Ayla Ravelyn perdeu tudo em uma noite de lua cheia. Traída por aquele que deveria protegê-la, a jovem princesa dos lobisomens viu sua família ser massacrada e sua identidade ser apagada. — Jamais vou perdoar o que você fez. Jamais vou esquecer a sua traição. — Minha voz saiu firme, mesmo que minhas pernas tremessem. — E um dia… eu vou me vingar. Agora, sem memórias e vivendo como Lin, ela está prestes a perder tudo novamente. Seus avós adotivos estão afundados em dívidas e só há uma saída. — Case-se comigo. A proposta vem de Damian Blackthorn, um CEO poderoso e enigmático, atormentado por demônios do passado. Um casamento por contrato, um segredo enterrado e um desejo que pode consumir ambos. Mas quando as memórias começarem a emergir, será possível sobreviver à verdade?
Ler mais— Queimem tudo! Ninguém deve sair com vida desse castelo! — A voz de Magnus, o beta de meu pai, sobressaia aos gritos de desespero que inundaram o castelo. Seus lobos uivando em frenesi enquanto avançavam sobre qualquer um que cruzasse seu caminho.
Ainda não conseguia acreditar no que meus olhos viam, o lobo que vi ao lado de meu pai durante toda a minha vida estava liderando um ataque para derrubar o rei alfa. Como… Quando aquilo havia começado?
— Minha princesa, precisa fugir. — Minha babá entrou em meu quarto correndo, bloqueando a porta atrás dela. Sua voz tomada de desespero. — Se esconda na floresta até que o rei Alfa retome o controle da situação.
— É a minha mãe? Onde ela está? — O pânico me tomava, meu corpo tremendo, paralisado no chão frio do meu quarto.
A loba, já em idade avançada, segurou meu rosto entre suas mãos com carinho, acariciando minhas bochechas manchadas de lágrimas.
— Seja forte, minha pequena loba. — Com um beijo gentil em minha testa, minha babá me empurrou por uma estreita passagem na parede, que me levou até um dos corredores principais do castelo.
Enquanto a neve caía do lado de fora, uma densa fumaça negra se espalhava pelo céu, queimando meus pulmões. O cheiro de carne e madeira incineradas misturava-se ao ferro do sangue derramado pelo chão, e cada inspiração era um lembrete cruel de que tudo ao meu redor estava desmoronando. O som de gritos e garras rasgando carne ecoava pelos corredores do castelo, um pesadelo sem fim que transformava meu lar em um cenário de massacre.
Minhas solas batiam contra o chão de pedra enquanto corria o mais rápido que minhas pernas conseguiam suportar. Meus pés descalços golpeavam o chão, o sangue dos guerreiros caídos formando poças escorregadias sob meus passos, quase me levando ao chão várias vezes. Eu tentava não olhar para os corpos, não pensar nas expressões congeladas de dor e terror, mas era impossível. Essas imagens se cravavam em minha mente como farpas afiadas, e eu sabia que jamais as esqueceria.
O castelo que antes era meu lar se transformou em uma armadilha de fogo. Eu precisava chegar ao grande salão. Meus pais estariam lá. Eles sempre estiveram lá. Assim que os encontrasse, os convenceria para partirmos, abandonar aquelas terras de uma vez.
Virei um corredor ao ver uma movimentação a frente, e tropecei em algo macio. Bati com força contra o chão, minhas mãos se ferindo no impacto ao proteger meu rosto. Olhei sobre o ombro e meu coração congelou quando percebi que o objeto no qual tropecei era uma das servas da minha mãe. Seu olhar vazio me encarava, seu peito rasgado até a barriga, expondo seus órgãos. Levei a mão à boca para conter um soluço. Virando o rosto, me levantei. Não havia tempo para chorar.
“Continue correndo, Ayla. Eles precisam de você.”
Quando finalmente alcancei o grande salão, um calafrio percorreu minha espinha. A cena diante de mim era algo saído dos meus pesadelos mais sombrios.
Meu pai, o Rei Alfa, estava no centro do salão, sua imponente figura coberta de sangue e ferimentos. Sua respiração era pesada, seu peito subia e descia com dificuldade, mas seus olhos ainda carregavam a fúria e a força de um Lycan poderoso. Minha mãe, a Luna, estava ao seu lado, as mãos trêmulas segurando uma adaga prateada, os lábios movendo-se em um último cântico de proteção.
E diante deles estava o lobo a quem eles entregaram sua confiança e a minha mão.
Damian Blackthorn. O guerreiro mais letal do reino. O homem que eu deveria um dia chamar de companheiro. Meu prometido.
Seu olhar vazio encontrou o meu por um breve instante, mas ele não demonstrou nenhuma reação ao me ver ali. A lâmina em sua mão gotejava sangue, e meu corpo inteiro se recusava a aceitar a verdade que se mostrava diante de mim.
