Mundo ficciónIniciar sesiónO pátio da Academia Lupina fervilhava quando Mia e Bryan chegaram de mãos dadas. Passos firmes na terra batida, comandos ecoando, espadas de treino chocando-se sob o sol como faíscas vivas. Um dia comum para qualquer jovem lobo …exceto para eles.
Mia sentia o ar mais pesado, como se o mundo segurasse a respiração. O formigamento em seus braços, que começará no café da manhã, só piorava. — Tem alguma coisa estranha hoje — ela murmurou, franzindo o cenho. — Parece que… o ar tá mais denso. Bryan tentou sorrir, mas Mia percebeu. A tensão nos ombros, a respiração presa, o olhar que desviava rápido demais. — Você também não tá bem — ela disse baixinho. — Eu conheço esse seu jeito de fingir força. Ele soltou uma risadinha breve, aquele som que ele usava para esconder preocupação. — Eu tô bem. Juro. Só acordei… esquisito. Mas eu aguento. É você que não parece bem hoje baby. Mia ergueu o rosto para ele. — Esse é o problema. Você sempre aguenta tudo. Bryan então segurou as duas mãos dela, puxando-a um pouco para mais perto. Um gesto que era quase instinto. Mia sentiu o calor do corpo dele envolver o seu. Ele inclinou a cabeça, encostando a testa na dela — o toque mais íntimo que os dois tinham, aquele que dizia mais do que qualquer declaração. O mundo pareceu silenciar. O beijo veio leve, suave, quase tímido… mas cheio de promessa. Um beijo que dizia eu tô aqui. Um beijo que dizia vai dar certo, mesmo que tudo esteja desmoronando. Quando os lábios se separaram, Bryan murmurou contra a boca dela, baixinho: — enquanto tivermos um ao outro sempre ficaremos bem, amor… Mia fechou os olhos e assentiu com a cabeça, respirando o mesmo ar que ele. — Sempre — respondeu, a voz pequena, mas firme. E então eles seguiram, ainda de mãos dadas, para o campo de treino — sem saber que aquele beijo seria o último momento de paz antes do mundo deles implodir. Eles atravessaram o portão da arena ainda de mãos dadas, e o burburinho cessou como se alguém tivesse cortado o som com uma faca invisível. Todos os olhares se voltaram para eles — não por fofoca, não por curiosidade… mas porque era sempre assim. Mia Ashowrth e Bryan Blackwolf não eram um casal qualquer. Eram o futuro Alfa e a futura Luna da Alcateia Blackwolf. O único par predestinado e marcado pela lua antes dos 18 anos. Um mito vivo caminhando entre adolescentes comuns. Alguns se calavam por respeito. Outros por inveja. E outros… por medo. Os alunos começaram a se posicionar nos lados opostos da arena — meninos para um lado, meninas para o outro como sempre acontecia nos treinos mistos. Bryan soltou a mão de Mia devagar, mas antes que pudesse se afastar, ele voltou o rosto para ela e a puxou pela cintura num gesto rápido e familiar. — Só mais um — ele murmurou, encostando a testa na dela. Mia sorriu sem nem perceber, o peito apertado de tanta coisa que só ele conseguia provocar, e os dois trocaram um beijo curto, natural, certeiro, do tipo que dizia “eu tô aqui… e vou continuar”. Quando se separaram, ainda com os narizes quase tocando, Bryan sussurrou: — Bom treino, minha Luna. Mia assentiu e sussurrou de volta: — Bom treino meu Alfa.— ela deixa o polegar roçar a mão dele pela última vez. Eles deram dois passos… E então surgiu a voz debochada de Selena, passando entre as meninas: — huuum Melosos! — ela cantarolou, mas sorrindo feito quem shippa com força. Mia revirou os olhos, Bryan riu baixo, e só então os dois seguiram para seus lados da arena. O apito ecoou. As meninas avançaram para suas marcas. Os meninos fizeram o mesmo do outro lado. Mia respirou fundo, rolando os ombros. — Mia pra arena.— um monitor a chamou. Na arena, Sabine Bishop já estava à sua frente, estalando o pescoço, o sorriso arrogante no rosto. Olhos azuis escuros profundo , cabelos negros ela era alta e tinha o corpo altetico, ela já tinha despertado o próprio lobo. Aquela garota respirava provocação. — Preparada, “humana”? — Sabine zombou, ajeitando os cabelos castanhos. — Espero que o Alfa Bryan não esteja assistindo. Seria uma vergonha você perder tão rápido. Mia fechou a mão, mas manteve o olhar firme. Não respondeu as provocações da rival. — Preocupada com ele assistindo eu te dar uma surra? — Sabine continou, venenosa. — vamos ver se ele vai te achar tão especial assim quando eu quebra a sua cara. Alguns risinhos ao redor. Sabine marinha um sorriso malicioso nos lábios. — Vamos ver até quando você consegue se manter em pé. O monitor levantou o braço. — COMECEM! Sabine veio como um golpe de vento — rápida, forte, já usando a potência do lobo desperto. Mia desviou, bloqueou, recuou três passos. O coração batia rápido