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CAPÍTULO 5 – TAREFAS DEGRADANTES

A luz da manhã era um conceito abstrato na fortaleza, visto que inferno e luz não se combinam. Acordei no meu quarto minúsculo, a cama dura doendo nas minhas costas. Os passos pesados no corredor foram meu despertador. A porta se abriu bruscamente, revelando um dos capangas de Alex.

— Levanta, moleque. O chefe quer você lá embaixo. — Jogou um uniforme surrado em cima de mim. — Veste isso e desce já.

Vesti as roupas largas que cheiravam a mofo e suor alheio. No salão principal, Alex estava sentado em sua cadeira alta, um trono improvisado para um rei do crime. Seus homens o cercavam, um bando de hienas esperando as sobras.

— Pontualidade. Um ponto a seu favor, garoto — disse Alex, erguendo-se e se aproximando. Seus olhos azul-gelo me escaneavam. — Porém, espero que você seja mais útil do que parece.

Mantive o olhar baixo, fixo nas botas engraxadas dele. A respiração era um exercício de controle.

— Você entende o que eu falo, garoto?

Fiz uma série de gestos rápidos com as mãos, indicando que entendia através da leitura labial e das expressões. A mentira era tão bem ensaiada que quase acreditei nela.

Alex não pareceu impressionado, mas também não duvidou.

—Bom, ao menos sei que não é um idiota. Seu trabalho aqui será simples: vai limpar meus sapatos e roupas, servir bebidas para meus homens e fazer qualquer coisa que eu mandar.

Ele parou diretamente à minha frente, sua sombra me engolindo. — Você está aqui porque é mudo. Mas se eu descobrir que usou essas mãozinhas de rato para se comunicar com alguém sobre o que acontece aqui... vai descobrir o que acontece com quem é desleal a Alex Morano. Estamos entendidos?

Afirmei com a cabeça, meus músculos tensos. Ele deu um tapinha no meu rosto, um gesto supostamente paternal que só aumentou o nojo que sentia.

— Bom garoto. Agora, vá. Tem trabalho a fazer.

O primeiro dia foi um mergulho na humilhação. Fiquei de joelhos no chão frio, esfregando a lama e o sangue secos das botas de Alex. Enquanto eu trabalhava, ele discutia planos com seus homens – roubos, extorsões, coisas que me fizeram estremecer por dentro. Depois que ele saiu com seu braço direito, Steven, os outros homens se aproximaram, liderados por Herold, aquele que me havia capturado com a rede.

— Olha só, o mudinho! — riu Herold, chutando levemente o balde de água suja. — Vamos ver se você serve para algo além de limpar merda.

Servir bebidas foi pior. Eles me empurravam, derrubavam as coisas de propósito e riam quando eu me abaixava para limpar. Uma garrafa de cerveja voou em minha direção, estilhaçando-se a centímetros dos meus pés. Não reagir foi a coisa mais difícil que já fiz.

Mas a pior parte veio tarde da noite. Alex me chamou em seu quarto. Ele estava visivelmente bêbado, o cheiro doce de uísque e tabaco impregnando o ar. Comemorava outro "feito" – eu nem queria imaginar o que seria.

— Me ajuda com isso, garoto — ele balançou, tentando tirar o casaco. Seus movimentos eram desengonçados.

Me aproximei com cautela, minhas mãos tremendo ao tocar no tecido fino do terno. Ele era pesado, ou talvez fosse o peso da sua proximidade. Ele se inclinou para frente, seu hálito quente no meu rosto.

— Você é fraco demais, moleque — ele resmungou, rindo baixo. — Precisa comer mais.

Consegui tirar o casaco, e ele me empurrou para longe com um gesto brusco.

—Vá embora. Você me cansa.

Saí do quarto correndo, meu coração batendo como enlouquecido. O cheiro dele – álcool, perigo e uma maldita sensualidade – ainda estavam grudados em minha pele. Era um maldito cheiro que me atraía de forma suja.

Voltei para meu quarto e tomei um banho longo e quente, esfregando a pele até ficar vermelha, tentando me livrar da sensação de suas mãos imaginárias e do seu cheiro. O banheiro privado era o único luxo que tinha, minha pequena fortaleza dentro do inferno.

Nos dias que se seguiram, a rotina se estabeleceu: humilhação pela manhã, serviço durante o dia, e a ameaça constante de Alex à noite. Eu me tornei uma sombra, um móvel que limpava e servia. Aprendi a sumir dentro do meu próprio corpo.

Até que um dia, ele me chamou com um olhar diferente. Um brilho perverso que eu nunca tinha visto antes.

— Hoje você fará um trabalho diferente, garoto. E tal trabalho é o que definirá se você é um moleque ou um homem.

Meu sangue gelou. Fiz gestos questionadores, meus olhos demonstrando um medo genuíno.

— Não me questione — ele cortou, a voz carregada de uma frieza súbita. Ele colocou a arma no coldre. — Apenas me siga e faça seu trabalho sem alarde. Está me ouvindo?

Balancei a cabeça, minha boca seca. Ele saiu do quarto, e eu o segui, meus passos ecoando no silêncio ameaçador do corredor. Caminhamos por áreas da base que eu nem sabia que existiam, até que ele parou diante de um alçapão no chão. A madeira era grossa, reforçada com ferro.

Ele o abriu.

O cheiro que subiu me fez engasgar. Era um odor doce e pútrido, um cheiro que eu conhecia das ruas, mas nunca tão concentrado, tão intencional. Era o cheiro da morte misturado com suor, sangue e desespero.

Era o porão das torturas.

Meus pés pareciam presos ao chão. Alex desceu os degraus de madeira rangente sem olhar para trás, esperando que eu o seguisse. Cada passo que dei naquela escada foi como caminhar para o fundo do meu próprio pesadelo. A luz fraca de lâmpadas penduradas revelou formas indistintas nas sombras. E eu soube, com um frio na alma, que "Léo" estava prestes a enfrentar uma prova que talvez nem mesmo o disfarce mais perfeito pudesse superar. A sobrevivência, agora, dependia de quanto da minha humanidade eu estava disposta a sacrificar...

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