Eu não vim atrás de você — deixei claro, atravessando a sala antes mesmo do Misa me convidar a entrar. O cheiro de café frio e madeira encerada ainda pairava no ar. A vista das janelas amplas recortava os telhados do bairro em quadros escuros. — Cadê a sua… visita? — corrigi, sem fazer questão de ser polida. — Cadê a July?
— Você veio falar com a July? — ele repetiu, surpreso, o olhar escorregando para o Tom, que fechava a porta com discrição. — E esse cara é…?
— Um amigo. — cortei. — Onde ela está?
— Acho que ele tá com ciúmes de ti — o Tom provocou, rindo baixo.
— Misa, outra hora a gente conversa sobre o Tom. Agora eu quero saber onde a July está.
Ele abriu a boca para responder, mas não foi preciso. O salto fino bateu no degrau — tac, tac, tac — e a July apareceu no topo da escada como se descesse uma passarela. Casaco claro jogado no antebraço, vestido justo, o mesmo sorriso cínico de sempre. Reparei no detalhe que me feriu e, ao mesmo tempo, me aliviou: as mãos dela vinham nuas,