Luiza nunca quis ser freira, apesar de ter vivido em um convento desde o nascimento. Em vez disso, dedica-se aos afazeres domésticos e à organização de eventos da igreja. Seus vestidos floridos e brancos refletem seu espírito livre. Moradora de uma pequena cidade na Itália, Luiza é conhecida por todos, mas nunca teve a chance de sair de lá, exceto a pedido das freiras. Em seu quarto, um retrato de sua mãe, que ela nunca conheceu mas ama profundamente, repousa sobre uma cômoda de madeira.Kalil, por outro lado, sempre valorizou a liberdade. Seguindo os passos de seu pai, tornou-se um caçador de recompensas implacável, famoso por nunca deixar um trabalho inacabado. Sem deixar vítimas vivas e sem levantar suspeitas, Kalil mantém uma reputação impecável entre aqueles que o conhecem.Dois destinos tão distintos estão prestes a colidir, em uma trama onde o desejo de liberdade e os laços de sangue desafiarão todas as expectativas.
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Mal acordei e já estava sendo obrigada ouvir o que iria fazer ao decorrer do dia. O silêncio é divino, mas os olhares invejosos e julgadores das freiras me deixa nervosa e com vontade de retribuir os pensamentos intrusos. Madri ditava o que eu deveria fazer, mas eu só tinha cabeça para pensar em um dia após o outro. — Bom dia, Luiza. Vejo que acordou disposta hoje! — Madri discorre, me observando sentada a mesa, enquanto fazia meu desjejum. — Bom dia, Madri. Um pouco exausta pela note de ontem, mas sim, estou disposta. — Enfiei um pedaço de pão na boca, encharcado com pasta de amendoim, bebendo um copo de leite em seguida. — Ótimo! Preciso que vá comprar tecidos, amanhã haverá um casamento de última hora e preciso que nós auxilie com os afazeres. Ela faça de uma forma como se eu não fosse útil para nada. Eu vivo excluída pelo fato de não querer ter me tornado freia e ter entregue meu corpo a Cristo, mas eu estou farta de tantos segredos sobre mim mesma. A única recordação que tenho da minha mãe é uma foto e fora isso, não sei mais nada sobre mim. Quem é o meu pai ou como eu vim parar aqui, por exemplo. Encerrei meu café da manhã ainda na metade, peguei minha blusa e fui até a loja da mãe da Bella, onde comprava os tecidos e os demais artigos. — Amanhã será meu aniversário e quero te ver lá também. — Eu mal pisei na loja e ela já me contava seus planos, o que não me animava nenhum pouco. — Você sabe que eu não posso, Bella. As freiras me matariam se soubessem que eu frequento festas e além disso, eu não quero mais confusão. A Madri me deu uma bronca, somente porque soube que eu passei a tarde em sua casa, imagina se ela soubesse que eu fui a uma festa sem sua permissão? — Luiza, você já tem idade para ser independente. Até quando vai deixar elas controlar sua vida? Afinal, até quando você vai continuar vivendo como uma prisioneira? — Até o dia em que eu consegui sair daqui, ir para um lugar mais avançado, arranjar um emprego e ser independente. Até lá, eu tenho que obedecer, ouvir e concorda calada com tudo que dizem. — Eu posso falar com a minha mãe, ela conversa com a Madri e explica que vai ser um aniversário reservado. Crescemos juntas, Lu. — Seu olhar melancólico me encarava de uma forma que me deixava constrangida e sem graça ao mesmo tempo. Isabella é o tipo da amiga que salva qualquer um dos dias tristes. Mesmo com seus 21 anos incompletos, ela já sabe muita coisa sobre a vida fora dos muros daquele convento. É dela que eu ouço os melhores conselhos sobre como não ser mandada por um homem ou como os bebês nascem. Tudo que sei sobre sexo e assuntos relacionados, foi Bella quem me disse e explicou tudo e eu agradeço a ela por não ser uma desinformada, para quando finalmente criar asas e sair voando por aí. — Quero três metros de seda, dois metros de linho e os arranjos de flores brancas e lilás que você tiver. E eu sinto muito, mas não vou poder ir, infelizmente. Mas quero que me conte como foi depois, o que aconteceu e quem estava lá. — Tudo bem! — Ela começou a separar o tecidos e as flores, em alguns minutos ela já havia embalado tudo e anotava na caderneta para que a Madri pagasse depois. — Sabe Lu, eu acho que as freiras te fazemos de fantoche o tempo inteiro. Você deveria ser mais independente, criar asas e voar com suas próprias asas para onde quiser ir, não ficar ouvindo o que tem que fazer ou não. Você não sente falta da liberdade? Os dias de eventos na igreja é o que me salva dos dias solitários e tristes. Apesar de maior de idade, querendo ser independente, Madri ainda insiste que eu devo esperar um pouco mais para sair do convento e ir ao mundo. Mas todas as vezes que converso com Bella, sinto que estou perdendo minha vida, pois não quero ser freira e também não posso escolher ser algo porque me impedem. — Não vemos depois, vá ao