A cozinha está banhada por uma luz morna do fim da tarde, as cortinas semiabertas balançam com o vento leve. Celina para no batente da porta, observando a cena à sua frente com uma sobrancelha arqueada.
Kaito está em pé, de costas para ela, com um avental amarrado torto na cintura e fones de ouvido pendurados no pescoço. Ele segura um saco de arroz com uma mão, e com a outra tenta decifrar o modo de preparo impresso no verso. Os olhos apertados, a expressão concentrada, a boca se movendo conforme lê em voz baixa.
Celina se aproxima devagar, como quem observa um animal raro em seu habitat natural. Quando está perto o bastante, toca o ombro dele.
— O que tá fazendo?
Kaito dá um pulo que o saco escorrega de sua mão, ele o agarra no último instante, o coração acelerado no peito do ômega. O rosnado que escapa de sua garganta sai mais alto do que pretende. Celina ergue a sobrancelha.
— Caralho, mulher! Quer me matar do coração?
— Pelo jeito aqui dentro não é só Dante que se considera um the