A Princesa e o Lobo
A Princesa e o Lobo
Por: Meg Roberts
01

Azure estava sentada sob a enorme copa de uma árvore milenar. As folhas azuis se mexiam conforme a direção da brisa fresca que tomava conta do ambiente, o cheiro das flores enchia a atmosfera, deixando tudo mais agradável.

Albero Blu era um reino quase mágico, um lugar arborizado e aprazível, iluminado, cheio de árvores, flores e animais diferentes, como unicórnios. Cada ser vivo daquele lugar era especial e valioso, espécies raras.

Azure, a filha mais velha do soberano Àki, gostava de andar pelo reino, sempre com um livro na mão, enquanto saudava os moradores. Muitas pessoas a tratavam com educação e simpatia, mas a jovem princesa percebia que outros cidadãos olhavam para ela com desgosto e viraram o rosto quando passava. Não entendia a razão, uma vez que fazia o possível para ser agradável com todos.

Naquele dia ela tinha um livro de suspense nas mãos, Azure adorava a adrenalina e a tensão de saber a resolução do mistério da trama, faltavam poucas linhas para tudo ser revelado, por isso precisava do máximo de atenção nas linhas que lia. Seus enormes olhos azuis-claros estavam arregalados e atentos às palavras quando algo a interrompeu.

AZURE, VOLTE IMEDIATAMENTE PARA O CASTELO!”

O rosto e a voz do pai surgiram na página do livro e a princesa fez um muxoxo. O que seria tão importante que o pai a chamava com urgência? Ele não poderia ter esperado um pouco mais?

Talvez não fosse tão importante e ela pudesse ler um pouco mais, o pai sempre era muito apressado.

AZURE, AGORA!

A voz falou novamente e ela levantou-se, contrariada.

Fechou o livro, levantou-se do lugar em que estava e foi direto para casa, um castelo que poderia ser visto por toda a cidade devido ao seu tamanho imponente.

Quando chegou na entrada, sorriu para os homens que ladeavam a porta, entrou e foi direto à sala do trono, onde o pai, um homem de cabelos cinzentos e olhos azuis, estava sentado numa cadeira de espaldar alto.

Azure perdera a mãe quando sua irmã mais nova nascera, ela tinha seis anos e não lembrava muito da genitora, seu pai sempre fora seu Norte, sua força e nunca ousara questionar nada que vinha dele, sabia que todas as decisões tomadas por Àki era para o bem dela e do reino. Ela encarou o homem, que estava sério (como sempre) e se dirigiu ao monarca.

“Me chamou, papai?”

“Sim, querida.” – disse, a voz rouca que retumbou pelas paredes de pedra, dando-lhe mais autoridade – “Venha aqui.”

Ela andou até o homem e fez uma pequena reverência quando ficou a poucos metros de distância. Ajoelhou-se diante do pai, como fazia sempre e esperou.

“Minha filha, você sabe que a situação entre no nosso reino não está nada bem. A população anda insatisfeita com meu governo, eles estão agindo por insurreição. Chegamos a uma situação insustentável.”

Azure sabia que os cidadãos de Albero Blu reclamavam do pai, embora ela achasse injusto. Àki era um rei bom, que cuidava de tudo. Como as pessoas poderiam ser tão ingratas?

O pai lhe dissera que, na verdade, a população queria destruir o reino, explorar as riquezas e comercializar as espécies raras de plantas e flores, por isso ele agia com rigidez, para proteger as riquezas naturais do lugar.

“Nós estamos tentando evitar uma guerra civil há muitos anos, antes mesmo de você nascer.” – o rei Àki se levantou, revelando um homem muito alto, forte e, naquele momento, preocupado. Ele trajava calças de montaria negras e camisa branca, além do manto vermelho da realeza. O soberano andava de um lado para o outro, as mãos para trás, enquanto falava.

“Conversamos com os líderes deles e enfim conseguimos um acordo.”

Azure levantou-se do chão e foi até o pai, feliz por essa notícia tão maravilhosa. O fim dos conflitos faria bem ao reino, todos viveriam mais tranquilos, sem o medo de que tudo fosse destruído a qualquer momento. Antes que pudesse abraçar o pai, o homem a deteve com um simples gesto de mão.

“Espere, filha.” – ele a fitou e a jovem percebeu haver algo errado, apesar das boas novas – “Infelizmente há um preço a ser pago pela paz.”

“Qual, papai? Acredito que nada seja tão caro que não possamos pagar.” – Azure disse, confusa ao ver o rosto sisudo do soberano.

Pai e filha se encararam por alguns segundos, os olhos azuis, claros como o gelo, sempre tão parecidos, refletiam sentimentos distintos: enquanto os de Azure expressavam confusão, o olhar dele era pesaroso.

“Bem, minha filha, infelizmente, esse preço que devemos pagar é bem alto, mas acredito que seja por um bem maior, por isso justificável.”

“Qual é, pai?” – perguntou, um pouco nervosa.

“Bem...” – o homem suspirou – “A paz será selada desde que você se torne esposa do líder deles.” – ele virou para um homem que estava na sala, calado, apenas vendo a interação entre pai e filha – “Sr. Enouf Lupin.”

Azure viu o homem, que estava escondido pelas sombras do enorme salão, vir à luz. Ela deu um passo para trás ao perceber como ele era alto e forte, seu rosto moreno tinha olhos castanhos sérios e uma barba espessa e bem aparada de uma ponta a outra. Os cabelos do estranho eram longos e negros, estavam soltos e pareciam não ver uma escova há muito tempo. O desconhecido tinham uma estranha aparência de um leão com aquele tamanho e aquela juba imponente.

Ele parecia uma fera selvagem, daquelas que ela lia nos livros de contos infantis. Um daqueles monstros assustadores que poderiam atacá-la a qualquer momento.

A estranha criatura trajava calça preta de linho e uma camisa branca de mangas, do mesmo material. Ele era largo demais nos ombros e parecia bastante desconfortável naquelas roupas.

“Olá.”

A voz rouca e, que parecia mais um rugido, reverberou pelas paredes, fazendo a espinha de Azure ter calafrios.

“Eu...” – Azure desviou o olhar da criatura e fitou o pai – “Eu não posso, papai. Não posso me casar com ele... ou com mais ninguém.”

A princesa não tinha sonho de casamento, ela sempre fora uma criatura prática, apesar de tudo. Sabia que era a herdeira natural do trono de Albero Blu, por isso tinha consciência que não se casaria por amor, apenas por interesse, mas até onde sabia, casaria com um da sua espécie, não com um monstro.

Aquele homem... ele não parecia humano. Ele parecia um ser bestial, grande demais, carrancudo, a voz era um rugido. Como o pai poderia acreditar que seria bom um casamento entre eles dois?

“Azure, você, como minha filha mais velha, a princesa herdeira, você deve se casar com quem eu determinar.” – o monarca disse, resoluto. Seu tom não admitia questionamentos, aquele era apenas um aviso de casamento, não um pedido.

Azure sabia que teria um casamento arranjado, mas nunca imaginou que seria daquele jeito.

Aquele ser a destruiria, com certeza.

“Papai... por favor...” – ela se ajoelhou aos pés do grande monarca, pegou sua mão e suplicou – “Não me obrigue a isso.”

Sentiu a mão do pai sobre seus cabelos.

“Não há mais o que fazer, Azure.” – ele lamentou – “Você se casará com ele amanhã, ao amanhecer.”

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