Depois daquele dia, Alicia passou alguns dias sem ir à faculdade. Ela não queria encontrar Taylor. Suas amigas enviavam o conteúdo das aulas para que pudesse estudar em casa. Sua mãe, embora preocupada, preferiu não perguntar o motivo de sua ausência, mas sentia que algo estava estranho. Talvez fosse pela mudança que se aproximava — em menos de um mês, estariam de partida. Desde que deixou Alicia na casa da Letícia, Taylor não a viu mais e tampouco entendeu por que ela não voltara à faculdade. No fundo, ele sabia que o motivo era ele mesmo. Sentia-se culpado por tê-la beijado. O celular de Alicia não parava de tocar. Quando viu que era Letícia insistindo, suspirou e finalmente atendeu: — Oi, Letícia. — Alicia, vai continuar faltando à faculdade mesmo? Não acredito nisso! — respondeu já brigando. — Eu sei... mas... — Mas nada! Tô falando sério! Amanhã quero você aqui, mocinha. Não sabemos o que aconteceu entre você e o idiota do Taylor, mas não é justo você se esconder enquanto ele finge que nada aconteceu. As duas riram, colocaram as fofocas em dia e combinaram de fazer algo no dia seguinte. Alicia ficou feliz em saber que podia contar com Letícia — sua melhor amiga. Na manhã seguinte, Alicia acordou animada. Já fazia mais de uma semana desde o ocorrido. Pensava consigo mesma: Talvez ele até tenha esquecido aquele beijo... que nunca deveria ter acontecido. Vestiu um conjuntinho básico rose, prendeu o cabelo em um rabo de cavalo e passou uma maquiagem leve. Ao chegar à faculdade, suas amigas já a aguardavam. — Alicia, que bom que você veio hoje! Esses dias foram muito chatos sem você. A Letícia ficou insuportável tentando me controlar. Não faz mais isso, tá? — disse Fernanda, dramática. As duas riram da reclamação. Mas Alicia lembrou que em breve se mudaria. E não seria para um lugar próximo. Seria outro país. Outra vida. Seu coração apertou. Aqueles dias seriam de despedidas. Seu pai já havia alugado a nova casa. Estava tudo pronto — só faltava ele voltar para que todas pudessem ir. Ela nem sabia como contar aquilo para as amigas. Mas precisava fazer isso logo. — Meninas... — disse, olhando para elas, procurando as palavras certas. — O que tanto te incomoda, Alicia? — Letícia perguntou, preocupada. — É melhor a gente entrar... não queremos nos atrasar, né? — respondeu Alicia, sorrindo para disfarçar. Não queria tornar aquele momento ainda mais difícil. As duas amigas se entreolharam. Sabiam que havia algo errado, mas decidiram fingir que estava tudo bem. Foram conversando, atualizando Alicia sobre as matérias e provas. Pensamentos de Alicia: Caminho com as meninas e parece que tudo está normal. Estudantes entrando em suas salas, algumas garotas que não gostam de mim me lançando olhares como se eu não devesse estar aqui... E aquela ficante do Taylor, com aquele olhar desafiador, como se soubesse do beijo. Respiro fundo, ignoro tudo e entro na sala com elas. Me sento ao lado da Letícia e começo a revisar o material. Mas então... BAM! Uma batida forte na mesa a faz se assustar. Alicia olha com raiva para a autora do ataque. Suas amigas se levantam rapidamente ao seu lado. — Sua vaca! Além de fisgar o Marcos, ainda tem que seduzir o Taylor?! Fique sabendo que já estou de olho nele bem antes de você! Fique longe do meu namorado! — gritou Cristina, furiosa, chamando a atenção de todos. Alicia olhou para ela, surpresa com tanto desespero por um homem. Sorriu com ironia, o que só aumentou a raiva da rival. — Não vai falar nada? Por que essa risadinha...? — Cristina começou a avançar, mas foi interrompida pela entrada repentina de Taylor. — Que porra é essa, Cristina?! — gritou ele, com raiva nos olhos. Cristina correu até ele. — Taylor, eu... eu... — tentou pegá-lo pela mão, mas ele se afastou, empurrando-a com firmeza. — Sua louca! Nunca disse que você é minha namorada! Acha mesmo que eu quero algo sério com você? — disse, rindo com desprezo. Depois, virou-se para Alicia e se aproximou. — Alicia, me desculpa. Essa doida não sabe o que fala. Você está bem? — perguntou, segurando sua mão, deixando-a ainda mais confusa. O que ele queria agora? — Nunca mais grite com ela! Ela é como uma irmã para mim! — Taylor falou alto, para que todos ouvissem. — Não importa quem seja! Quem ousar machucar a Alicia, vai se ver comigo! Aquelas palavras foram como facas no peito dela. Irmã? pensou. Então é isso que sou pra ele? Que idiota eu fui... Levantou-se bruscamente e saiu da sala. As meninas a seguiram. Taylor foi atrás, sem entender por que ela estava saindo tão rapidamente. — Você não está se sentindo bem? Quer que eu te leve ao médico? — perguntou, preocupado. — Não preciso da sua ajuda, irmãozinho! — respondeu com ironia, deixando-o com aquela expressão abalada de quem acabara de ser desafiado. Alicia saiu da sala com raiva. As amigas correram atrás dela. — Alicia! Espera! Alicia! — Fernanda a alcançou e segurou seu braço. — Meninas, eu... eu não posso mais continuar aqui. Me desculpem. — Sua voz tremia. O coração apertava. O que mais doía não era Taylor — eram elas. Letícia a abraçou com força. — Como assim? Você não pode nos deixar! Como vamos ficar sem você? Vamos mudar juntas de faculdade! — É isso! Vamos procurar outra faculdade, Alicia! — completou Fernanda. Alicia olhou para elas com carinho. Seus olhos se encheram de lágrimas — não por causa de Taylor, mas por causa da amizade verdadeira que deixaria para trás. Puxou as duas para o jardim, onde sempre iam. Sentaram-se num banco sob uma grande árvore, o lugar delas. — Meninas, eu já devia ter contado... — começou, com a voz embargada. — Meu pai não está indo bem nos negócios aqui. Ele não quis incomodar o senhor Fidélis. Já está tudo certo... vamos nos mudar. As duas a olharam em silêncio, preocupadas. — Pra onde vocês vão? — perguntou Letícia. — Para a Itália... — respondeu Alicia, e viu nos olhos das amigas o mesmo medo e tristeza que sentia.