Silver Springs sempre foi um lugar onde a água corria como promessa de vida. Nas fontes termais que atraíam visitantes de todos os cantos, dizia-se que a pureza das águas carregava mais do que minerais: carregava esperança.
E foi ali, entre vales tranquilos e ruas simples, que Ashley Ellsworth aprendeu, desde muito cedo, que nem tudo o que reluz é ouro — e que os verdadeiros tesouros da vida estavam no olhar atento da avó Ethel, nas mãos calejadas do avô Sam, e no valor das pequenas conquistas.
Criada com amor e disciplina, Ashley jamais conheceu a riqueza material. Conheceu, porém, a riqueza de caráter, de valores e de gratidão.
Mesmo quando a vida lhe trouxe provações — e trouxe tantas —, ela soube manter os pés firmes no chão e o coração sereno.
Agora, com o filho nos braços e um novo mundo se abrindo diante de si, Ashley continuava a mesma jovem determinada que ajudava a avó na cozinha e colhia flores no jardim da casa simples em Silver Springs.
— Não precisa disso, papai — dissera com um sorriso calmo quando Christian Lancaster Kavanaugh, seu pai recém-descoberto e infinitamente arrependido, insistira em presenteá-la com joias e roupas de grife. — Eu sei de onde vim. E sei quem sou. Roupas boas, eu aceito. Coisas que me façam esquecer minhas raízes? Nunca.
Ele a olhou com admiração crescente.
— Você é a filha que qualquer homem de verdade sonharia em ter, Ashley.
Ao lado dele, Sophia, a madrasta que a tratava como sangue do seu sangue, já havia preparado o quarto do bebê com um carinho que desarmava qualquer resistência.
E foi ali que a nova vida de Ashley começou a ganhar contornos inesperados.
Mas se havia um canto da casa que exalava vida — e risos —, era o que vinha das vozes incessantes de Samuel e Louis, os gêmeos de quinze anos que haviam se autodeclarado os “melhores tios do mundo” desde que puseram os olhos no pequeno Philipe Sam Harrington Fitzgerald.
— Eu falei primeiro, então o bebê gosta mais de mim — dizia Samuel, ajeitando o travesseirinho no berço com ar de importância.
— Sonha, Sam. É óbvio que ele já reconhece que eu sou o tio mais engraçado e bonito — retrucava Louis, fazendo uma careta que arrancava gargalhadas da avó Ethel.
— Se vocês dois não pararem de disputar o menino, ele vai crescer achando que vocês são dois bobos — comentava Sam, o avô, com um brilho divertido nos olhos.
Ashley apenas sorria, embalando o filho no colo, o olhar perdido nas nuances daquela nova fase da vida.
Os olhos verdes escuros do pequeno eram um lembrete constante — e doloroso — de um nome que ainda sussurrava em seu coração: Philipe.
Ela sabia que jamais fugiria da verdade que o destino lhe impusera.
Não havia promessas a resgatar, nem culpas a cobrar. Havia apenas o amor imenso que sentia por aquele menino que agora respirava em seu colo — e uma memória que insistia em viver em cada traço que o filho carregava.
Independentemente dos sobrenomes que agora estampavam a certidão de nascimento do bebê, o que realmente importava era o legado de amor, dignidade e simplicidade que ela, e apenas ela, poderia ensinar.
E no fundo do seu coração, uma certeza permanecia:
nem o ouro de Boston, nem as águas de Silver Springs jamais a fariam esquecer de quem era — nem de quem um dia havia amado.