Capítulo 5

MATTEO MANCINI

Era ela. Oito anos haviam se passado, mas a imagem de seu rosto permanecia gravada a ferro e fogo em minha memória, intocada pelo tempo. Ela estava ainda mais deslumbrante do que na última vez que a vi, uma década atrás, com uma beleza que desafiava a própria realidade. Os traços mais maduros, o cabelo esvoaçante como uma cascata de fogo, e os olhos, os mesmos olhos que me assombravam em sonhos e pesadelos, os mesmos olhos que um dia eu jurei nunca mais ver.

Ela sorriu, um cumprimento formal, tão distante e profissional que parecia que éramos completos estranhos, como se nunca tivéssemos compartilhado um passado, um fio invisível de conexão que só eu conseguia sentir.

A imagem dela, deitada na grama do jardim da casa grande, sob o sol da tarde, com os cabelos cor de cobre espalhados, invadiu minha mente. Eu, um garoto de dezesseis anos, filho da empregada, estava ali para ajudá-la com o dever de casa de matemática, algo que ela, a princesa da casa, parecia ter dificuldade. Mas, na verdade, era uma desculpa. Uma desculpa para ficarmos juntos, para roubar alguns momentos de um amor proibido que florescia em segredo.

— Matteo, você é tão inteligente — ela sussurrava, os olhos azuis brilhando com uma admiração que me fazia sentir como se eu pudesse conquistar o mundo. — Eu odeio matemática, mas com você, tudo parece tão fácil.

Eu sorria, um sorriso bobo, ingênuo. Naquele tempo, eu acreditava em suas palavras, em seus toques, dos beijos roubados no canto do jardim, longe dos olhos vigilantes de dona Celina. Alexia Diniz, a filha da patroa, era meu universo. Ela era a luz que me tirava da escuridão daquela casa opressora, onde minha mãe era constantemente humilhada. Eu sonhava em tirá-la dali, em construir um futuro onde a dignidade da minha mãe fosse restaurada e onde Alexia e eu pudéssemos viver nosso amor sem medo.

A promessa de um futuro juntos era como um mantra em minha mente.

— Quando eu for adulto, vou construir um império — eu dizia a ela, com a voz carregada de uma determinação que vinha da alma. — Vou tirar minha mãe daqui, e nós vamos ter tudo o que sempre sonhamos.

Ela riu, um som cristalino que me embriagava.

— Eu acredito em você, Matteo. Você é o menino mais determinado que eu conheço.

Mas o destino, ou talvez a crueldade da vida, tinha outros planos. Aquele verão, que parecia infinito, chegou ao fim abruptamente. Dona Celina, com sua voz fria e calculista, me chamou para uma conversa.

— Matteo, você precisa entender seu lugar. Alexia é uma Diniz, você é um Mancini. Vocês são de mundos diferentes. Não há futuro para vocês.

Alexia me amava, eu sabia. Mas então, três anos depois daquela conversa, a verdade me atingiu como um raio, ela simplesmente desapareceu. Dona Celina a mandou para o Brasil e Alexia foi. Sem uma palavra, sem um adeus, sem um olhar. Ela simplesmente sumiu da minha vida, levando consigo não apenas meu coração, mas também minha ingenuidade, minha fé no amor.

A dor da perda, do abandono, foi dilacerante. Eu a procurei, implorei por notícias, mas ela nunca respondeu. As ligações não eram atendidas, as mensagens não eram respondidas. Até que uma única mensagem foi enviada e isso deu um fim ao nosso relacionamento. Ela me abandonou, disse que não me amava. A cada dia que passava, a mágoa se transformava em raiva, e a raiva em uma determinação fria e implacável. Eu jurei que nunca mais seria o garoto ingênuo, o filho da empregada que era facilmente descartado. Eu me tornaria Matteo Mancini, o homem que construiria seu próprio império, que não dependeria de ninguém, que não seria humilhado por ninguém.

Volto ao presente, ainda encarando Alexia. Será que ela realmente não se lembra de mim? Meu rosto talvez tenha mudado um pouco, endurecido pelas batalhas da vida, pela dor e pelas decepções, mas meu nome era impossível esquecer. Ela está fingindo, era a única explicação que minha mente amargurada conseguia conceber. Alexia Diniz, a filha da patroa, não queria lembrar do seu caso com o filho da empregada, do romance proibido que a unia a mim, o garoto inferior. "Tal mãe, tal filha", pensei com um amargor crescente, uma bile que subia à garganta. Como fui tolo em acreditar em seus sentimentos no passado, um tolo ingênuo, cego por um amor juvenil que me consumiu por completo.

Se ela quer fingir, então vamos jogar o mesmo jogo, e eu serei o mestre dessa encenação. Eu não era mais o garoto bobo e apaixonado, vulnerável e facilmente manipulável. Eu era Matteo Mancini, o homem que construiu um império do nada, que se ergueu sobre as ruínas do passado.

Discutimos e eu deixei claro que não a queria em minha empresa.

Ela virou-se abruptamente e caminhou em direção à porta.

— Não sei qual é o seu problema comigo, senhor Mancini, e francamente, não me importa. Mas não admitirei ser maltratada nesta empresa. Quer me demitir? Ótimo! Então pague a indenização. Com licença, meu horário já terminou. Qualquer coisa fale com meu advogado. — ela disparou, e a porta se fechou com um estrondo, ecoando o turbilhão de emoções em minha mente. A raiva e a mágoa se misturavam, uma bomba-relógio prestes a explodir.

O silêncio que se seguiu à partida de Alexia era pesado, denso, quase doloroso. Pude sentir os olhares de Bento e Artturo queimando em mim, mas eu mal conseguia processar a presença deles. Minha mente estava em um turbilhão de memórias e uma fúria crescente que ameaçava me consumir por completo.

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