Ellora nunca foi do tipo de mulher que se ilude com promessas vazias duas vezes. De origem latina e sangue brasileiro, foi criada para ser livre e independente. Já o Príncipe Maximilian II — o quinto na linha de sucesso do trono inglês e segundo filho da rainha — cresceu sabendo que dever e destino sempre falariam mais alto que o coração. Ele foi moldado para ser o futuro rei, para colocar o nome da coroa acima de qualquer desejo pessoal. Mas então Ellora surge, desafiando cada regra que ele deveria seguir. O problema não é querer. O problema é que o mundo inteiro está olhando. A mídia transforma cada passo em um escândalo, os membros da realeza que desaprovam fazem questão de lembrar que ela nunca será digna, e os fantasmas do passado espreitam, prontos para virar cicatrizes mal curadas em novas feridas. Entre olhares de julgamento e situações desconfortáveis que testam os limites de ambos, Max e Ellora precisam decidir: o amor deles é forte o bastante para sobreviver quando tudo ao redor conspira para destruí-lo?
Ler maisÉ só uma festa, você merece. Se arrume, fique lindíssima, use aquele vestido azul que tanto ama. Beba alguns drinks, dance e ria com suas amigas.
Era o que Ellora dizia para si enquanto terminava o banho. Apesar de estar exausta mentalmente depois da longa semana de projetos e testes-piloto de implantações que assumira nos últimos meses, esforçava-se para se animar e não desistir de última hora. Entre tantas responsabilidades, ainda era a única pessoa que deveria executar, mas almejava aquela promoção tão prometida pelo diretor. Então, tinha que encarar o desafio até o fim.
Mesmo que sua vontade fosse vestir um pijama confortável e acompanhar a noite com uma panela de brigadeiro, ela iria sair. Havia prometido às amigas que se divertiria, não reclamaria e nem pensaria em trabalho. O melhor salto já estava separado, dançaria todas as músicas que quisesse e até paqueraria um cara bonito que chamasse sua atenção. Apenas por diversão, nada sério. Só por aquela noite, não precisava pensar como uma mulher adulta cheia de responsabilidades. Poderia se divertir, ser ela mesma. E iria.
As noites de sexta-feira em junho, em San Diego, eram sempre animadas. As casas noturnas estavam sempre lotadas, borbulhando de jovens em busca de diversão. Cidade praiana com alma universitária, as temperaturas quentes do verão tornavam quase irresistível o desejo de sair de casa. Já eram quase dez da noite quando, enfim, saía de casa em um carro de aplicativo rumo à festa escolhida. Mesmo não conhecendo o lugar, Ellora tentava se manter empolgada e curiosa o caminho todo, apesar de saber que Patrícia, sua amiga que a arrastava, era conhecida por levá-la a lugares que, 90% das vezes, eram verdadeiras furadas ou não tinham o clima de que realmente gostava. Não se encaixava.
Na maioria das vezes, preferia um restaurante, uma cafeteria ou até um dia na praia. Nada que exigisse interação excessiva. Odiava aquela briga de egos ou a disputa por atenção. Criou o hábito de se isolar, tornando sua própria companhia suficiente. Mas, no final, sempre dava um voto de confiança à amiga. Conheciam-se há mais de quinze anos e dividiam o apartamento. Desde o ginásio até os últimos semestres da faculdade, não tinham vidas separadas. Eram tão próximas que, até na hora de escolher onde estudar, o critério principal era que pudessem ir juntas. E assim fizeram. A partir de então, separar as duas era quase impossível.
Nos últimos meses, no entanto, Ellora vinha pensando na possibilidade de morar sozinha. Ter sua própria rotina, liberdade e espaço. Não que Patrícia fosse um peso ou motivo da mudança, mas naquele momento precisava de algo novo, algo que agitasse sua vida. Talvez viver sozinha ajudasse.
Aos 28 anos, era bem-sucedida no trabalho. Gerente de projetos em uma grande empresa de tecnologia, era responsável por todas as unidades da Costa Oeste. Consideravam-na um prodígio pelos cinco anos na companhia e pelas mudanças e lucros inimagináveis que seu planejamento e trabalho haviam proporcionado. Poderia se virar sozinha, comprar um bom lugar para morar e ter uma vida confortável. Ora, se gerenciava uma equipe gigantesca, também poderia gerenciar sua própria vida sem precisar do apoio emocional de alguém.
