🥀Capitulo 3 🥀

● Aneliese Moore •

Sair da casa dos meus pais no meio do almoço para socorrer meu chefe foi praticamente declarar a terceira guerra mundial. Meus pais surtaram como se eu estivesse abandonando a ceia de Natal para ir a um baile de máscaras com estranhos. E, como sempre, minha irmã apenas me observou com aquele ar de falsa superioridade. Cruzes, que família disfuncional.

O endereço que o senhor Blake me passou fica em um condomínio privado, repleto de casas luxuosas e mansões tão grandes que, com certeza, têm quartos do tamanho do meu apartamento. Só mais um dia comum na vida dos ricos e milionários.

Estaciono em frente à imensa propriedade e espero os portões se abrirem. Entro com o carro e paro diante das enormes portas entalhadas. Eu sabia que a família Blake tinha dinheiro, só não imaginei que morassem numa mansão digna de um filme de Hollywood.

Toco a campainha e, quase instantaneamente, a porta se abre. Uma mulher aparece - descabelada, com maquiagem borrada e um pequeno tique nervoso em um dos olhos.

Meus olhos correm para trás dela, onde encontro três pares de olhos castanhos me encarando com um misto de curiosidade e diversão.

- Boa tarde, sou Aneliese Moore. Estou aqui a pedido do senhor Blak. — digo, um pouco receosa pela magnifica recepção.

— Você deve ser a secretária dele. Alexander já está à sua espera. Pode entrar, siga em frente, corredor à esquerda próximo as escadas, logo depois no final do corredor, última porta à direita. E, por favor, tome cuidado... esses demônios mirins têm armadilhas espalhadas em cada canto da casa.

Tento não demonstrar o espanto que percorre meu corpo e apenas agradeço, seguindo as coordenadas em direção ao corredor indicado. Caminho até a última porta e bato duas vezes antes de ouvir um breve "entre".

Giro a maçaneta e entro no ambiente. Meus olhos passeiam rapidamente pela decoração minimalista e sofisticada, com tons neutros de cinza e branco. De pé, ao lado de uma das janelas, está meu chefe. E eu devo admitir: foi estranho não encontrá-lo usando um de seus ternos impecáveis.

O senhor Blake se vira para me encarar e, por um momento, posso jurar que vejo alívio em seu rosto. Ele veste uma camiseta polo cinza-claro, calças jeans e sapatos esportivos. Muito diferente do que estou acostumada a ver no escritório.

- Senhorita Moore, por favor, sente-se. - diz ele, apontando para uma das duas poltronas em frente à sua mesa. - Gostaria de beber algo? Uma água, café, uma dose de uísque?

- Agradeço, senhor Blake, mas não precisa. - respondo, acomodando-me na poltrona. - Então... se me permite perguntar, por qual motivo me chamou aqui?

Deixo que a curiosidade fale mais alto. Afinal, não é comum o senhor Blake solicitar minha presença num fim de semana. Acho que, em três anos trabalhando para ele, essa é só a segunda - ou talvez terceira - vez que isso acontece.

- Senhorita Moore, eu sei que isso está bem longe das suas atribuições... - a voz de Sebastian carregava um peso raro, quase como se ele estivesse realmente constrangido - ...e peço desculpas por interromper sua folga dessa forma. Mas, honestamente, você é minha última alternativa.

Ele respirou fundo, e meu alarme interno já começou a soar.

- Preciso viajar de última hora para nossa filial em Manchester. Um problema urgente surgiu, e com tão pouco tempo, não consegui ninguém que ficasse com meus filhos pelos próximos três dias.

- E o senhor precisa de ajuda para encontrar uma babá, é isso? - perguntei, esperando desesperadamente que o que eu estava imaginando não fosse exatamente o que ele queria dizer.

- Na verdade. Preciso que cuide deles nesses dias, senhorita Moore. Você ficará afastada de suas funções como minha assistente pessoal para se dedicar exclusivamente a isso - ele explicou com a mesma formalidade de sempre, como se estivesse apenas remanejando tarefas de um cronograma.

- Por favor, não faça essa cara - completou ao notar minha expressão de pânico. - Você é minha última opção... e será bem recompensada. Se aceitar, um bônus de sete mil dólares será depositado na sua conta ainda hoje.

Sete mil dólares.

- Serão apenas três dias. Você ficará aqui na casa, então não precisará se preocupar com deslocamentos. Também não terá que lidar com as tarefas domésticas - tenho funcionários específicos para isso. Sua única função será cuidar deles ate a noite de quarta feira : acordá-los, ajudá-los a se arrumarem para a escola nos dias que precisarem ir, garantir que se alimentem e que estejam prontos nos horários certos. Nada muito complicado.

Ele disse isso como se estivesse me pedindo para regar as plantas.

Observei o homem à minha frente tentando vender a ideia como se fosse algo simples. Só que a mulher na porta, com olheiras, maquiagem borrada e um tique nervoso no olho, contava outra história.

- Senhor Blake... eu, bem... não posso ficar muito tempo fora do meu apartamento. Tenho alguém que depende inteiramente de mim - falei, um tanto desconfortável. - E como minha melhor amiga está fora da cidade, não tenho quem possa cuidar dele.

- Você nunca mencionou que tinha um filho, senhorita Moore - ele disse, surpreso, ajustando a postura na cadeira como se estivesse tentando processar a novidade. - Mas, se esse for o problema, pode trazê-lo com você.

- Filho? Eu? - arqueei uma sobrancelha antes de soltar uma risada. - Não, senhor Blake. O senhor entendeu tudo errado. Eu não tenho filhos.

Ele me olhou, claramente confuso.

- O "alguém" que depende de mim é o Sirius. Meu cachorro. Um husky dramático que se recusa a comer se eu não estiver por perto. E, na verdade, era isso que eu ia dizer... Eu sou um desastre completo com crianças. Nunca cuidei de nenhuma. Nunca precisei. Sirius é o mais perto que cheguei de responsabilidade parental.

- Entendo... - ele murmurou, pensativo. Céus, tomara que ele esteja reconsiderando.

- Bem, então traga o Sirius. Tenho certeza de que as meninas vão adorar. Talvez isso ajude a tirar da cabeça delas a ideia de arrumar um cachorro por enquanto.

- Como é?

- Não se preocupe, foi só mais uma das promessas desesperadas que fiz na tentativa de manter a sanidade - ele disse, parecendo ligeiramente derrotado. - Por favor, senhorita Moore. Eu sei que não é sua função, mas estou desesperado. Meu voo sai em duas horas e eu não tenho mais a quem recorrer.

E lá estava eu, entre a tentação de sete mil dólares e o pânico absoluto de ficar trancada com três crianças por três dias. E, claro, meu husky dramático. Que combinação infernal.

Respiro fundo, olhando para meu chefe que me observava como um golden retriever abandonado em um comercial de adoção. Quase implorando para que eu aceitasse cuidar de seus pequenos... anjos. Entre muitas aspas. Onde será que estou me metendo?

- Tudo bem, senhor Blake... eu aceito. - digo por fim, após ponderar minhas opções, respirar fundo duas, três vezes e fazer uma rápida oração silenciosa aos céus e aos santos protetores de assistentes desesperadas. - Eles são apenas crianças, né? Não pode ser tão difícil.

Mentira descarada. Pode sim. Mas sete mil dólares têm um efeito calmante que nenhum chá de camomila no mundo consegue competir.

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