Capítulo 41 WULFRIC Os raptores de Eulália, espalhados pela floresta, pararam de correr. Alguns caíram de joelhos, o medo dominando suas mentes e corpos. Eles estavam paralisados. Todos, até mesmo os humanos, sabiam que eu estava indo ao encontro deles. E nada, absolutamente nada, seria capaz de me deter. As armas humanas não me matariam, poderiam me ferir, mas isso só me deixava mais irritado — e eles com certeza não sabiam disso. Era provável que eles escutassem o som de algo grande demais se aproximando em alta velocidade, trazendo a sensação de que o chão estava tremendo, carregando as ondulações dos meus movimentos. Essa era só mais uma coisa boa em ter tal forma e tamanho — quando eles estivessem assustados e arrependidos por despertar em mim a fúria e a loucura que eu mesmo sempre quis conter. Eu ia fazer minha própria entrada. Minutos depois, tiros voaram na minha direção, carregados pelo som incômodo das balas ao saírem dos canos. Eles atiravam em qualquer coisa e tudo
EULÁLIA Aquele momento não sairia da minha cabeça nunca mais. Quando achei que poderia me machucar nas garras de Ciro, ele surgiu para me salvar, como prometeu que faria. Eu estava me livrando do medo, das piores possibilidades, enquanto corria para os braços do meu supremo, meu companheiro. E já conseguia sentir o calor da sua pele contra o meu corpo, que o apertaria forte para compensar por tudo que passei. Mas ele desviou os olhos dos meus quando já me via quase em seus braços, a poucos metros. Então, correu na minha direção, sem olhar para mim — e não era para mim que ele vinha… Seus cabelos platinados voaram com rapidez pelo vento que o levou. Parei onde ele estava antes, me virando para encontrá-lo segurando Ciro contra a parede. Sua mão direita empurrava a garganta de Ciro, enquanto ele estava pendurado por ela na parede. “Oh, não! Ele realmente quer o sangue dele depois de tudo isso.” No fundo, eu não sentia mais pena de Ciro. Ciro tinha escolhas. Por mais que ele pe
EULÁLIA A água escorria por todo o seu corpo, dos cabelos às partes visíveis. Consegui ver cada gotinha de onde estava, observando para onde se dirigiam, escorrendo em pouca ou alta velocidade… Por um lado, queria ser convidada a me limpar ali também, mas, por outro, o rio agora me era como um terreno — ou túmulo estranho. Meu verdadeiro companheiro havia matado aquele que, um dia, acreditei ser meu ex, bem ali. Na realidade, ele nunca foi de verdade alguém para mim, já que apenas fui usada desde o início. Suspirei, sentando na margem do rio, evitando tocar meus pés na água. De joelhos dobrados frente ao corpo, como se aquilo me protegesse, continuei assistindo o supremo alfa tomar seu banho, como se fosse uma ação comum. Ele tinha uma beleza tão incomum que até mesmo meus cabelos ruivos avermelhados não pareciam grande coisa — assim como meus olhos cinzas. Wulfric era único, inusual e, mesmo assim, belo. Seus platinados ficavam mais cinzentos com a água; seus olhos com hete
EULÁLIA— Fica do lado de fora, pelo menos. Só por um tempo. — pedi, baixinho.— Só até eu lembrar que está tudo bem. — Não era medo dos humanos...Era pelo que eles tinham em mente, por sentir, por um momento, que teria meu corpo violado mais do que por olhares indiscretos e nojentos.Ele assentiu, silencioso. E mesmo quando se afastou, eu sabia que estava ali. E, por alguma razão, isso bastava.Dias depois...O castelo parecia mais quieto do que de costume, mas não era um silêncio real. Era aquele silêncio julgador, aquele recordatório de que minha presença trouxe desordens, perigos e ameaças a todos que moravam no castelo — e até mesmo para a nossa espécie, pois humanos foram envolvidos no nosso mundo, e ninguém se esqueceu disso.O julgamento e as incertezas quanto a mim, uma Luna ainda sem uma cerimônia: por minha própria escolha, mas que, para o povo, era mais um motivo de desconfiança. Estavam por toda parte: nos passos contidos dos criados, nos sussurros abafados nos corredore