Ainda a caminho da casa noturna, não conseguia tirar da cabeça o apartamento que havia encontrado. Recém-entregue, pronto para morar, só precisava de alguns detalhes para ter a sua cara. Era perfeito: perto do centro, próximo ao trabalho, com um belo parque para suas corridas matinais e uma vizinhança tranquila. Sonhava com isso há semanas e estava agitada com a possibilidade. A proposta havia sido feita duas semanas antes, e agora só aguardava a confirmação dos corretores. Mantinha tudo em segredo.
Mas sempre prorrogava o plano pela amiga. Não queria deixá-la sozinha. Das duas, sempre fora a superprotetora. Herdara esse traço da mãe: queria manter a amiga sob suas asas. Só quando tivesse a documentação em mãos, se prepararia para contar que ia se mudar. Precisava criar seu próprio caminho e espaço. Não tinha mais por que adiar.
— A gente vai se divertir muito hoje! — anunciou Patrícia, tirando-a de seus pensamentos.
— Espero que, dessa vez, você tenha acertado. Porque a última… — Ellora revirou os olhos, frustrada. Por mais eclética que fosse, passar a noite em um bar de música country não era sua ideia de diversão. Principalmente por conta das brigas sem sentido que aconteceram naquela noite.
No mesmo instante, Patrícia puxava o celular para mostrar algumas notificações. Mas o que Ellora viu em seguida fez sua expressão endurecer: o ex-namorado da amiga estava no mesmo local para onde estavam indo. Patrícia tentou passar rápido pelos stories, mas não foi rápida o suficiente.
— Ele está lá? — Lola, como era chamada pela amiga, tomou o celular de suas mãos.
Patrícia não teve chance de esconder. Sabia que Ellora ficaria irritada com a ideia de encontrá-lo. Aquele cara brincava com seus sentimentos, fazia dela um capacho. E, mesmo assim, ela sempre voltava para ele, nem que fosse por uma noite. Por mais que tentasse colocar juízo na cabeça da amiga, Patrícia sempre o aceitava de volta.
— Nem pensar. Vamos voltar para casa agora. — O humor de Ellora mudou instantaneamente. Sua respiração pesada deixava claro que estava cansada desse assunto.
— Eu não vou atrás dele, Lolo. – Patrícia usava o apelido de infância, como sempre fazia quando não queria brigar. — Essa noite é para as garotas.
Ellora bufou, sem acreditar.
— Você acha que me engana, mas eu sei como isso vai terminar…
Mas já estavam lá. E, independentemente do desfecho, Ellora iria aproveitar sua noite.
Lola apenas se deitava na cama, parecia que tinha o peso do mundo nas costas. Então notava o movimento de Max sentando ao lado dela e a imitando. Os dois ficaram em silêncio por um tempo, só observando a respiração e o olhar um do outro quando se viravam. Como sempre faziam, gostavam de ficar deitados se olhando sem uma única palavra.– Você viu o vídeo? – Max foi o primeiro a falar. Ela disse que sim. Tão baixo com a boca colada ao ombro dele – Tudo? – Ele parecia surpreso, ainda mais por saber que dos dois ela era que mais evitava ver qualquer coisa que postassem sobre eles. – Vi, sabe o pior. Não dá para ver mais do que viram nas fotos. – Os olhos dos dois se encontravam. – A única diferença é o movimento, gemidos e você dizendo que ia gozar. – Os dois riam, um pouco sem jeito. Não era tão exposto assim, mas a ideia e saber o que acontecia pareceu criar mais expectativas e curiosidade ainda de quem procurava. E claro, era pessoas públicas, todos gostariam de saber o que eles
– Acredite em mim. Isso não vai acontecer, já teve situações piores e nesse ponto nada aconteceu com as pessoas envolvidas. – Ele apenas acolhia entre os braços. Parecia uma preguiça agarrada ao tronco dele. – Só vou ter que trabalhar um pouco mais a imagem, e aguentar perguntas por um tempo. E ainda preciso achar alguma solução para ajudar as pessoas que passam por isso, a assessoria recomendou trabalhar dessa forma, como falei no discurso. E com sorte, logo tudo será esquecido. – – Ouvi seu discurso, foi muito bonito. – Ela conseguia sentir que ele sorria quando confirmava que tinha o visto. – Se eu puder ajudar, quero fazer parte. – Poderia tirar algum benefício da situação. Já que planejavam uma vida juntos talvez, pudessem começar por ali. Nisso os dois concordavam, iam dar um jeito. Depois de um tempo conversando sobre os últimos dias. Os dois dividiam a cama antiga de Lola, Max a abraçava por completo, como se fosse capaz de prendê-la entre seus braços não queria nun
