A noite havia chegado com seu manto silencioso sobre Silver Springs.
Após um dia de trabalho no hotel, Ashley se recolhera cedo.
Os pés cansados e o coração ainda mais.
Naquele ventre que já se arredondava, repousava seu maior tesouro — e também sua maior angústia.
Deitada, acariciava suavemente a barriga, murmurando:
— Mamãe te ama, meu anjo. Muito. Nós vamos ficar bem... juntos.
Fechou os olhos, desejando que o sono lhe trouxesse algum alívio.
Mas, ao invés disso, ele trouxe imagens que pareciam vir de um outro mundo.
Ela caminhava por um corredor estreito e escuro.
Ao fundo, um brilho fraco.
De repente, ali estava ele.
Philipe.
Mas não o homem forte e seguro que ela conhecera.
Ele estava de joelhos, a cabeça pendida, os cabelos em desalinho, um fio de sangue escorrendo pela lateral do rosto.
Os olhos, antes tão vivos, estavam perdidos, vazios... aéreos.
Ashley correu até ele, o coração disparado.
— Phil! Phil! — chamou, a voz embargada. — Olha para mim! É a Ashley!
Ele ergueu o olhar com dificuldade.
Mas seus olhos pareciam atravessá-la, como se não a reconhecesse.
— Quem... quem é você...? — murmurou, confuso.
Ashley sentiu um nó na garganta. Queria abraçá-lo, protegê-lo, arrancá-lo daquele estado.
Mas, como que presa por forças invisíveis, não conseguia alcançá-lo.
Em seus braços, como por encanto, surgiu o bebê.
Pequeno, frágil, os mesmos olhos verdes do pai.
Ela o embalava, lágrimas rolando pelo rosto.
— Phil... nosso filho precisa de você... volta para nós... por favor...
O cenário começou a se desfazer como névoa.
Philipe se tornava uma figura cada vez mais distante, cada vez mais inalcançável.
— Phil... não nos esqueça... — sua voz ecoou pela escuridão.
Ashley acordou com um sobressalto, ofegante.
As mãos imediatamente pousaram sobre a barriga, como que para proteger o bebê.
— Meu Deus... que foi isso? — sussurrou, o coração ainda acelerado.
Olhou em volta. O quarto estava em paz. A noite seguia serena.
Mas dentro dela, o sonho pulsava como uma ferida aberta.
Ela vira Philipe. Machucado. Perdido.
Será que aquilo era apenas um pesadelo? Ou... algo mais?
As lágrimas vieram sem que pudesse conter.
— Ah, meu amor... — murmurou, acariciando o ventre. — Eu queria tanto que ele soubesse de você. Que estivesse aqui... conosco.
Mas a mamãe vai cuidar de você. Vai te amar por nós dois.
Tentou se acalmar, mas o sonho deixara uma marca profunda.
E, sem saber, do outro lado, um homem também acordava inquieto, com o eco de um chamado que não compreendia.
O choro involuntário de Ashley ecoou no quarto silencioso.
Poucos minutos depois, a porta se abriu devagar e Ethel entrou, os olhos cheios de preocupação.
— Minha menina... o que aconteceu?
Ashley enxugou as lágrimas, tentando controlar a voz.
— Vó... eu... eu sonhei de novo com ele. Com o pai do meu filho.
Ele estava machucado, sangrando... e parecia perdido. Não me reconhecia. Foi horrível.
Ethel se aproximou e sentou-se ao seu lado, segurando suas mãos.
— Esses sonhos, minha filha... não são apenas fruto da tua imaginação. Quando há um amor forte, um vínculo verdadeiro, às vezes as almas se encontram mesmo no sono.
Ashley balançou a cabeça, sentindo-se ainda mais confusa.
— Mas eu não entendo, vó. Por que sinto que ele precisa de mim? Por que sinto como se ele estivesse me chamando?
Ethel sorriu com ternura.
— Porque no fundo... ele está.
Confie no teu coração, minha menina. Às vezes, o amor fala mais alto que a razão.
Ashley suspirou, abraçando-se à avó.
— Eu só espero que um dia... ele se lembre de nós.