Após dez anos longe de casa, Martina retorna a Sicília para enterrar o corpo do pai e assumir seu lugar como nova líder da família Angiulio, agora uma mulher adulta e capaz de tudo para alcançar seus objetivos, atravessando todos os obstáculos e trilhando um caminho perigoso ela pretende encontrar o culpado pela morte de seu pai e púni-lo de maneira exemplar custe o que custar.
Leer másO céu estava escuro quando o avião pousou no aeroporto de Nápoles, o frio seguia implacável como era esperado daquela época do ano, abotoei meu casaco como uma maneira de impedir o vento de entrar, tomei um último olhar pra trás antes de seguir rumo a minha escolha, talvez eu nem tivesse escolha afinal, nao quando o sangue fala tão alto.
Meus passos logo se tornam inaudíveis entre as conversas da multidão, alguns passos e encaro Mateo distante, ele esta diferente de como eu me lembrava, os olhos azuis parecem profundos e as olheiras entregam as noites mal dormidas, mas sua presença imponente continua a mesma, como um animal prestes a atacar, as pessoas se desviam dele involuntariamente, mas os olhos mais corajosos e curiosos acompanham seus movimentos, por um minuto sinto um sentimento familiar, mas o empurro para o mais profundo da minha mente e termino meu trajeto até ele, apesar das mudanças seu perfume continua o mesmo e ainda preciso levantar meus olhos para conseguir encara-lo.
-Como foi o voo? -Sua voz grave chamou minha atenção e desligou meus pensamentos.
-Cansativo, nao esperava chegar tão tarde, mas parece que o que eu quero nao importa, como sempre.
-Todos te esperam na mansão, alguém virá pegar sua bagagem.
A idéia de voltar pra casa me parece estranha, por muitos anos a mansão foi o meu lar, por toda a infância estive correndo por seus corredores e salas, completamente alheia a realidade cruel da minha família.
O caminho é percorrido em completo silêncio, com qualquer outra pessoa o silêncio prolongado seria desconcertante, mas com Mateo era reconfortante como uma pausa do mundo antes de mergulhar na realidade de dor e caos que me esperava.
Os portões da mansão se abrem e consigo ver os jardins e a árvore com o meu balanço agora cobertos de neve, ao passar pelas grandes portas de madeira, o barulho dos passos no assoalho e toda a agitação e conversa mantém minha mente fixa no presente, mas inevitavelmente um misto de sentimentos me sufoca ansiedade, nervosismo, tristeza e até saudade.
-Bem vinda senhora, seu quarto está pronto e o jantar será servido assim que autorizar.
A mulher de baixa estatura e rosto inexpressivo permanece a alguns passos em um sinal de respeito velado. Aceno positivamente realmente nao muito interessada no jantar e finalmente sentindo a realidade me atingindo, estou em casa, pela primeira vez depois de dez anos, estou em casa.
Ficar perdida entre os papéis espalhados pela mesa não era melhor do que ficar na cama olhando para as paredes pintadas em tons pastéis do quarto de hóspedes. Entre todos os males o pior eu acho, larguei as folhas sobre a mesa e me apoiei na cadeira respirando com um pouco de dificuldade por causa da dor que insistia em me incomodar a cada movimento, por maus simples que fosse. - Nádia, pode ir até o quarto e pegar o analgésico pra mim por favor, já está na hora. - Sim senhora. Contratar Nádia se mostrou uma escolha muito acertada, ela estava cuidando muito bem da administração de tudo relacionado aos assuntos legais, e até com os assuntos não tão lícitos assim, além do mais era esperta e aprendia rápido, o fato de ser bonita também ajudava a abrir as portas mais facilmente. - Aqui senhora. Me ofereceu o frasco e colocou um copo de água na mesa a minha frente. - Obrigado Nádia. - Disponha senhora. Engoli o comprimido me
É impensável como apesar de conviver com uma pessoa mesmo que diariamente, não saibamos verdades tão duras sobre elas. Aqui olhando para Lúcio, mesmo por um momento eu pude ver um pouco da intimidade que ele tentava manter enterrada, da infância dura e difícil, a juventude violenta e ao amadurecimento que o tornou o homem que é hoje.Mesmo que a história fosse mais sobre ele, também via a figura tão amada e maternal que minha mãe havia sido para ele, como havia sido pra mim também pelo pouco tempo em que pudemos ficar juntas.- Nunca imaginaria algo assim Lúcio.- Eu sei menina, sua mãe era uma mulher inigualável em muitos aspectos, e você têm muito dela sobre isso.- Não sei Lúcio, olhando para o meu reflexo no espelho talvez eu veja seus traços distintos, os mesmos olhos como você diz, mas não acho