“Não pode ser. Ele não faria isso.”
Mas o corpo caído de um dos guardas reais aos seus pés dizia o contrário.
— D-Damian? — Minha voz saiu em um sussurro sufocado.
Ele piscou, levando a mão livre ao rosto por um instante. Mas antes que qualquer palavra deixasse seus lábios, meu pai rugiu:
— CORRA, AYLA!
Foi a última coisa que ouvi antes do som de metal contra metal ecoar pelo salão.
Meus pés congelaram no chão. Eu não podia deixar meus pais. Não podia deixá-los lutar sozinhos.
Então senti um golpe forte e ardente cortar minha lateral.
Meu grito rasgou o ar e fui jogada ao chão, minha visão turvando por um instante enquanto rolava pelo chão, para mais perto de onde meus pais e Damian estavam. A dor explodiu em minha costela, quente e latejante, e só então vi a figura sombria de um guerreiro inimigo se erguer sobre mim. Seu rosto estava manchado de sangue, e seus olhos brilhavam com crueldade. Ele ergueu sua lâmina para finalizar o trabalho, mas meu instinto reagiu mais rápido. Rolei para longe, ignorando a dor que queimava em minha carne, e chutei sua perna com todas as minhas forças.
Ele cambaleou, me dando a oportunidade de atingi-lo. O som da batalha continuava atrás de mim, mas eu sabia que não podia ajudar nas condições que estava. Eu não era forte o suficiente para salvá-los com meus míseros dezessete anos.
Me ergui com dificuldade, sentindo o sangue quente escorrer pelo meu flanco. Meus olhos buscaram desesperadamente por meus pais, e foi então que vi. Meu pai lutava com bravura, mas estava enfraquecido, seus golpes mais lentos, seu corpo já cedendo aos ferimentos. Minha mãe tentava protegê-lo, mas o medo brilhava em seus olhos.
Damian estava diante deles, segurando a espada firmemente. Ele não parecia o lobo que conheci, o lobo pelo qual me apaixonei.
— Damian, pare! — Minha voz saiu como um grito desesperado, mas ele nem sequer olhou para mim.
Meu pai atacou primeiro, um rugido poderoso ecoando pelo salão. Damian desviou com facilidade e, em um único golpe rápido e mortal, sua lâmina cortou a garganta do Rei Alfa.
O tempo pareceu desacelerar, os sons e cheiros desapareceram.
O corpo do meu pai caiu pesadamente no chão, e um grito de horror escapou da minha garganta enquanto eu caía de joelhos. Minha mãe correu para ele, mas antes que pudesse alcançá-lo, Damian cravou sua espada em seu peito.
Damian puxou a espada, fazendo o corpo da minha mãe cair sobre o do meu pai. Ambos inertes sobre uma poça de sangue. Meus pais estavam mortos.
E Damian Blackthorn foi quem os matou.
DamianO parque ainda pairava em minha mente, o riso do garoto ecoando como um chamado que não explicava. Lian. Seus olhos verdes, tão vivos, tão… familiares, haviam cravado algo em mim, uma inquietação que fazia meu lobo rugir, inquieto. De volta ao meu escritório na Blackthorn Enterprise, o ar cheirava a couro e uísque, mas nada aliviava o peso que se instalara em meu peito. A cidade brilhava lá fora, através das janelas de vidro que subiam até o teto, mas eu mal notava, os dedos tamborilando na mesa de mogno, o olhar perdido na lembrança daquele menino.— Damian, você está me ouvindo? — A voz de Cassandra cortou o silêncio, afiada como uma lâmina. Ela estava encostada na porta, o vestido vermelho abraçando suas curvas, os cabelos loiros caindo em ondas perfeitas. Seus olhos azuis me perfuravam, mas havia algo calculado neles, como sempre.— Não — respondi, a voz rouca, girando a cadeira para encará-la. O couro rangeu sob meu peso, e meu lobo rosnou, irritado com a interrupção. — O
O uivo do lobo negro ainda vibrava em meus ossos, e aquela voz sussurrada “Ele está esperando, princesa. Mas será que você está pronta para o que ele esconde?” fazia meu coração disparar. A sombra na janela havia desaparecido, mas a inquietação cravava suas garras em mim enquanto atravessava o quarto do hotel, o chão frio sob meus pés descalços. Minha loba rosnava, alerta, sentindo o perigo que se aproximava com a audiência do Rei Alfa. Sentei-me à mesa, o cheiro de café frio misturando-se ao de papel velho, e espalhei os documentos que conseguira reunir sobre ele. Eram poucos, fragmentos de informações que mais confundiam do que esclareciam.— O que você encontrou? — Eva perguntou, entrando com uma caneca de chá, o vestido azul-marinho contrastando com sua pele pálida. Seus olhos castanhos me estudavam, preocupados.Suspirei, esfregando as têmporas, o peso da exaustão apertando meu crânio. — Quase nada. O Rei Alfa… ninguém sabe como ele subiu ao poder. Só dizem que foi rápido. Sang
