remorso. — Tomara que ela morra logo. Assim, quem sabe, você volta a olhar para mim. Eu congelei. — Vivienne, o que você está dizendo? — perguntei, engolindo o ódio que subia pela minha garganta. — Minha irmã perdeu o filho, perdeu o marido, tentou tirar a própria vida. E você está me pedindo para abandoná-la? — Ela não é sua mulher, Rodrigo! Eu sou! — Então talvez você nunca tenha entendido nada do que é amor. Porque se ela morrer… eu morro com ela. Ela me lançou um olhar carregado de desprezo e jogou a aliança no chão. — Fica aí com sua doente. Eu mereço alguém inteiro. Adeus. A porta se fechou. E com ela, tudo o que eu pensava saber sobre Vivienne. Naquela noite, chorei como há muito não fazia. Não pelo fim do relacionamento, mas por finalmente enxergar quem ela realmente era. Como pude amar alguém tão… raso? Mas foi nesse vazio que a transformação começou. Depois de mais uma tentativa de suicídio, consegui internar minha irmã. Ela foi acolhida por uma clínica especializada, onde teria o acompanhamento que precisava. Mas nem ali ela reagia. Silêncios intermináveis, recusa em interagir, apatia completa. Meu coração se partia a cada visita. E, enquanto ela lutava (ou desistia) silenciosamente, eu precisei encontrar um modo de não enlouquecer. Foi quando conheci um mundo novo. Um universo que me trouxe controle quando tudo ao meu redor parecia fora dele. O BDSM. No início, foi pura curiosidade. Mas bastou um contato, uma primeira experiência… e eu soube que ali estava a minha catarse. A dor e o prazer entrelaçados, a entrega e o domínio, os limites rompidos. Eu renasci naquele submundo. Me tornei um Dominador. Os gritos de prazer, o som do couro contra a pele, o arrepio que precede a ordem obedecida… aquilo me preenchia. As mulheres que se ajoelhavam diante de mim me davam algo que ninguém mais dera: entrega incondicional. — Sim, Senhor… por favor… mais uma vez... A submissão, o olhar de desejo misturado ao medo, a pele marcada por mim… tudo isso se tornou meu escape. E ali, naquela sala escura, com os brinquedos expostos, os olhos vendados das submissas e suas bocetas molhadas, eu deixava minha dor escorrer junto ao suor e ao prazer. Não era apenas sexo. Era o poder de sentir que eu controlava algo outra vez. Que eu decidia o ritmo, o limite, o ápice. Hoje, sou outro homem. A dor me moldou, o abandono me transformou e o prazer me reconstruiu. Vivienne me queria submisso ao ego dela. Agora, sou eu quem impõe as regras. E que ironia... quando me dei liberdade, descobri que nunca fui tão forte. Mas não pense que esqueci da minha irmã. Ela ainda é meu elo com o passado. E talvez, um dia, o amor que temos seja o único laço que ainda me torne... humano.Michael Faz alguns meses que vi aquela linda mulher — a irmã do meu amigo Rodrigo — e, desde então, não consigo tirar a tristeza dos olhos cor de mel dela da minha mente. Mesmo sem ela sequer ter me notado, fiquei impactado. Pobrezinha… Perder o marido e o filho deve ser uma dor inimaginável. Uma mulher jovem, linda, com o rosto ainda suave de juventude, marcada por um luto pesado demais para alguém da sua idade. Enquanto estou metendo com gosto numa morena de parar o trânsito, é nela que penso. Só que diferente das outras, com ela, não penso em sexo. Penso na dor que ela carrega, no vazio que vi em seu olhar. Não sei o nome dela, não sei quase nada, só que algo me marcou profundamente. — Você está muito longe… — a morena fala, interrompendo meu devaneio — Não vai transar comigo ou quer só olhar? — Desculpe, princesa… Onde estávamos mesmo? Volto minha atenção para o corpo quente à minha frente. Beijo sua boca, deslizo pelos seios, pela barriga até chegar ao centro do seu
Brianna Eu estou aqui. Implorando. Implorando de novo, como uma criança desesperada, querendo algo que nunca deveria ter sido tirado de mim: meus cartões. Meus malditos cartões de crédito e débito. Rodrigo, meu irmão, me olha com aquele ar de superioridade, como se ele fosse meu tutor e eu uma adolescente inconsequente. — Já falei que não vou fazer merda nenhuma, Rodrigo! — gritei, quase esmurrando a mesa. — Você quer o quê? Que eu fique de joelhos? Ele me encara com os olhos frios, sem se abalar. — Quero que viva, Brianna. E não apenas sobreviva se escondendo atrás de bebida e pílulas. Caralho. Ele fala como se fosse simples. Como se levantar da cama todos os dias sem meus amores, sem a alegria da minha vida... fosse fácil. Três anos se passaram e eu continuo aqui. Fingindo. Fingindo que estou bem. Fingindo que não quero desaparecer toda vez que me lembro daquele maldito domingo. O dia em que perdi tudo. Meu filho. Meu marido. A mim mesma. A dor ainda rasga meu peito como s
Brianna — Oi, meu anjo, como você está? — a voz de Rodrigo preencheu a sala com um calor que eu quase havia esquecido. — Estou melhorando — respondi, tentando sorrir, embora ainda sentisse a dor latejando em meu peito. — Ainda dói... mas eu juro que vou superar. Vou tentar ser como era antes, eu prometo. — Meu olhar se turvou. — E queria te agradecer por nunca desistir de mim, mesmo quando fui grossa, quando tentei te afastar... Eu te amo muito, meu irmão! Rodrigo me puxou para um abraço apertado, desses que pareciam costurar as partes quebradas dentro de mim. — Graças a Deus — sussurrou ele. — Minha irmã está voltando. Nestes três anos, você nunca mais disse que me amava. Mas eu te entendia... Eu também senti a mesma dor. Só que agora, chega disso. Vamos olhar para frente, Bri. O que você queria falar comigo? Limpei as lágrimas apressadamente. — Primeiro queria agradecer. E segundo... queria saber se na sua delegacia não tem algum cargo para mim. Qualquer coisa. Preciso ocupar m