demais. O formigamento nos braços aumentava como agulhas sob a pele. Sabine sorriu, maldosa. — Já vai cair? — E desferiu um chute alto. Mia agarrou a perna dela por puro reflexo. O corpo inteiro de Mia tremeu. Algo dentro dela abriu. Liberou. Explodiu. E então— BOOOOOOOM. O impacto foi seco, brutal, como um trovão nascendo dentro da arena. Sabine foi arremessada como se tivesse sido atingida por um carro invisível, voando metros antes de cair rolando pelo chão. O silêncio foi imediato. Um silêncio que engolia tudo. Mas a verdadeira loucura estava sob os pés de Mia. As pedras do chão… haviam rachado. Fendas largas, profundas, se espalhavam a partir do ponto onde ela fincara o pé para lançar o golpe. A poeira subiu. O ar vibrou. Mia ficou parada, ofegante, sem entender. — Meu… Deus… — murmurou uma das instrutoras. Do outro lado da arena, Bryan lutava com Henry. Ou melhor… lutava. Porque quando a onda de energia de Mia explodiu, Bryan parou por um segundo o corpo inteiro tenso, os olhos arregalados como se tivesse sentido o impacto nela. E então… Aconteceu com ele também. Bryan girou o corpo e acertou Henry com um golpe que não deveria ser possível para um lobo jovem. Outra explosão. Outro estrondo seco, violento. Outra onda de energia atravessando o espaço. Henry Blackwolf caiu como uma pedra, desmaiado imediatamente. Dois lados diferentes. Duas explosões idênticas. O mundo parecia ter parado para assistir. Os jovens recuaram. Alguns com medo. Alguns fascinados. O ar da arena cheirava a poeira, surpresa e… destino. Bryan e Mia ficaram olhando um para o outro de longe os dois arfando, os olhos brilhando de algo que não era normal. Algo ancestral. Algo deles. E ninguém respirou até: — ENFERMARIA TODOS! AGORA! — A diretora Vega Nightfall atravessou o pátio como uma tempestade. Instrutores correram. Sabine foi levada. Henry foi carregado. Mia e Bryan foram puxados imediatamente para dentro do prédio mas continuavam olhando um para o outro enquanto eram arrastados, como se aquela explosão fosse um segredo entre eles. Como se dissessem: você sentiu isso também… né? O corredor inteiro cheirava a desinfetante e adrenalina. O médico Rafael Blackwolf , irmão mais Velho de Bryan , examinava Mia com precisão cirúrgica. O pulso dela estava acelerado demais. O corpo tremia. — Nenhum ferimento — murmurou ele. — Mas seu corpo reagiu a algo que eu nunca vi em jovens não despertos. Joyce Salazar , a enfermeira chefe , ajustou um curativo no ombro de Bryan, que nem tinha percebido o corte. Vega, com os braços cruzados, estudava os dois como quem olha um eclipse. — Isso não é normal — ela disse, baixo. — Isso é ancestral. Algo… novo. Mia engoliu em seco. O formigamento não parava. Bryan segurou a mão dela sem hesitar. — Vai ficar tudo bem, baby — murmurou. — A gente vai entender o que tá acontecendo. O toque dele estabilizou a respiração de Mia como mágica. Fora da sala, os alunos cochichavam: — O chão rachou… — — Bryan fez o Henry voar… — — Eles são predestinados mesmo… — — Isso pareceu… o despertar. — — Mas o despertar não acontece antes dos 18… — Sabine cruzava os braços no canto, irritada e humilhada. Henry nem conseguia olhar na direção deles. Quando finalmente foram liberados, seus amigos os cercaram: — Manos… aquilo foi INSANO! — Ares quase gritava. — Sério, parecia cena de anime! — Felipe complementou. — Faltou só gritar “ATIVAR PODER LUNAR SUPREMO!” — Bryan rolou os olhos. Mia riu. Mas o riso morreu rápido. Porque por dentro, algo pulsava. Algo antigo. Algo que Mia não conseguia controlar. Nem entender. O banho quente tinha ajudado um pouco… mas não o suficiente. Mia deitou na cama, puxando o cobertor até o queixo, tentando ignorar o formigamento insistente que ainda percorria seus braços. — Tenta descansar, meu amor — murmurou Elizabeth, ajeitando a trança prateada da filha com carinho. — Deve ser só o cansaço do treino. Mia assentiu, mesmo sabendo que não era isso. — Boa noite, mãe… Elizabeth sorriu e apagou a luz do abajur, deixando apenas a claridade suave da lua entrar pelas cortinas. — Boa noite, princesa. A porta fechou devagar. E então o quarto ficou quieto demais. Mia ficou virando de um lado para o outro por alguns minutos… até o peso da exaustão finalmente puxá-la para um sono inquieto. Mas os sonhos não lhe davam paz. Um sussurro vinha das profundezas — não um som, mas uma vibração. Uma voz feminina. Antiga. Sombria. Uma voz que não queria ser ouvida. Queria ser sentida. Como unhas arranhando a alma. “Mia…” “Mia…” “Acorde…” Mia franziu o cenho mesmo adormecida, o corpo inteiro estremecendo sob o lençol… …e então algo dentro dela respondeu.






