A chuva começou cedo, fina e fria, como se o céu também tivesse acordado de ressaca. Henrique passou o dia inteiro no escritório com a cabeça em outro lugar. Respondia aos colegas no automático, evitava conversas longas e passou boa parte do tempo encarando relatórios que ele mesmo já havia revisado duas vezes. Saiu mais tarde que o habitual. Não porque havia trabalho, mas porque não queria voltar para casa. A casa estava vazia. E ele também. Caminhou até um bar próximo do trabalho, um meio escondido, com poucas mesas e pouca conversa. Pediu uísque. Depois outro. Estava no terceiro quando ouviu alguém chamar:
— Henrique?
Virou-se devagar. Era uma conhecida da época da faculdade, colega de um amigo em comum. O nome dela era Bianca, se lembrava vagamente e só soube o nome porque ela se identificou. Ela puxou uma cadeira, sentou-se e os dois começaram a conversar sobre nada muito importante. Passado, trabalho, chuva. Ele sorriu, respondeu com educação, foi simpático. Parte dele se se