EULÁLIA— Sim. Eu quis vir com ele. Fiquei surpresa por vê-lo só agora. — Compartilhei minha esperança de conseguir amizade com o ômega.— Não se aproxime demais dos outros lobos. — Disse Wulfric, me estendendo a mão.“Um conselho? Suponho.”Olhei na direção de Reymond, ele tinha as bochechas meio coradas pela minha atenção naquele momento meio constrangedor. Imediatamente, voltei o olhar para meu companheiro, que apertava os olhos de modo que o aro avermelhado ficava mais visível que o cinza.— Espero que não seja um flerte. — Disse muito sério quando segurou minha mão.Devia ser um alerta, para ambos. Apenas ri, mas Reymond respondeu por mim rapidamente:— Eu jamais me atreveria, sua majestade!Com a mão envolta dos dedos de Wulfric e o ômega atrás, chegamos ao escritório.— Pode falar. — Disse Wulfric, sério, sentando-se comigo no sofá enquanto indicava a poltrona à nossa frente.Reymond não desviou o olhar dele ao responder:— A alcateia de Kall está instável, mas sobrevivendo.N
EULÁLIA Agora fazia sentido seu sumiço por todo aquele tempo. — William está preso? — me vi perguntando de repente. — Não foi de imediato. — Wulfric pareceu desinteressado, mas os nossos olhares sobre ele o fizeram respirar fundo e se levantar, indo até o outro lado da mesa do escritório, de costas para a estante recheada de livros. — William foi imprudente ao “improvisar” os cortes. Ele não deveria ferir tão profundamente. Isso criou cicatrizes permanentes porque ele é o Beta, que está acima de Reymond. — Indicou com a mão o próprio ômega, me explicando com o olhar cada palavra que dizia. — O Supremo o puniu? — meus lábios soltaram minha curiosidade. — Foi preciso. Não queria nem imaginar como deveria ser uma punição vinda das mãos de Wulfric. Principalmente por recordar o quão rápido ele matava. Reymond ficou em silêncio. — Entendi. — murmurei. — E Garren? — Wulfric tomou a palavra. — Ainda igual. — De repente Reymond pareceu recordar-se de algo. — A invasão p
EULÁLIALá estava eu, vestindo-me a caráter, porque o meu companheiro aconselhou. Não era para um baile, ao qual eu nunca tinha ido. Não era uma festa. Não era apenas para ficar bonita para o rei.Era porque, no mesmo dia em que Reymond havia voltado, descobri o resultado de toda a investigação que me envolvia. Wulfric deixou transparecer, depois, que sabia sobre os pensamentos dos seus súditos, do conselho e de todo o resto.Enquanto me encarava, decidindo se deixava ou não meus cabelos longos soltos, como estavam agora — caindo vermelhos sobre o vestido longo azul-cobalto com detalhes dourados, que fora presente do meu companheiro, recordei quando ele me deu passe livre para participar do que aconteceria hoje. Isso aconteceu naquele dia, enquanto estávamos na escada.— E é por isso que quero que esteja na próxima reunião. Não como ouvinte. Vai sentar à mesa.— Com os alfas? — perguntei o que pensava; não faria mesmo diferença abrir ou não a boca.— É isso que quer de mim?Wulfric as
EULÁLIAWulfric inclinou levemente a cabeça, apertou os olhos, encarando-o.— É assim que todos pensam? — sua voz soou tão comportada, tão plena e baixa, que arrepiou minha pele, como se soasse uma ameaça disfarçada.Tantos olhares foram trocados, os murmúrios começaram, Wulfric assistiu a tudo com paciência. Porém, ninguém falou. Então encarou mais firme o lobo mais velho que havia falado.— O que é ser parte da hierarquia para o alfa, Sanchers?O lobo me lançou um olhar desconfiado e então voltou-se para o Supremo.— São as posições que ocupamos. Elas são a hierarquia.— Foi o que perguntei, suponho. — Wulfric foi grosso. Irônico.— Não.Nesse exato momento, as portas da sala se abriram e fecharam novamente. William havia passado por elas e agora caminhava, meio cansado, na direção de seu alfa.— Peço perdão por atrapalhar! — disse ele, em alto tom.Mais murmúrios soaram. A grande maioria era de insatisfação por o Beta ter chegado atrasado, quando Wulfric era o único que poderia.Wu