O primeiro sinal de que algo estava realmente mudando veio de forma banal.
Não foi um presságio, nem uma revelação. Foi um atraso.
O pai não voltou no horário habitual. Quinze minutos, depois meia hora. A mãe fingiu não notar, mas o café esfriou na xícara sem ser tocado. Lyria percebeu. Ela vinha percebendo tudo com uma antecedência desconfortável, como se o mundo tivesse perdido o atraso natural entre causa e efeito.
Quando a porta finalmente se abriu, o silêncio da casa se reorganizou ao redor dele.
— Aconteceu alguma coisa? — perguntou a mãe, sem levantar da cadeira.
Ele largou as chaves sobre a mesa com mais força do que pretendia.
— Sim. Mas não hoje.
Essa resposta, vaga demais, era nova. Antes, ele sempre tentava explicar, justificar, resolver com palavras. Agora, parecia medir o que podia ser dito sem criar rachaduras desnecessárias.
Lyria observava da porta do corredor. Não interferiu. Aprendera que certos momentos pedem presença, não ação.
— Eles sabem? — insistiu a mãe.
Ele