E mais uma vez afundava o rosto no cabelo escuro, e apertava. Não conseguia imaginar uma vida sem ela. Dessa vez não sentia ela retraída, ela abraçava pela cintura e desabei de chorar. Lola ainda mantinha o rosto no peito de Max, entre lágrimas e pequenos soluços, como sentiu falta daquele cheiro. Chegava a doer todos os minutos que pensava não ter mais aquele toque novamente, mas ele estava ali. – Vem comigo. – E a seguia para o quarto. O quarto agora parecia tão vazio depois da mudança há quase um ano. Tinha só básico ali, nenhuma recordação mais ou algo que ligasse a Ellora. Mas a única coisa que conseguia enxergar era Max se sentando à frente dela, perdido. Totalmente desolado e diferente da última vez que tinha visto, em Londres era só sorrisos e segredos. – Fala comigo, por favor. – Ele pediu enquanto de novo colocava uma mecha de cabelo atrás da orelha. Aquele pijama não parecia ser dela, provavelmente Patrícia tinha emprestado, estava grande demais, pelo jeito nem ti
A tensão na sala era palpável. Max se aproximou de Ellora, querendo tocar seu rosto, mas ela recuava.– Não posso lidar com isso agora, Max. Sinto que estamos sob um microscópio, e não sei mais quem somos. Não sei mais quem eu sou. – Praticamente ela gaguejava, a mente estava a mil por hora cheia de medo e receios.Max suspirou, sentindo a dor da situação. –Nós somos mais do que isso, Ellora. Não podemos deixar que pessoas estranhas nos definem quem somos por um momento de descuido. – Ele só queria que ela entendesse que não ia desistir, não estava preparado para abrir mão de alguém que ele tanto amava. – Sei que podemos conseguir, e manter nossa relação melhor e forte outra vez. –Mas Ellora estava exausta. – Max, ser forte o tempo todo é exaustivo. Eu só queria ser Ellora, de sempre. Não a americana que namora o príncipe. Parece que é tudo que sou agora. –A decisão de como seguir em frente pairava no ar, e nenhum dos dois queria admitir que talvez a única solução fosse se afasta
As palavras de Max só faziam com que Lola sentisse mais saudades ainda dele. Não era só ela que tinha perdido o controle da vida e também o afetava. Mas ainda sim tentava encontrar algo bom, fazer algo bom por alguém e mesmo tão exposto estava ali se desculpando pelo erro deles. De alguma forma tentando se redimir por algo que não deveria ser proibido. – Liga pra ele, Lola. – Patrícia ainda estava deitada ao lado da amiga e abraçava já vendo que de novo começava a chorar. – Ele também precisa de você. – Mas ela não sabia como. Ou se ela tivesse forças para ouvir a voz dele, tão distante. – Do que vai adiantar? Não sei se consigo viver assim. Eu querer ficar com ele só piora tudo. – Ellora se apertava contra a amiga tentando entender e encontrar uma resposta. Se por fim no relacionamento era a resposta, nem sabia por onde começar. Não conseguia ligar para ele, que já sentia o medo a tomando. Foi ideia dela, mesmo os dois querendo e provocando a atitude de começar partiu dela e a
A notícia caiu como uma bomba na cabeça de Ellora, assim que saiu da reunião a 3 dias atrás no escritório. O jurídico a alertava sobre as repercussões e orientou que fosse para casa, eles iam decidir o que seria feito com aquela situação e nem ela sabia o que fazer, não existiam palavras para se defender e questionar. Nunca se sentiu tão exposta daquele jeito, e tudo parava ao seu redor. Não tinha coragem de falar com Max nem com ninguém da família dele que insistia em tentar contato com ela. Não estava pronta ou nem tinha força nem para casa conseguiu, muito menos olhar para a mãe que já tinha ligado para ela assim que entrou no carro. Realmente parecia inerte e quando dirigia pareceu tudo automático, passando por ela como um borrão.A família dela não merecia passar por uma situação como essa, nem a exposição. Ela não merecia, o único lugar que poderia ir era para casa de Patrícia. A amiga a acolheu no mesmo instante que aparecia na porta chorando e a abraçava. A isolava do mund
Último capítulo