Lúcio permanecia quieto em frente a janela, mas seu olhar que antes estava lá fora agora encarava meus olhos com divertimento e audácia que lhe era tão característica. Ponderei minhas opções, entre ir até ele ou ficar sentada na poltrona, é claro que ficar sentada confortavelmente me atraiu mais do que ter que me levantar e sentir mais dor do que já estava sentindo. - Pode vir se sentar Lúcio. - Sim senhora. Ele apagou o cigarro o jogando na lixeira ao lado da mesa e caminhou sorrateiro até a poltrona ao lado da minha. - Sobre o que quer falar menina, não tenho muitas novidades sobre Tommaso. - Eu sei, apenas fique aí. O homem era malditamente atraente, os olhos castanhos e expressivos, o rosto que parecia ter sido esculpido por algum artista da Roma antiga, a barba por fazer, o ar de selvageria e perigo que o tornava tão ameaçador quanto sexy, a camisa justa delineando o corpo masculino que fazia minhas mãos formigarem ao imag
Não demorou muito até Nádia estar de volta ao escritório uma vez que Franccesca tinha ido embora. - Bom dia senhora. - Bom dia Nádia, como estamos hoje? - Tudo sob controle. - Ótimo. Nádia vestia um vestido preto com mangas três quartos justo ao corpo, deixando suas curvas delicadas mais aparentes do que ela normalmente deixava, também não me passou despercebido o uso de maquiagem e o cabelo bem arrumado, não que antes ela estivesse bagunçada longe disso, mas apesar de ser uma mulher muito bonita, ela sempre optou por um estilo mais confortável e um pouco apagado e agora estava aqui toda dona de si sobre saltos matadores. - Você está bonita Nádia, toda essa arrumação é para alguém em especial? - Não senhora, eu só quis me arrumar um pouco mais. O rosto corado denunciou a meia verdade que escapou de seus lábios. - Não precisa me contar se não quiser Nádia, mas eu fico feliz se você está feliz, apenas me diga se e
Procurei entre as peças de roupa que estavam no cômodo, alguma coisa confortável que ficasse pelo menos apresentável, terminei por vestir um vestido azul escuro que deixava meus ombros expostos, o tecido estruturado deu um pouco de trabalho pra subir pela minha pele, mas com algum esforço e depois de alguma resistência ele se ajustou, não tinha certeza que conseguiria me manter em pé sobre sapatos altos, então apenas coloquei uma sapatilha fechada. - Senhora, a senhora Franccesca já chegou e está esperando pela senhora no seu escritório. Izabel apenas falou do outro lado da porta de maneira que apenas eu escutasse. Preferi não colocar nenhuma maquiagem e manter os cabelos soltos, me ajudando a formar uma imagem mais clara da história que eu iria contar. Dei uma última olhada no espelho e saí seguindo até o escritório, precisava que tudo saísse perfeito e impecável, e Franccesca tinha olhos bem aguçados para tudo, ela não iria engolir qualquer história boba.
Me levantei da cama, com calma e movimentos lentos, ignorando a dor incomoda, depositei a xícara sobre a mesa de apoio e firmei os pés no chão testando meu equilíbrio enquanto respirava fundo, segui meu caminho um passo de cada vez até o banheiro, me concentrando em todos os detalhes importantes da história que tomava forma na minha mente agitada, não era o ideal, mas teria que servir, sem dúvida nenhuma era melhor do que a realidade. Tomei um banho rápido, evitando lavar o cabelo, ainda não estava recuperada o suficiente pra isso, e Mateo o tinha lavado a não muito tempo, os curativos também tinham que ser trocados e me amaldiçoei por não conseguir fazer isso sozinha, voltei ao quarto de toalha, procurando meu telefone na cabeceira da cama, disquei o número de Mateo aguardando enquanto tocava. - Está tudo bem Martina? - Sim, está ocupado? - Estou, mas se precisa de mim... - Na verdade eu preciso de ajuda com os curativos e não quero incomodar
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