Chovia desde cedo. O céu estava carregado, o vento frio fazia as gotas de água baterem contra as janelas do ônibus como dedos impacientes, e Clara sentia que o dia já tinha começado do avesso. Antônio havia acordado com febre, congestionado, e ela teve que improvisar uma solução: deixou-o aos cuidados da mãe da Tati, que sempre se oferecia para ajudar, mas mesmo assim saiu de casa com o coração apertado.
Chegou ao empório vinte e sete minutos atrasada. A calça estava úmida da canela para baixo, o cabelo grudado na testa, e o nariz começava a dar sinais de que o resfriado também a escolhera como vítima. O chefe a viu entrar e, do jeito cortante habitual, comentou:
— Pontualidade, Clara. Pontualidade.
Não gritou, não foi cruel. Mas naquele dia, qualquer palavra parecia arranhá-la por dentro.
— Desculpa… o meu filho… — tentou explicar, mas ele já havia virado as costas.
Tati apareceu poucos minutos depois, secando o guarda-chuva e com um copo de café quente na mão.
— Calm