🥀Capítulo 4 🥀

●Aneliese Moore ●

Vejo quando o senhor Blake solta o ar em alívio, como se eu tivesse acabado de jogar um colete salva-vidas enquanto ele se afogava num mar de fraldas e gritos infantis. Ele sorri. Um sorriso genuíno, tranquilo... e, confesso, meio bonito.

Acho que nesse pequeno intervalo de tempo desde que cheguei aqui, já o vi sorrir mais do que em todos os anos em que trabalho para ele. E, céus, eu não estaria mentindo se dissesse que esse homem deveria sorrir mais vezes. Mesmo que isso me custe uma hérnia emocional e algumas noites de sono.

Mas antes que eu pudesse me perder naquele sorriso raro e perigoso, a realidade voltou e me acertou como uma bolada de criança hiperativa no parquinho: eu acabei de concordar em cuidar de três pequenos seres humaninhos que, ao que tudo indica, possuem pacto com alguma entidade do caos.

Sirius... isso é por você. Espero que esteja preparado pra conhecer o lado selvagem da humanidade.

•------•------•

• Sebastian Blake •

Com as malas prontas ao meu lado, observo atentamente enquanto Anelise se apresenta a cada um deles - minhas adoráveis crias do apocalipse. Estou em modo alerta, lendo cada expressão com o cuidado de um especialista em desarmamento de bombas. Meus olhos os analisam como se eu pudesse prever o exato momento em que planejariam transformar a vida de Aneliese num roteiro digno de filme de terror familiar.

Mas, surpreendentemente, até agora tudo parece... calmo. As gêmeas sorriem como se fossem alunas exemplares de um internato suíço, e Lucca - o mais velho e definitivamente o mais estrategista dos três - aperta a mão de Aneliese com um sorriso tão doce que até eu quase me enganei. Quase.

- Coitada. - ouço a voz arrastada e debochada de Jade ao meu lado, me puxando de volta à realidade. - Ela vai precisar de terapia intensiva quando isso acabar.

Ela fala baixo, mas o suficiente para que eu possa ouvir e para me fazer franzir a testa.

- Não é para tanto. - resmungo, tentando me convencer disso mais do que a ela. Observo a cena à minha frente, onde as gêmeas já estão acariciando a cabeça do cão que está bem comportado, sentado ao lado de Anelise. - Eles prometeram se comportar.

- Aham. Assim como prometeram para a francesa que fugiu no segundo dia e deixou um pedido de socorro escrito com pasta de dente no espelho do banheiro, lembra? - ela diz num tom absolutamente tranquilo, quase entediado. - Ou para aquela que chorava escondida no banheiro, achando que ninguém percebia. Você já pensou em contratar um padre ao invés de uma babá?

Reviro os olhos.

- Meus filhos sabem quando passam dos limites, Jade. Eles não fariam nada com Aneliese. Eles sabem que...

- Que você tem uma queda por ela? - completa, como quem comenta sobre o tempo. Com a maior naturalidade do mundo.

Viro o rosto para encará-la, perplexo, meus olhos quase saltando das órbitas .

- Você enlouqueceu? De onde diabos tirou isso?

- Gaspar me contou. E sinceramente? Eu também percebi. - ela responde, com aquele sorrisinho que ela sempre dá quando sabe que está cutucando uma ferida aberta. - A forma como você olha para ela... é quase romântica. E sinceramente, não te julgo. Ela é linda. Um pouco mais nova, é verdade, mas encantadora. Uma mistura de graça, desespero e competência. Pena que depois desses três dias, talvez só reste o desespero.

- Primeiramente, Gaspar está vendo coisas onde não tem. - respondo, tentando manter o tom profissional e calmo. - Aneliese é minha secretária. Minha relação com ela é puramente profissional.

Mas meus olhos, por traidores que são, desviam para ela naquele instante. Ela sorri de algo que as meninas dizem - e sorri bonito. Um sorriso leve, sem defesas. Um que raramente vejo no escritório. E nesse momento, Marie pega a mão dela e praticamente a arrasta em direção a sala de jogos, com Lucca e Maya, junto com o cão, que esqueci o nome, as seguindo como quem leva uma oferenda ao altar do caos.

- Segundo... - continuo, mesmo me sentindo um tanto exposto. - Meus filhos não são monstros. Eles são...

- Pequenos demônios que me amarraram na cama com fita adesiva enquanto eu dormia e deixaram um rato morto ao lado do meu travesseiro esta manhã. - diz ela com tanta naturalidade que me arrepio. - Se não fosse pela Vivian, que ouviu meus gritos enquanto arrumava os quartos, eu ainda estaria lá. Amordaçada. Com um rato de olhos arregalados como companhia.

- Ah, por favor, você exagera! - retruco, sem tanta convicção.

- Exagero? Um deles me perguntou hoje de manhã qual era o tamanho exato do olho humano fora da órbita. Eu não sei o que você tem alimentado nessas crianças, Alex, mas sugiro que mude a receita. Suas futuras babás agradecem.

Dou um suspiro cansado e olho novamente na direção em que as crianças levaram Aneliese.

- Que Deus a proteja.

Jade sorri, vitoriosa.

- E que você comece a admitir logo que está apaixonado por ela antes que essas crianças a devorem viva.

- Não estou apaixonado por ela. - digo com firmeza, pegando minhas malas e saindo da mansão. O ar frio me ajuda a disfarçar o incômodo, mas não o suficiente para afastar as palavras que Jade insiste em me jogar.

- Não há nada errado em seguir em frente, Alex - ela responde, com aquela voz suave que me desarma. - Já fazem quatro anos...

- Já chega, Jade. - corto antes que ela vá longe demais. Não quero discutir isso. Não agora. Não assim.

Ela apenas balança a cabeça, em silêncio, e entra no carro. Faço o mesmo. O motor ronca e seguimos em frente, cada um imerso nos próprios pensamentos.

Fazem quatro anos desde que Elizabeth se foi. Eu sei que Jade tem razão. Sei que não posso viver eternamente no passado. Mas o vazio que ela deixou não é algo que se preenche - muito menos com outra pessoa.

Ninguém ocupará o lugar dela. Nem na minha vida, nem na dos nossos filhos. Manter distância é a forma que encontrei de preservar sua memória. E se isso significa abrir mão de novos começos... então é o preço que estou disposto a pagar.

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