Kara Milani: a herdeira de uma milionária rede de hotéis que perdera os pais ainda criança. Seu irmão, Otto Milani, assumira os negócios da família. Mas Kara nunca teve interesses mais profundos do que comer caviar e beber champanhe na cobertura de um dos seus hotéis, fosse em Paris, Londres, Roma ou qualquer outra capital da moda. Seus hobbies incluíam colecionar bolsas de grifes e sapatos de luxo, frequentar as baladas mais exclusivas e beijar na boca de qualquer gatinho que fosse ao menos uma subcelebridade em ascensão. Mas agora que Otto também se fora, caberia a Kara assumir os negócios da família. Porém Otto sabia que ela não estaria preparada para isso e deixou não só todas as ações da empresa e a fortuna da irmã nas mãos de seu melhor amigo, Adam Benatti, como também o dever de cuidar pessoalmente da garota até que ela se formasse na faculdade de Administração. Se Kara quiser, algum dia, retomar sua fortuna vai ser obrigada a seguir cada regra imposta em sua vida por Adam. E se ele já é implacável como CEO da Milani, imagina quando começar a se dar conta de que estava se apaixonando pela irmã do seu melhor amigo falecido, a garota de quem prometera proteger e cuidar como se fosse sua própria irmã mais nova.
Leer másEu odiava cemitérios. Algumas pessoas costumavam dizer que lugares como aquele traziam a calmaria para aqueles que precisavam do descanso eterno, o acalento para aqueles que ainda buscavam algum tipo de contato com seus entes que se foram, ou ainda a paz de espírito para aqueles que precisavam de um ponto final para certas histórias. Para mim, aquele lugar não passava de um depósito de corpos em decomposição e por isso eu tinha demorado cerca de seis meses para conseguir estar aí.
- E aí? – Perguntei olhando para a lápide que exibia o nome Otto Milani. – Tô aqui... É estranho porque eu sinto que estou falando com um amontoado de ossos e não com você de verdade, mas a doutora Lee me disse que eu precisava fazer isso como um rito de passagem, ou sei lá, e aqui estou eu... Lembra dela, né, a dourara Lee? Minha psicóloga desde que perdi meus pais, e continuou sendo agora que perdi você.
Meu olhar vaga pelo lugar enquanto tento encontrar palavras para continuar dizendo tudo que preciso dizer a Otto. Um enterro está acontecendo não muito longe dali, observo pela janela de vitrais da cripta, e uma mulher com um choro descontrolado rouba minha atenção por um minuto. Não chorei por Otto, ao menos não em público. Muito menos em seu enterro, já que não estive presente.
Resolvo me sentar em um banquinho e tento manter minha atenção longe da mulher chorosa, voltando a encarar a lápide como se o rosto de Otto pudesse me olhar de volta. Bem, é claro que havia uma foto dele ali, mas não era exatamente disso que eu estava falando.
Meu vestido preto colado ao corpo reluta um pouco contra o movimento, subindo através de minhas coxas. Eu não ligo. Era somente eu e ossos ali.
- Faz seis meses desde que você partiu, e semana passada finalmente abriram seu testamento... Você é mesmo um idiota, não é? Eu tenho vinte anos agora, Otto, vinte anos! Você realmente acha que eu não sei cuidar sozinha de mim mesma? Por favor... Para começo de conversa, eu estava usando cinto de segurança aquela noite e você não, tá? – As lágrimas finalmente começam a brotar em meus olhos. Lágrimas que engoli por meses. – Quem é que não sabe se cuidar, hein? Olha onde eu estou e olha onde você está!
Tive que controlar a vontade de gritar com Otto, ou... com o que quer que tenha sobrado dele depois desse tempo. Abaixo o par de óculos de sol, que estava em minha cabeça, para cobrir meus olhos azuis. Tanto para evitar a forte luz solar, que entrava pelas janelas, de machucá-los, quanto para esconder as lágrimas.
- Você me deixou sozinha por causa de uma imprudência idiota e eu nunca vou te perdoar por isso! Você jurou para mim que nós dois íamos ficar para sempre juntos, lembra? Você jurou seu idiota!
Voltei a me calar. Estava ficando emotiva demais e eu odiava ser emotiva. Se alguém me visse agora, se alguém me visse chorando... “A garota com coração mais gelado do que o azul dos seus olhos” como as redes sociais de fofoca costumavam descrever, aposto que eles adorariam uma foto minha com os olhos vermelhos agora.
- Lembra quando a gente fez aquela viagem para os Alpes Suíços e eu fui um desastre esquiando e fui parar no hospital? – A lembrança me traz uma risadinha. – Você ficou morrendo de medo de me perder! Eu me lembro perfeitamente de você dizendo que desde que nossos pais se foram, a sua vida se resumia a minha. E a minha se resumia a você também. Depois eu fiquei sabendo que tinha sido você quem mexeu nos meus esquis para fazer uma brincadeira e ficou com medo das coisas terem saído do controle... Típico, seu!