Lina A vida nunca foi fácil para mim. Desde que fugi de casa, encontrei um refúgio pequeno, mas seguro, para criar meu filho. Trabalhar era uma necessidade vital, não uma escolha. Eu precisava garantir que nada faltasse para o meu pequeno anjo. Meu bebê está prestes a completar três anos — é a luz que ilumina a minha vida e a força que me faz seguir em frente, mesmo nos dias mais difíceis. Cada sorriso dele é uma promessa silenciosa de que tudo vai melhorar, mesmo que, às vezes, eu mesma duvide disso. Consegui um emprego em uma casa de família. Não é o que sonhei para mim, mas é o que pude alcançar. Para trabalhar, deixo meu filho com uma vizinha, uma senhora gentil que cobra barato para cuidar dele. Cada moeda que gasto é pensada mil vezes. Ganho pouco, mas o suficiente para pagar o aluguel de um quartinho simples e garantir comida na mesa. A patroa... Ah, a patroa. Uma mulher amarga, que parece ter nascido para humilhar os outros. Me trata como se fosse invisível quando está de b
Lina Acordei com o barulho suave do vento batendo contra a janela. O relógio marcava pouco mais de cinco da manhã. Suspirei fundo, sentindo o peso da responsabilidade em meus ombros, mas também um fio de esperança se infiltrava no meu peito. Levantei devagar para não acordar meu bebê, Willy, e fui direto para o banheiro. Tomei um banho rápido para espantar o sono e, depois, preparei um café forte, do jeito que aprendi a gostar nas noites intermináveis em que precisei estar forte. Enquanto tomava o café amargo, meus olhos se perderam na janela embaçada. Hoje poderia ser o começo de uma nova vida. Troquei de roupa rapidamente e ajeitei Willy no colo. Ele, ainda sonolento, aninhou-se contra meu peito. Fechei a porta da pequena casa com cuidado e, com meu filho nos braços, caminhei até o ponto de ônibus. O sol nem havia nascido direito, e o ar fresco da manhã parecia prometer algo diferente. Logo o ônibus chegou, e seguimos viagem. Eu observava cada rua, cada rosto adormecido pelas ja
Brianna Claire não me deixa sozinha nem por um segundo. Ela entende minha dor melhor do que ninguém. Também perdeu muito. Só de olhar para ela, percebo que, mesmo tentando ser forte, seu sorriso carrega a mesma tristeza que me consome. Hoje, pela primeira vez em meses, pensei seriamente em me mudar. Esta casa... essas paredes... cada canto guarda uma lembrança que só faz aumentar a vontade absurda que tenho de simplesmente desistir. Cada risada que ecoa na minha mente, cada cheiro, cada toque perdido... Tudo me empurra para o abismo. Por que ainda estou aqui? Prometi a mim mesma: semana que vem começo a procurar outro lugar. Um apartamento menor, mais simples. Um espaço onde eu possa respirar sem sentir que estou sufocando. Se conseguir algo próximo de onde meu irmão mora, melhor ainda. Só espero não esbarrar tanto com ele e suas conquistas. Não que eu vá sair por aí, mas seria bom não ter que encarar aquilo todos os dias. Além da mudança de endereço, quero mudar tudo em mim. Vis
Rodrigo Hoje essa porra está uma zona! Que merda! Estou na minha sala na delegacia e parece que todos resolveram fazer confusão, é chamado de ocorrência por todos os lados!Eu ainda tenho que investigar sobre uma acusação de um bandido que está colocando terror na comunidade. Se eu pegar esse sujeito, eu juro que vou dar tanta porrada nele, que ele nunca mais vai fazer terrorismo em lugar nenhum...Agora eu tenho que ir lá... Não sei por que cada dia que passa a criminalidade só aumenta no país, esses dias atrás prendemos uma quadrilha que enganava mulheres, acabamos encontrando muito jovens e adolescentes presos sofrendo maus-tratos. Eu juro que dá vontade de matar esse povo! Inclusive a linda morena que conheci Valentina quase caiu, até chegou a ser sequestrada, mas ela conseguiu fugir. Ô mulher bonita! Que Nathan não me escute, ouvi falar que ele virou um ciumento de primeira, o homem que pegava mais mulheres que tudo, sossegou e se casou. De repente ouço meu nome e a
Michael Estou a tempo de um ataque cardíaco! Estou ainda sem uma assistente jurídica e meu escritório não tem mais lugar para colocar tanto papel. Como vou viver sem a minha secretária gostosa? Não sei para que porra ela foi se casar e engravidar, só pode ser para me deixar louco e sozinho com tanto trabalho! De repente meu celular toca.Ligação On:— Alô, quem fala? — Olá senhor Michael, sou a irmã de Rodrigo, eu fiquei de estar no seu escritório hoje, só que estou muito atrasada! Será que ainda posso ir? Estou chegando. — Sim, eu até já havia me esquecido, me desculpe. Pode vir sim! Estou precisando muito de uma assistente, hoje tenho audiência às 14:00hs da tarde e vou precisar de alguém para me ajudar.— Ok senhor Michael, daqui a pouco eu estarei aí. Até logo! Ligação off.— Graças a Deus! — falei e suspirei alto. Tenho um julgamento grande e eu não vou poder estar sozinho nesta audiência, preciso me concentrar em colocar aquele deputado atrás das grades e eu vou col