Henrique dirigia devagar, como se pudesse adiar o inevitável. O volante firme entre as mãos não impedia o nó em seu peito de apertar mais a cada quarteirão. Havia ensaiado as palavras no caminho. Frases curtas, objetivas, limpas como bisturi. Mas agora, a poucos minutos de vê-la, tudo soava cruel demais. Ele parou em frente ao prédio de Clara e ficou ali, imóvel, ouvindo o próprio coração bater como se fosse um tambor de guerra. Tentou pensar em alternativas para o término, mas comprar a participação dos sócios não era viável, ninguém queria vender se estavam tendo lucro. Pensou em chutar o balde e sair da empresa, mas sua mãe era caprichosa, ela não cederia, e acabaria dilapidando tudo o que a família construiu. Ele não podia se dar ao luxo de ser feliz. Precisava de mais tempo, mas o fato é que a vida não espera por ninguém.
Subiu os degraus como se cada passo o levasse para uma sentença. Quando Clara abriu a porta com aquele sorriso acolhedor, o mesmo que sempre o desmontava, ele