O silêncio no elevador parecia mais alto que qualquer grito. Me encarei no espelho e não reconheci aquela garota com olheiras disfarçadas por corretivo, cabelo desalinhado e alma em frangalhos. Eu não era mais eu. Alguma coisa tinha ficado naquele apartamento. Talvez o gosto do vômito na minha garganta, talvez a frase dele latejando nos meus ouvidos:
"Claro que não. Te dava dinheiro pra abortar."
Engoli em seco. O coração apertado no peito, um aperto mais fundo que qualquer enjoo.
Quando as portas se abriram no térreo, quase tropecei em mim mesma, tropecei na vergonha, na pressa de sair dali e respirar longe dele.
Mas o destino… o destino tem um humor cruel.
Ela entrou.
July.
Vestia um vestido curto azul-petróleo com detalhes em renda, salto delicado, um perfume enjoativo e doce demais. Pele branca quase translúcida, cabelos pretos escorridos até a cintura, e uma voz fina como um mosquito irritante.
— Oi! — sorriu grande demais. Grande demais pra ser sincero. — Ai, esqueci seu nome… M