Capítulo 4

- Ele é 10/10! – Manu me devolve meu iphone, que exibia uma foto de Adam sem camisa durante um jogo de futebol.

Eu tinha encontrado o I*******m dele, é claro. Não que tivesse muita coisa por lá, ele parece ser do tipo mais reservado nas redes sociais. Mas aquela foto em específico me chamou atenção, assim como chamou de Manu. Era impossível não reparar no corpo sarado e super desenhado de Adam.

- Ele é chato! – Afirmo.

Minha melhor amiga e eu estávamos deitadas em espreguiçadeiras acolchoadas na praia, embaixo de grandes guarda-sóis que tinham a função de não deixar a minha pele alva fazer cosplay de tomate cereja em menos de cinco minutos. Meus longos cabelos loiros estavam amarrados em um coque despretensioso e grandes óculos escuros escondiam meus olhos.

Por mais que o Milani tivesse uma praia privativa, Manu e eu gostávamos de ficar em uma área pública, próximo de um excelente ponto para surfistas e uma área onde sempre havia garotos jogando vôlei. Era, no mínimo, agradável aos olhos. Mas, claro, nós éramos vistas também, o que fazia com que eu sempre tentasse me disfarçar um pouquinho.

Não entenda mal, eu não era uma super celebridade. Ninguém me pararia na rua para pedir um autógrafo. Mas sempre havia alguém para tirar uma foto minha que iria parar em um perfil de moda para tentarem descobrir a marca do biquíni que eu estava usando. E sempre havia um fotógrafo desocupado apenas esperando que eu cometer qualquer deslize que rendesse uma matéria sensacionalista em um site caça cliques.

- Pode ser chato o quanto for, mas você reparou nesses braços? Caramba Kara, se um homem com esses braços me pega de jeito eu viro cadelinha dele na mesma hora.

Tento ignorar o fato da minha mente ter me transportado rapidamente para como ele me segurou naquele dia em que nos conhecemos e como meu corpo inteiro reagiu àquele toque.

- Velho demais – minto.

- Idade ideal – Manu decreta. – Deve ser superexperiente na cama, não igual esses garotos com os quais estamos acostumadas... – ela inclina a cabeça na direção dos jogadores de vôlei e surfistas.

- Meu Deus, Manu, você só consegue pensar em sexo?

- Er... sim? Vai fazer dois meses que o Tom terminou comigo e eu tô na seca desde então. Ele já está com outra, você sabia? E eu aqui... Promete que vamos sair esse final de semana? Uma baladinha, conhecer uns gatos, beijar na boca...

- Por que não? – Penso por um segundo. - Não tenho planos para sexta à noite, então...

- Ótimo ouvir isso! – A voz masculina me fez olhar para cima para tentar encarar quem está parado ao lado da minha espreguiçadeira. Ao mesmo tempo um blazer enorme caia sobre mim, encobrindo meu corpo exposto no biquíni. – Porque teremos um jantar da empresa e a sua presença é requisitada. Pode levar sua amiga, se quiser. Por mais que eu desconfie de que ela não vai encontrar ninguém por lá que sirva para seus intuitos.

Mas um rápido olhar para Manu me mostra que Adam não poderia estar mais errado. A personificação de “servir para os seus intuitos” estava bem diante dos olhos dela e pela expressão em seu rosto, Manu estava a segundos de começar a, literalmente, babar por Adam.

Tento me livrar do blazer, servindo como um cobertor, mas Adam é mais rápido em forçá-lo contra mim. Estávamos começando a chamar atenção, e eu tinha certeza de que alguns celulares estavam se virando em noção direção.

- Eu não quero isso!

- Deveria querer.

Ele me entrega o seu celular que exibe uma foto minha em um I*******m de fofoca, provavelmente tirada a poucos minutos atrás, enquanto eu caminhava em direção ao mar. Caramba, aquele biquíni parecia menor em foto do que no espelho.

- Você anda meio obcecado por fotos de partes do meu corpo, não é mesmo, tutor?  Anda obcecado por ele pessoalmente também?

Eu finalmente consigo me livrar do blazer ao pular de pé e tenho certeza de que os olhos de Adam aproveitam ardentemente aqueles poucos segundos de exibição, antes que ele volte a pegar o blazer – caído no chão – e me forçar a vesti-lo. Dessa vez ele passa o próprio braço ao redor de mim, me impedindo de voltar a tirá-lo.

- Vou te tirar daqui...

- Olha só, você mal consegue deixar suas mãos longe de mim e já quer logo me levar para um lugar privado – forço uma voz que mistura sedução e deboche, falando alto o suficiente para ter certeza de que os curiosos ao redor estão nos ouvindo. – Parece que a tarde está prestes a ficar ainda mais quente, pessoal!

Provoco algumas risadinhas nas pessoas que acompanham a cena, mas deixo Adam furioso. O que era exatamente o que eu pretendia. Ele tira sua mão da minha cintura e passa a me guiar me empurrando delicadamente pelas costas.

- Você gosta de um showzinho, não é?  - Ele murmura.

- Eu nem comecei – ameaço.

- Eu adoraria, querida... – ele volta a falar alto, usando o mesmo tom que eu usara anteriormente. – Mas vamos esperar você estar melhor das hemorroidas. A gente te conhece o suficiente para saber que você não é do tipo que se contenta em ficar só no básico, não é mesmo?

- Cala a boca! – Digo entre dentes. – Você é um idiota!

