Eu já não tinha força para gastar a raiva nos móveis. A sala parecia um campo minado que eu mesmo havia detonado: uma estante sem porta-retratos, vidros pulverizados no tapete, o sofá desalinhado. Minha mãe ficou de pé, bem no meio do caos, e apenas me abraçou. Não havia sermão nem frase feita que desse conta do que eu sentia.
— Vamos tomar um banho quente, querido — murmurou, a voz pequena, como se temesse que qualquer volume a mais me rachasse por dentro.
— Eu não quero banho — respondi, infantil, áspero, feito um moleque de dez anos em pirraça. — Quero matar o seu marido.
— Não fale isso, Misa! Nem de brincadeira!
— Não é brincadeira, mãe. Olha ao seu redor. Tudo gira em torno do poder que ele quer acumular. Poder que está custando a vida da Margo.
Ela empalideceu. Ainda assim, instintivamente, defendeu o império e o imperador.
— O que o seu pai teria a ver com…?
— Para de fingir que não sabe — rebati, a voz estourando. — Não se faça de ignorante!
— Não fale assim comigo. Eu sou su