(Luna narrando)
A escuridão ainda vibrava nos corredores quando o inferno rasgou meu sono. Gritos cortavam a noite; tiros, o choque de metal; corpos tombando por toda parte. Levantei assustada e corri sem pensar, guiada por vultos e pelo som da violência que consumia nossa fortaleza. O peito doía de medo e adrenalina; tudo ao redor movia-se em câmera lenta e, ao mesmo tempo, num avanço alucinado.
Eu não sabia atirar. Nunca quis saber. Mas, no meio do caos, um dos garotos me empurrou uma arma nas mãos, sem cerimônia, cuspindo como se fosse óbvio:
— Seu garoto idiota, não é porque é mudo que não vai atirar. Pega essa arma e se protege — ele bufou. — Protege também os outros com sua vida.
Minhas mãos tremiam quando recebi o coldre. A arma era pesada; o metal, frio na pele. Pela primeira vez senti o peso do poder: não era só um objeto, era a capacidade de abrir e fechar destinos com um dedo. O estômago revirou-se.
Atirei no primeiro que surgiu numa porta escancarada. O som do disparo