chá amanhã na casa das flores. Feliz aniversário, tenha uma ótima festa, beba com moderação e me conte tudo depois. — Lhe desejei felicitações com um abraço de despedida, peguei os embrulhos e fui embora. — Você faz falta, sabia? — Olhei para trás uma última vez e a vi sorrindo, mal sabendo ela que eu também sinto falta de muitas coisas. — Também sinto sua falta. Juízo! — Lhe mandei um beijo no ar e apressei os passos até a volta ao convento. As portas do convento estavam fechadas, apenas uma janela aberta e parecia que tinha algo estranho no ar, ou para acontecer sem aviso prévio. As freiras estavam reunidas na sala de reuniões, até que irmã Maria me viu e veio até mim, me apalpando.com suas mãos pesadas e me certificado de que eu estava vida e ali. — Graça a Deus você já chegou, meu anjo. — Sua voz melancólica me fez ficar apreensiva, Maria era sempre mais atenciosa do que as demais e eu nunca entendi essa sua super proteção. — O que houve? Eu fui apensar fazer o que a Madri me pediu e já estou aqui. — Coloquei os embrulhos em cima da mesa e quando iria dar as costas, Martin continuou: — Um invasor invadiu a cidade. Não podemos confiar em todos, os dias de hoje estão perigosos demais. — Eu irei tomar cuidado. Obrigada pela preocupação. De fato, Bella tenha razão. Aqui eu sou mais um fantoche para elas, já pensou se a porta está trancada e eu não consigo entrar a tempo? Estavam arrumando meus livros, quando ouvir passos e encontrei o ouvido na porta para ouvir o que iriam dizer e pasmem, era a Madri e a irmã Maria tendo um diálogo bem interessante. "Ela já não é mais uma garotinha, até quando vamos esconder a verdade para ela? Ela precisa saber, Madri" "Ainda não é o momento, Maria. Luiza é apenas uma garota ingênua, não está preparada para o mundo lá fora. Há muitas coisas que ela ainda precisa aprender. Ela não vai sair daqui enquanto agir como uma criança ainda". "Até quando ela irá viver sem saber a verdade sobre sua mãe? É a vida dela que estamos guardando segredo dela mesma, até quando, Madri?" Preferi não abrir a porta, embora os segredos sobre mim sejam perturbadores e eu não faço ideia do que se trata ou onde minha mãe anda. Pensativa, talvez eu dê razão a Bella, talvez eu queira um homem para chamar de meu, quem sabe só assim eu consegui sair daqui e descobrir quem realmente eu sou de verdade. Kalil Ligação Ativa "Se desta vez essa merda sair errada novamente os mortos serão vocês, está me entendendo, Jaz? Essa é a segunda vez que você deixa rastro seus por onde passa!" "Eu já reforcei os homens, Kalil. Não é minha culpa se todos fazem esse caralho errado, eu te disse que eu sozinho faria conta de tudo mas você nunca me escuta, pensa que eu sou ruim demais para trabalhar sozinho." "Talvez porque você nem mesmo saiba treiná-los como deveria. Então faça essa merda direito, será que não dá pra enterrar uma bala na cabeça de alguém sem sentimentos? Que porra você é?" "Sim, sou eu que os treinos, mas não é tão fácil como parece ser. Deveria ter escolhido os homens com pelo menos a habilidade de saber alvejar, não esses garotos que mal sairam das fraldas. As vítimas estão ficando cada vez mais espertas do que pensávamos que seria possível, mas..." "Não quero mais porquês Jaz. Já te dei tempo o suficiente para melhorar. Hoje será seu último dia trabalhando para mim e se alguma coisa der errado hoje, pode considerar sei fim também. Estou esperando as informações que estão na prancheta, as envie para mim e depois pode acertar seu pagamento com o Robert." "Pode deixar que hoje nada dará errado." "Assim eu espero!" Ligação InativaKalilOs últimos meses foram os mais intensos da minha vida. Enfrentar Will, lidar com o sequestro de Luiza, desmascarar Helena, e finalmente colocar um fim em todo o controle que o passado tinha sobre nós... Parecia que, a cada passo, a vida nos testava, nos desafiava a sermos mais fortes, mais resilientes. Mas agora, enquanto eu caminhava pela praia ao lado de Luiza, o vento tocando nossos rostos e o sol lentamente se pondo no horizonte, pela primeira vez eu sentia que tudo estava onde deveria estar.Eu olhei para ela, andando ao meu lado, a pele dela brilhando à luz do pôr do sol. O sorriso que eu tanto amava estava ali, genuíno, sem a sombra de medo ou incerteza que carregamos por tanto tempo. Nós havíamos vencido.— Parece que faz uma eternidade, não é? — ela perguntou, interrompendo o silêncio pacífico entre nós. Sua voz estava suave, mas carregava aquele tom reflexivo que sempre me encantou.— Sim, parece — eu respondi, parando e virando para encará-la completamente. — Mas, ao
