Maurício se acomodou na poltrona ao lado da cama do pai, com um certo peso nos ombros. Havia tentado ensaiar o que diria no caminho, mas agora que estava ali, preferiu não pensar a respeito e apenas começar:
— O que está lendo?
Pedro ergueu o livro, virando a capa com um leve sorriso. A Canção de Aquiles, de Madeline Miller.
Maurício arqueou as sobrancelhas, surpreso.
— Esse é mais recente… Está gostando?
— Sim. — O pai devolveu o olhar com ironia discreta. — Estranhando me ver lendo algo escrito no século XXI?
— Acho que um pouco — sorriu. — Esse eu sei que você ia me indicar, né? Tem herói no meio.
Pedro deu uma risada breve, quase sem som.
— Heróis trágicos. Sempre os melhores.
Um silêncio confortável se formou entre eles. Então Maurício respirou fundo e retomou o assunto que o vinha consumindo desde a última vez que se viram.
— O senhor ainda tá bravo comigo?
Pedro não respondeu de imediato. Fechou o livro devagar, repousando-o sobre o peito, e depois