- E olha que eu nem comecei – ele responde, com um sorriso no rosto.

- O que você veio fazer aqui afinal? – Reviro os olhos.

- Eu já expliquei. Você agora é o rosto da Milani. Não a bunda. Precisa se preservar desses sites de fofocas. Além disso, sabe que horas são?

- Não faço ideia – admito.

- Hora que você deveria estar na empresa, conforme nosso combinado.

- Combinado? Achei que eu começava na segunda.

- E por que achou isso?

Bem, eu não saberia responder. Acho que apenas assumi que qualquer coisa nova se iniciava na segunda: academia, dieta, um estágio chato na empresa da minha família.

- Me dê meia hora para que eu possa me trocar e...

- Você não tem meia hora. Temos uma reunião em... – ele conferiu o relógio. – Dez minutos. Acho que conseguimos chegar lá a tempo se o trânsito estiver bom.

Dou uma risadinha irônica porque o trânsito nunca está bom no Rio de Janeiro.

- Não posso ir vestida assim...

- Isso é algo no qual você deveria ter pensado antes – responde, me enfiando dentro do carro e batendo a porta.

Adam entra no banco de trás ao meu lado, enquanto o motorista acelera. Eu queria xingá-lo até a décima geração. Queria agredi-lo verbal e fisicamente. Queria fazê-lo se sentir tão humilhado quanto eu me sentia agora. Mas eu era “a garota de coração de gelo”, não era? Eu não demonstrava sentimentos. Então eu apenas peguei meu celular para conferir o estrago que a briguinha na praia tinha causado na minha reputação, enquanto Adam também mexia freneticamente no seu iphone, provavelmente trabalhando ou fazendo algo muito chato.

Seguimos em silêncio até entrarmos no elevador, rumo ao quadragésimo quinto, e último, andar. Adam aproveita para me explicar coisas que eu não tenho o mínimo interesse em saber.

- Por mais que suas funções como estagiária sejam bem básicas, para começar, quero que você participe de todas as reuniões como ouvinte. É a empresa da sua família, é bom que vá se acostumando para o dia em que terá voz nessas reuniões.

- Chaaaato! – Digo, sem tirar os olhos do celular.

Adam arranca o aparelho da minha mão e me faz encará-lo.

- Achei que era só durante as refeições.

- E no trabalho.

- Chaaaato! – Repito.

- Todo começo de mês fazemos uma avaliação sobre como vão nossas unidades do Milani ao redor do mundo. Normalmente algo bem rápido e padrão, a não ser que alguma das unidades tenha algum problema significativo. Londres teve uma queda preocupante na aérea alimentícia no último semestre, então estamos de olho nela.

- Hum... – Não sei o que dizer, visto que claramente não me importo.

- Pode fechar o blazer, por favor? Acho que é o melhor que você pode fazer no momento.

Dou um sorrisinho sínico quando me avalio no espelho do elevador. Adam não quis dar o braço a torcer me deixando passar em casa para vestir algo mais adequado, mas claramente não queria que eu aparecesse daquele jeito na frente de um bando de velhos conservadores que tinham voz ativa frente a empresa da minha família.

Sem relutar, eu obedeci, deixando apenas abertos os botões que serviam para me dar um decote bonito, porém recatado. Ainda assim, eu parecia um saco de batatas.

- Tira o cinto – digo para Adam.

- O quê? Kara, você sequer prestou atenção no que...?

- Tira o cinto para eu usar, estou ridícula assim.

- Eu já estou sem meu blazer, não vou tirar o cinto também.

- Tira o cinto!

- Eu não vou...

Mas eu avanço em direção a Adam, minhas mãos habilmente correndo para o fecho do seu cinto e tentando soltá-lo com rapidez.

- Kara, para com isso! – Suas mãos pulam nas minhas, tentando me impedir de arrancar o acessório.

Como ele é bem mais forte e está me empurrando, delicadamente, para longe dele, acabo me desequilibrando e caindo sobre meus joelhos. Ainda mais irritada e determinada em minha missão, me agarro em seu cinto e começo a puxar. Aquilo vai sair por bem ou vai arrebentar, mas eu vou conseguir.

Não era mais sobre o cinto, é claro. Era sobre mostrar àquele idiota que as coisas comigo não iam ser fáceis. Não ia ser ele mandar e eu abaixar a orelha. Não ia ser ele tirar meu celular a hora que quisesse. Não ia ser ele simplesmente decidir que se mudaria para o meu apartamento. Não ia ser ele me tirar de biquíni da praia e me levar para uma reunião a hora que ele quisesse.

- Adam, eu não fico de joelhos por qualquer homem, então tira logo o cinto e vamos terminar com isso, ok?

Repentinamente ele para de relutar ou mesmo de responder. Com um ar de vitoriosa, arranco seu cinto e o encaro com um sorriso malicioso no rosto. Mas Adam não está olhando para mim, ele está olhando em direção a porta do elevador, o que me faz virar naquela direção também.

- Senhor Benatti, senhorita Milani! – Uma garota extremamente vermelha faz uma pequena reverência com a cabeça, enquanto a outra apenas nos olha paralisada. – Desculpa! Nós... Nós vamos no próximo.

Quando as portas se fecham, eu caio na gargalhada, me dando conta de o que aquela cena pareceria aos olhos de alguém desavisado. Adam me puxa para cima, me colocando de pé.

- Se recomponha, isso não tem graça – diz com raiva. – E fica com a porra desse cinto.

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