Olho para o céu estrelado. Já faz uma semana desde que nos mudamos para cá. Ainda não saí de casa, mesmo com minha mãe insistindo para conhecermos os arredores. Simplesmente não tenho vontade. O que martela na minha cabeça todos os dias é se a Letícia e a Fernanda estão bem. Na despedida, choramos muito. Fizemos a promessa de manter contato sempre. Ligo quase todos os dias, mas mesmo assim, a saudade só aumenta. — Filha, o que tanto olha para o céu? Seu pai chegou. Já vou servir o jantar, então desça logo! — chamou minha mãe, tentando me animar. Ela sabia o quanto eu sentia falta do papai, principalmente após os dias que ele passou longe. A empresa dele estava indo muito bem. Nossa casa agora ficava em um bairro nobre, o que nos trazia certa segurança — algo importante, já que ouvi muitos rumores sobre a máfia italiana. Papai prometeu que ficaria longe desses homens. Taylor Estou na faculdade, parado diante do lugar que costumava ser dela. Suas amigas me olham como se quisessem perguntar o que eu ainda estou fazendo ali. Respiro fundo e sigo para a saída. Ainda faltam alguns anos para me formar. Quando meu pai falou sobre a mudança de Rodolfo, aquilo me destruiu. Ela foi embora. Sem se despedir. Sem nem dizer adeus. Me senti traído. Mas talvez, no fundo, isso seja o melhor. Talvez assim ela possa me esquecer. Eu não sou alguém com quem ela poderia construir uma vida. A realidade é dura: meu pai é um dos homens mais poderosos da máfia. Cresci com esse peso sobre os ombros. Desde cedo, soube que minha vida não seria segura, e decidi que jamais me casaria. Minha mãe não aceita bem isso, mas já deixei claro que quero assumir tudo e que ela e meu pai devem aproveitar a vida. Prometi que cuidaria da Bianca, minha irmãzinha. Os anos passaram. Aprendi muito sobre o submundo. Conheci os braços direitos do meu pai, que agora me respeitam. O tio Caio se aposentou. Rodolfo, melhor amigo do meu pai, também. Trouxe o Otávio e o Fernando para trabalharem comigo. Após nossa formatura, revelei a eles o mundo em que minha família vivia. Fizemos uma assembleia e, diante dela, juraram lealdade à máfia Fidélis — e a mim. Passei por inúmeros treinamentos. Chegava ferido, muitas vezes. Meu pai dizia que eu podia desistir, mas eu insistia. Ele pensava em se aposentar, mas todos sabiam que a família Fidélis tinha muitos inimigos. Um dos maiores desafios foi liderar uma operação milionária de diamantes com destino à Itália. Um teste de fogo. Hoje, anos depois, meus pais estão envelhecendo. Já assumi o comando da máfia. Ganhei fama, e não uma boa. Sou visto como um homem frio, tirano. Aprendi várias artes de luta. Viajo pelo mundo no meu jatinho particular, sempre com alguma garota ao lado. Nunca abandonei minha fama de playboy — e, sinceramente, não ligo. Otávio e Fernando sempre me acompanham: um é responsável pela segurança, o outro pelas operações. — Senhor Fidélis, chegamos — disse um dos seguranças, interrompendo o que seria o final de mais uma noite de prazer. A ruiva sob mim arfava, gemendo alto, com marcas vermelhas nas coxas de tantas palmadas. — Vaza. — ordeno, autoritário, deixando claro que não a queria mais ali. Ela não me encara. Já conhecem meu temperamento. Se eu era frio antes, agora sou ainda pior. Os únicos com quem consigo relaxar são Otávio e Fernando. Encaminho-me para o banheiro. O segurança permanece parado, aguardando ordens. — Ok. — digo firme, sinalizando para que me deixem em paz. Tomo um banho demorado e encaro meu reflexo no espelho. Não sou mais aquele moleque mimado. Carrego cicatrizes de confrontos e músculos moldados com dor e disciplina. Meus cabelos negros penteados de lado, o olhar frio e mortal. Pareço uma versão mais jovem do meu pai — exceto pela pele mais clara. Sorrio de canto. Como me tornei esse homem que todos temem? Uma coisa eu aprendi: todos precisam sentir medo. Nunca demonstre fraqueza. E jamais deixe que descubram o seu ponto fraco. Bianca me odeia por ter que andar rodeada de seguranças, mas não posso deixá-la desprotegida. Depois que meus pais decidiram viajar pelo mundo, assumi de vez o comando. Meu pai enfrenta problemas de saúde. Viajar foi a única forma de afastá-lo do campo de batalha. Minha mãe achou melhor assim. Ele jamais descansaria estando por perto. Termino de me vestir: terno preto sob medida, cabelo impecável, e apenas uma tatuagem visível — uma cruz no pescoço. Ao sair pelo jatinho, Otávio me encara com um sorriso malicioso. Sabia o que eu estava fazendo. Fernando já havia descido para inspecionar o aeroporto. — Senhor, podemos ir? — Sim. — dou o comando. Vamos para uma das mansões da família, localizada no centro de Roma, perto do aeroporto. Tínhamos muito trabalho. Recentemente, surgiu uma nova máfia tentando se estabelecer no país. Mataram um dos nossos homens. Recebemos denúncias de sequestros de mulheres e crianças. Isso é inaceitável. Na máfia Fidélis, isso é crime mortal. A viagem durou cerca de uma hora. Ao chegar, Fernando se aproxima, preocupado: — Taylor, essa operação é muito arriscada. Melhor que você fique. Podemos ir com parte dos homens. — Não se preocupe. Confiem em mim. Tenho tudo planejado. — Falo com firmeza. Foram dias de estudo. Conheço o inimigo. Sei que esses italianos não ousarão nos enfrentar — não se quiserem ver seus homens mortos.