KalilEu sabia que não podia seguir em frente até resolver tudo com Will. Ele ainda estava lá, à espreita, como uma sombra sobre nossas vidas. Mesmo que a verdade sobre Helena tivesse sido revelada, Will ainda era o verdadeiro inimigo. Ele não só tinha manipulado a vida de Luiza como estava envolvido em negócios sujos que nos ameaçavam a qualquer momento.Eu precisava dar um fim nisso. Era hora de encarar Will, de homem para homem, e resolver as coisas de uma vez por todas.Cheguei ao galpão onde ele operava seus negócios ilegais. O local era sombrio, e a tensão no ar era quase palpável. Homens armados estavam por toda parte, mas eu havia marcado essa reunião. Will sabia que eu estava vindo, e ele estava esperando.Quando entrei no escritório improvisado, lá estava ele. Will estava sentado à mesa, um sorriso frio e calculista no rosto, como se já tivesse planejado tudo.— Finalmente, Kalil. Achei que você nunca apareceria — ele disse, acendendo um charuto. — O que te traz aqui? Veio p
Kalil Eu saí do apartamento de Helena, mas o silêncio que me envolveu era pesado. Luiza estava esperando por mim no carro, seu olhar cheio de perguntas e preocupação. — E então? — ela perguntou assim que eu entrei no carro. — O que aconteceu lá dentro? Respirei fundo, soltando todo o ar preso em meus pulmões. — Ela mentiu, Luiza — respondi, minha voz carregada de frustração. — Helena nunca esteve grávida. Ela tentou segurar essa farsa até o fim. Os olhos de Luiza se arregalaram, mas ao mesmo tempo, parecia que ela já esperava por isso. Ela tocou minha mão, um gesto de conforto. — Sinto muito, Kalil. Eu sei que isso não foi fácil. Eu olhei para ela, tentando processar tudo o que havia acontecido. — Eu não sei o que me deixa mais irritado, se é o fato de ela ter mentido ou o fato de eu ter sido ingênuo o suficiente para acreditar. Luiza suspirou, ainda segurando minha mão. — Não foi ingenuidade, Kalil. Você só quis acreditar que ela poderia estar dizendo a verdade. Qualquer um te
Kalil A verdade estava próxima, eu sentia isso. Desde aquela última conversa com Helena, não consegui tirar da cabeça a ideia de que tudo não passava de uma mentira bem elaborada. Precisava de provas, algo concreto para desmascará-la de uma vez por todas. Luiza estava ao meu lado, como sempre, me ajudando a organizar meus pensamentos, me dando a força que eu precisava. — Você já pensou em falar com o médico dela? — sugeriu Luiza, enquanto estávamos sentados à mesa da cozinha, tomando café. — Ele deve saber de algo. — Não sei se é uma boa ideia — respondi, pensativo. — Ela pode ter manipulado tudo, até o próprio médico. Luiza me olhou com seriedade, os olhos cheios de determinação. — Kalil, você precisa parar de pensar no que Helena pode ter feito. Se ela realmente está mentindo, temos que descobrir. O médico pode ser a chave para isso. Respirei fundo. Ela estava certa. Eu já tinha chegado longe demais para parar agora. — Ok — disse, finalmente decidido. — Vou atrás do médico. Pe
Kalil Eu sabia que algo estava errado. Desde a última vez que vi Helena, suas desculpas tinham se tornado cada vez mais desesperadas. A promessa de que me mostraria os exames nunca se concretizava. E, embora ela mantivesse a máscara de controle, seus olhos vacilavam. Era como se estivesse prestes a desmoronar, mas se segurando com todas as forças. Eu não podia mais ignorar. Algo dentro de mim gritava que era uma farsa. Enquanto eu dirigia para a casa de Helena, minha mente girava com perguntas. Luiza estava certa desde o início. Eu sentia isso. Precisava de respostas antes que Helena destruísse mais da minha vida. Quando estacionei em frente ao prédio dela, me dei conta de que havia preparado mentalmente todas as possíveis reações dela, mas nenhuma delas parecia ser o suficiente para o que estava por vir. Helena abriu a porta com um sorriso forçado. Era claro que ela não esperava me ver ali, sem aviso. — Kalil, o que faz aqui a essa hora? — a voz dela era um disfarce para o nervo
Luiza Eu tentava manter minha mente focada no que realmente importava: salvar minha família do controle de Will e manter o pouco de normalidade que ainda nos restava. Mas, toda vez que Helena aparecia, algo me parecia errado. Não era só o jeito como ela agia ou a forma calculista com que nos manipulava. Era algo mais profundo, algo que eu não conseguia nomear, mas que me fazia desconfiar. As últimas semanas foram um teste constante para mim e Kalil. Helena sabia exatamente como provocar e forçar uma reação. E agora, com a gravidez no centro de tudo, ela parecia ter todas as cartas nas mãos. Ou pelo menos era o que ela queria que acreditássemos. Kalil estava tenso. Eu via isso em seus olhos, no jeito como ele evitava falar abertamente sobre Helena. Ele estava cansado, e eu entendia por quê. Era como se estivéssemos caminhando em um campo minado, sem saber qual seria o próximo passo que nos faria explodir. — Ela está exigindo mais tempo — ele murmurou, sentado à beira da cama, esfreg
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