Capítulo 113

A madrugada se acomodava sobre a cidade como um organismo vivo, respirando devagar, expandindo sombras, recolhendo sons. Não era silêncio — era uma suspensão. Como se tudo estivesse esperando alguma coisa acontecer, mesmo sem saber o quê. As luzes distantes piscavam em tons irregulares, e havia um cheiro de chuva antiga misturado com metal e concreto quente.

Ela caminhava sem pressa, mas com propósito. Cada passo tinha peso, não no corpo, mas na memória. Havia dias em que o passado vinha como um ruído constante; naquela noite, ele se apresentava em imagens nítidas, quase cinematográficas, como cenas recortadas de um filme que insistia em se repetir com variações sutis.

Pensou no que havia sido dito — e, principalmente, no que não fora. Palavras omitidas também criam narrativas. Às vezes mais perigosas do que as faladas. Havia aprendido isso cedo, mas aprender não significava aceitar. Ainda doía.

O vento levantou um fio de cabelo solto, tocando-lhe o rosto com intimidade indevida. Ela
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