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Capítulo 5 - Irmãos

Naquele dia, Henrique acordou ansioso mas também um pouco triste. Estaria presente na cerimônia em que seu irmão, Maurício, assumiria oficialmente o cargo de primeiro tenente em seu batalhão. Sempre o apoiou em tudo. Gêmeos têm essa ligação estranha que ninguém entende muito bem — nem mesmo eles. Era como se a felicidade de um também fosse do outro. Difícil explicar, mas os sentimentos do irmão se refletiam nele e Maurício já havia confirmado que sentia o mesmo. Curiosamente eles sabiam separar seus próprios sentimentos, dos sentimentos que se refletiam. Isso ocorria sempre com emoções intensas.

 Henrique sabia que a ansiedade vinha de Maurício. A tristeza, porém, era só dele. Enquanto se arrumava, se pegou fantasiando um momento improvável: seus pais surgindo de surpresa na cerimônia, orgulhosos do filho. Depois, os almoços de domingo voltando a acontecer, ele e Maurício dividindo mais da vida. Mas era só um sonho. Seus pais tinham a cabeça dura demais para entender que nem tudo era uma afronta, às vezes, era só a vida seguindo seu curso.

Já na rua, recebeu uma mensagem de Maurício:

 

— Já tá vindo?

 

Respondeu:

— Já saí de casa, chego em 30 minutos no máximo.

 

Chegou em menos tempo. Sentou-se e esperou o início da cerimônia. Quando viu seu irmão entrando, quase se emocionou. Admirava tanto aquele cara. Lembrou da infância. Sempre achou Maurício mais bonito, mais forte — e isso era confirmado pelos pais, que já planejavam o futuro de ambos como se soubessem quem teria sucesso. Henrique sempre foi mais sociável, mais popular, com mais amigos e namoradas. Maurício era diferente. Não tinha muitos amigos, mas era seguro de si, o suficiente para não se importar com isso. Namorou seriamente apenas com duas meninas. Casou-se com a segunda. Teve um amigo que o acompanhou desde o primário até a formatura. Sempre foi um indício de que ele não precisava da aprovação de ninguém.

Henrique, por outro lado, sempre quis provar que era bom o bastante. Se esforçava para ser o melhor, o mais legal, o primeiro da classe. Mas em casa, se sentia o segundo. O “gêmeo menor”, como a avó o chamava. Poxa, eram só cinco centímetros de diferença de altura, mas a confiança do irmão fazia parecer mais.

A cerimônia terminou, e Maurício se aproximou com um sorriso de orelha a orelha.

— Rico! Tô tão feliz que você veio.

 

Os dois se abraçaram com força.

— E eu tô muito orgulhoso de você… Tá enorme! O que você tá comendo? Dá até pra me levar pra casa no colo.

— Fiquei em treinamento pro cargo. Foi bem intenso. Mas você também tá todo marombeiro.

 

Riram e seguiram animados até a casa de Maurício. A esposa dele estava na casa da mãe, então puderam tomar um café e conversar com calma.

— Por que ela foi pra casa da mãe? — Henrique perguntou.

— Disse que não queria ficar sozinha enquanto eu estivesse no treinamento. Mas… o treinamento acabou, teve a cerimônia… e ela ainda não voltou.

— Vem pro meu time.

— Acho que vou jogar no time dos divorciados mesmo. Talvez eu já esteja jogando e nem saiba.

— Não pensa nisso agora. Depois vocês conversam. Colocam as coisas em pratos limpos.

— Pode ser… tanto faz. Mas me fala, e o pai e a mãe? Como estão?

— Estão bem assistidos. A Clara… ela faz um trabalho legal com eles. Papai gosta dela e a mamãe está até mais calma. Dá pra acreditar? Se ela tiver tempo, fica amiga da dona Isadora também.

 Maurício riu.

— Isso eu duvido um pouco… E a saúde do pai?

— Dentro dos problemas que ele tem, tá indo bem. Como eu disse, a Clara ajuda muito. Você acredita que ontem eles estavam fazendo uma horta no quintal?

Maurício sorriu, surpreso e tocado. Assentiu com a cabeça.

Depois do café e da conversa, Henrique voltou para seu apartamento. A tristeza havia diminuído, assim como a ansiedade do irmão. Os sentimentos de ambos pareciam mais equilibrados — o suficiente para que Henrique começasse a pensar em como Clara poderia ajudá-los a reunir a família de novo. Ele não sabia ao certo se ela era a pessoa certa para essa tarefa, mas gostava de pensar nela. E gostava ainda mais de pensar que ela poderia ser essa pessoa.

 

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