Ouço um gargalhada leve bem próxima e me viro assustada, automaticamente me colocando de pé, puxando o tecido do vestido para baixo.
- Essa é uma cripta privada – Tento manter a minha voz o mais firme possível, por mais que estivesse mergulhada nas emoções. – Se retire.
- Desculpa, não quis assustá-la... – o homem alto, enfiado em um terno preto feito sob medida, me encara com um sorriso no rosto. – Mas é que o Otto tinha um senso de humor bem peculiar, não é mesmo?
- Um pouco. Você o conhecia?
- Um pouco – ele me parafraseia. – Como foi a história dos esquis?
- Sempre fui melhor do que ele esquiando. A gente tinha apostado alguma coisa idiota, sei lá... E ele quis se certificar de que ia ganhar – eu rio. – Ganhou foi quinze dias tendo que cuidar de mim encamada e anos de remorso e condescendência.
- Eu com certeza não conheci esse lado condescendente dele.
- Provavelmente isso só era válido comigo.
- O Otto que conheci era implacável. Conseguia qualquer coisa que quisesse, desde levar a garota mais bonita da balada para a cama até fechar os negócios mais improváveis e com um lucro absurdo.
- É, esse também parece ele – admito, mas dessa vez isso não me desperta memórias tão próximas. – Bom, eu já estava de saída, fique à vontade...
Sem olhar sequer mais uma vez para a foto do meu irmão, sigo reto em direção a saída. Sou detida quando o bonito homem de cabelos escuros e barba por fazer, envolve seu braço ao redor da minha cintura, impedindo-me de continuar minhas passadas largas. Me viro para ele a tempo de ver seu olhar varrendo meu corpo naquele vestido curto, colado e decotado demais para ser usado em um cemitério. Eu estava acostumada com aqueles olhares, mas o dele me causou um certo desconforto. Não de um jeito ruim. Pelo contrário, de um jeito que fez minha pele esquentar e meu rosto enrubescer.
- Não vai me dizer seu nome?
Me desvencilho dele ao mesmo tempo em que me recomponho e tento avisar ao meu corpo de que não, ele não precisava de mais daquele toque firme, seguro de si e vindo de alguém que parecia saber exatamente o que fazer com uma mulher.
- Não – respondo. – Visto que não vamos nos ver mais, acho que isso não importa.
Novamente lhe dou as costas e sigo meu caminho em direção a saída da cripta. Não tinha sido uma boa ideia vir aqui. Doutora Lee disse que eu tinha que conseguir colocar meus sentimentos para fora, mas eu mal pude começar antes que essas lágrimas idiotas teimassem em rolar pelo meu rosto e de ter sido interrompida por um desconhecido. Provavelmente eu ainda precisaria de muitas mais sessões de terapia antes de conseguir voltar a ter qualquer tipo de conversa com meu irmão mais velho morto, ainda mais depois daquele testamento ridículo que ele deixara.
- Adam Benatti.
O som daquele nome me faz congelar no lugar. Mais uma vez, giro em meus calcanhares, me colocando de frente para aquele homem.
- Como? – Pergunto, sem desviar meus olhos dos dele.
- Meu nome – diz. – Adam Benatti – repete.
Mal me dou conta de quão rápido fecho a distância entre nós. A última coisa da qual tenho ciência é da minha mão aberta espalmada em sua cara.
~ TRÊS MESES DEPOIS ~- Daiquiri... – Manu me oferece a taça – Adam quem fez e pediu pra te entregar.Eu sorrio com o gesto carinhoso.- Acho que vou passar... – coloco a bebida em um aparador próximo. – Quero estar cem por cento sóbria hoje.- Como você está se sentindo? – Isa pergunta.- Eu não deveria estar nervosa, não é? Mas minha boca tá seca e minhas pernas tão tremendo – rio. – Quero dizer... por quê? Adam e eu já até nos casamos antes... – dou de ombro, como se aquilo não fosse importante.Mas era. Eu tinha passado os últimos três meses organizando tudo para que, dessa vez, fosse perfeito. E eu nem quis contratar uma cerimonialista ou coisas assim, tinha feito tudo pessoalmente, com a ajuda das minhas madrinhas: Manu, Lilly, Isa e Fernanda. Seus pares, Luca, André, Liam e Henrique, provavelmente estavam em alguma outra sala como essa agora, embebedando Adam. Otto também, claro. Ele só não entraria com Lilly porque ele teria a função de me levar ao altar.- Mas é diferente des