O rosnado que ecoara no corredor do hotel ainda fazia minha pele formigar, e aquela voz fria “Ele não é seu aliado, princesa” cravava-se em minha mente como uma adaga. A visão de Magnus, com seu sorriso enigmático na escuridão, me perseguira durante a noite, deixando minha loba inquieta, rosnando sob minha pele. Eu sabia que precisava agir, mostrar aos lobos que a herdeira do Rei Alfa estava viva e pronta para lutar. Por isso, naquela noite, coloquei um vestido cinza-prata que reluzia como luar, ajustando-o para disfarçar o tremor em minhas mãos, e fui a um evento político onde lobisomens e humanos disputavam poder sob uma fachada de sorrisos.O salão era um labirinto de opulência, com colunas de mármore branco e lustres que derramavam luz dourada sobre os rostos dos presentes. O ar cheirava a vinho tinto e perfume caro, mas minha loba captava algo mais: o peso de auras lupinas, rosnados abafados em risadas educadas. Meus saltos ecoavam no chão polido, e eu sentia olhares me dissecand
A carta ainda queimava em minha mente enquanto atravessava a floresta, o papel amassado no bolso da jaqueta como um peso vivo. “Ele não é o que parece, Princesa.” As palavras me perseguiam, mas minha loba rugia, exigindo que eu ignorasse o aviso e seguisse o chamado que pulsava em meu sangue. O ar da noite era denso, cheirava a musgo e pinho, e o luar filtrado pelas copas das árvores lançava sombras que dançavam como espectros. Meus pés descalços afundavam na terra fria, cada passo ecoava com a batida descompassada do meu coração.Antes mesmo de vê-lo, eu o senti. Uma onda de energia primal, como um trovão silencioso, fez minha pele arrepiar e minha loba se eriçar. Parei, o peito arfando, os olhos varrendo a escuridão. Ele estava ali. O lobo negro. Sua presença era um peso no ar, um magnetismo que me puxava como se eu fosse ferro e ele, um ímã.— Apareça — sussurrei, a voz trêmula, mas carregada de determinação. Minha loba uivou, vibrando sob minha pele.Então, ele emergiu. Das sombra
O uivo baixo e primal ainda ecoava em meus ouvidos, um som que fazia meu coração disparar e minha loba se eriçar. A floresta estava silenciosa, mas o ar pesava, carregado com aquele cheiro selvagem que me envolvera momentos antes. Meus pés descalços afundavam na terra úmida, o vento frio cortava minha pele, mas eu não recuei. Minha loba rugia, exigindo que eu avançasse, que descobrisse quem — ou o que — me observava das sombras. Cada músculo do meu corpo vibrava, alerta, enquanto meus olhos varriam a escuridão entre as árvores.— Mostre-se! — gritei novamente, minha voz rasgou a noite, mas o silêncio respondeu com uma quietude que parecia zombar de mim.Então, eu o vi. Um par de olhos dourados, brilhando como brasas, me encarava de trás de um carvalho retorcido. Um lobo negro, maior do que qualquer outro que já vir, emergiu parcialmente das sombras. Sua pelagem reluzia sob o luar, cada músculo delineado como se fosse esculpido em obsidiana. Meu peito apertou, o ar preso nos pulmões. M
O ar no escritório improvisado cheirava a café rançoso e papéis antigos, mas era o peso dos olhos sobre mim que fazia minha pele formigar. Sentei-me à cabeceira de uma mesa de carvalho lascado, as mãos cruzadas para esconder o tremor, enquanto encarava três homens de rostos marcados pelo tempo. Antigos aliados do meu pai, eles me observavam como se eu fosse um fantasma ressuscitado. Minha loba se agitava, um ronco baixo vibrava em meu peito, mas mantive o queixo erguido, os olhos firmes.— Então, Ayla Revely — disse o mais velho, Samuel, sua voz rouca como cascalho. Ele se inclinou, os dedos nodosos tamborilando na mesa. — Você voltou depois de anos, esperando que nos curvássemos só porque carrega o sangue do Rei Alfa?O calor da raiva subiu pelo meu pescoço, mas respirei fundo, o ar frio queimando minha garganta. — Não espero submissão cega, Samuel. Espero lealdade. Meu pai confiava em vocês. O clã confiava. E eu sabia que muitos ainda esperavam por alguém que lutasse pelo que nos fo
Último capítulo