No dia seguinte, bem cedinho, Otto se comunica com seus contatos do programa de proteção à testemunha e dos investigadores da polícia. Encaramos longas horas de depoimentos, repetindo mais de uma vez as mesmas coisas. Eu conto, especialmente, sobre a história da cripta, onde o sistema de segurança provavelmente filmou a tentativa do meu tio de me assassinar, e como eu esperava que ele estivesse atrás das grades agora, se a denúncia de Luca tinha sido averiguada.- Vamos precisar de uns dias para checar todas as informações e pistas que vocês têm em mãos... – o investigar diz.- Posso... entrar em contato com uma pessoa?- Seja rápida... – ele me entrega seu próprio aparelho celular.Obviamente eu não sabia o número de Luca de cabeça, então, ligo para o meu próprio celular, que estava com ele. Ele atende no segundo toque, quase como se estivesse esperando por aquilo. Obedeço ao investigador e sou rápida, apenas informando que Adam e eu estávamos bem e logo estaríamos de volta levando u
- É uma longa história... – Otto suspira, enquanto começa a arrumar seu prato.Era uma cena completamente bizarra. Não me entenda mal, Otto e eu não erámos mimadinhos que ficávamos esperando o tempo por outras pessoas nos servirem e que achavam que nossa mão ia cair de montar nosso próprio prato. Mas o fato é que sempre tínhamos pessoas nos servindo, sempre. Então, era simplesmente estranhos pensar que...- Você cozinhou isso? – Acho que não consigo conter uma careta.- Está gostoso, eu juro! Tive que aprender algumas coisas nossos últimos meses...Um pouco relutante, eu pego o menor pedaço possível de lasanha que consigo, sem parecer que eu estava fazendo uma desfeita. Mas quando provo...- Cacete, você é bom! – Elogio.- Parece mais gostosos do que seus biscoitos de Natal... – Adam ri.- Hey! Eu te fiz pudim! – Protesto, levando os dois às risadas.- Quanto tempo? – Otto pergunta, olhando de Adam para mim.- Hum? – Estranho a pergunta.- Desde que coloquei meus olhos nela... – Adam
Abro os olhos lentamente. O teto cafona com sancas brancas malfeitas e tinta descascando, devido a umidade, entra em foco. Onde, raios, eu estava? Minha mente começa a buscar as últimas lembranças... A viagem de carro... o hotel de beira de estrada... Adam e eu... Sorrio. Eu estava no hotel, não era isso? Me movo ligeiramente e noto Adam sentado em um sofá próximo a cama.- Eu tive um sonho muito louco... – digo. – Meu Deus, pareceu tão real que...- Kara... – Adam nega com a cabeça, me fazendo parar de falar.- O quê?- Não foi, exatamente...A porta se abre, atraindo nossas atenções.- Trouxe um chocolate quente pra quando... – Meus olhos encaram os olhos tão parecido com os meus me olhando de volta. – Ah, você acordou – Ele dá de ombros, como se não houvesse mais nada que pudesse fazer e diz: – Oi, maninha.Eu grito desesperadamente, enquanto me encolho na cama, tentando me afastar ao máximo daquela visão. Adam vem até mim e tenta me segurar para que eu pare de me debater, mas eu c
Eu sei, o que Adam e eu estávamos fazendo, indo atrás das provas que Otto deixou sem sequer avisar a polícia, era extremamente perigoso. Mas... a verdade? Eu estava pouco me importando! Desde que nos reencontramos, parecia que eu estava finalmente vivendo a lua de mel que eu queria ter vivido seis meses atrás. Adam e eu mal conseguíamos manter nossas mãos afastadas um do outro... Não conseguíamos parar de nos beijar, de nos provocar, de sorrir um para o outro.- Está cansado? – Pergunto, em certo ponto da viagem. – Quer que eu dirija um pouco?Adam tinha me dado umas aulas, depois que lhe contei o que encarei para chegar até ele.- Obrigado, Kara, mas precisamos chegar lá ainda esse ano.- Haha, engraçadinho... – reviro os olhos. Eu não era lenta no volante, eu era prudente. – Você ama estar no comando, não é? – Desdenho.- Você não pareceu se importar muito ontem à noite.Sinto minhas bochechas corarem e desvio o olhar, mas estou sorrindo. Adam sabia que eu gostava de controlar no se
- Adam... Eu não tô entendo... – digo, a voz fraca. – Como... como?- Eu também não estou entendendo, Kara. Achei... Achei que eu não deveria seguir adiante com isso sem você do meu lado, então... Precisei fingir um desaparecimento para te ter de volta. Desculpa pelo que te fiz passar.Eu mal escuto o que ele diz, um barulho agudo na minha orelha indicando que minha pressão está atingindo picos.- Eu não tô entendendo... – repito.- São novas coordenadas – Adam diz. – Seja lá quem mandou isso, queria que quem descobrisse esse storage box fosse até esse novo lugar.- Então vamos! – Digo.- Talvez não seja seguro...- E o que é seguro nessa porra toda?- Nada... – Adam volta a se aproximar de mim, e acariciar delicadamente meu rosto. – Só... Prometa não ser impulsiva e deixar que eu tome a frente? Não posso arriscar a sua segurança.- Prometo... – minto. Eu não tinha como prometer não ser impulsiva, era da minha natureza. Mas eu tentaria.- Não posso te perder. Não agora... – Adam me be
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