— Sobe devagar, já te encontro no banho – pediu ao garoto que correu escada acima cantando sua música preferida. Clarisse esperou que ele sumisse pelo corredor para voltar a encarar o marido que não tirava os olhos dela — Tem mais alguma coisa que queira falar?
— Se você for pra aquela cidade, irei junto.
— Ótimo. Assim você visita o seu pai, e eu o meu. – Deu as costas ao homem, porém, ele a seguiu imediatamente.
— Eu vou ver aquele homem, mas ele deixou de ser meu pai no momento em que soube que ele estava transando com minha namorada – Clarisse parou na escada — Nós iremos, mas você não vai se aproximar do Vicent de forma alguma. Se não, nosso casamento acaba.
— Ronny... Eu estou aqui com você porque quero está com você. Eu te amo, é verdade, eu cometi erros e isso também é verdade – Virou para ele — Mas se eu não quisesse está aqui, apenas com um telefonema eu resolvo. Afinal, se o Vicent souber que Jasper é filho dele, ele jamais me deixaria aqui.
— O que...?
— Eu aceitei por muito tempo seus abusos, mas não vou mais aceitar isso. Estou cansada e quero meus pais, quero ser livre junto do meu filho e não presa dentro dessa casa como se fosse uma marionete sua. E pior, te ver destratar meu filho enquanto ele é louco de amores por você me dói. Então ou você me deixa em paz ou eu conto pra Vicent tudo isso.
— Aposto que é exatamente o que você quer, não é? – Clarisse estreitou os olhos o vendo se aproximar ainda mais — Conta a ele que seu filho é dele também, aí ele vem e te salva, mas então eu destruo a carreira dele. Ele não vai ter mais dinheiro pra te sustentar e ainda tomo seu filho para mim.
— Desde quando dinheiro é problema para mim ou pra ele?
— Ah entendi, você não tem culpa de ter se envolvido com ele. Ele quem te seduziu com dinheiro e pode fazer isso sempre que quiser. – Clarisse pela milésima vez durante os anos de casados, acabou lhe acertando outra tapa no rosto, Ronny só riu.
— Eu não dormir com seu pai por causa de dinheiro. Seu babaca idiota. Eu não sou uma prostituta.
Subiu as escadas sem dizer mais nada.
Era mais fácil imaginar que Vicent ofereceu dinheiro a ela, do que aceitar o fato de que ela se sentiu atraída pela beleza, palavras e o sexo de Vicent.
— Partiremos em dois dias. – Clarisse parou no topo e sorriu — Mas já deixo avisado. Não se aproxime dele, ou eu não responderei por mim.
_-_
— Vamos viajar? É sério? – Jasper se animou correndo de um lado para o outro no quarto — E para onde vamos?
— Seant. Onde seus avós moram e você vai conhecê-los – O garoto parou diante da mãe — Mas quero que se comporte muito bem, porque temos que dar uma boa impressão.
— O papai vai também? – Sentou na cama quando Clarisse deixou as roupas para Jasper colocar.
— Mas é claro que vai, meu amor. Porque ele não iria? Somos uma família e vamos viajar juntos como tal.
— É porque ele trabalha bastante e quase não tem tempo de nós levar para passear. E quando tem, só leva você. Então achei que não poderia ir com a gente visitar meus avós.
Clarisse suspirou com essa informação, e era a mais pura verdade. Ronny sempre inventava alguma coisa apenas não ter que passear ou ir a lugares que o garoto gostava quando ele pedia com muito custo. Por sorte, Clarisse sempre esteve presente em tudo e jamais, nunca se deixou faltar.
E tudo isso porque Ronny jamais aceitaria ser traído e cuidar do filho do seu pai. Ela errou, sabia, mas não queria que nada respigasse em seu filho. O pequeno Jasper Tornneght não tinha culpa de absolutamente nada.
Nada.
— O papai trabalha muito mesmo, mas é para nós manter bem, meu amor. Então não se preocupe. E vamos pensar apenas nas coisas incríveis que você vai conhecer. Seus avós são incríveis e eles vão te mimar muito.
— Não vamos nos separar por lá, né? – Ela negou — E o meu avô? O pai do meu pai?
Clarisse o sentou na cama ficando em sua frente, penteou os cabelos bonitos como os seus.
— O papai disse que ele não gosta de você, por isso teve que fugir para cá para a gente ser feliz. E também não gosta de mim e nunca sequer ligou para saber se estávamos bem.
Clarisse suspirou, não tinha concordado com aquela história desde que Ronny lhe contou o que diria todas as vezes que perguntasse sobre Vicent. E via agora que depois de 6 anos sua escolha tinha sido errada. Mas para todos, até mesmo para seu pai, tudo que sabiam era que Vicent não concordou com o casamento do filho e o mandou embora para outra cidade.
— O pai do seu papai, é complicado. Muito rico, muito trabalhador, não tem tempo para a família. Ele sim trabalha muito, Ronny nem se parece com ele.
— Então eu vou gostar de conhecê-lo?
— Eu acho que ele não terá tempo para isso – Ronny adentrou o quarto com um tablet nas mãos. Sorriu para o pequeno — Descobri que ele vai viajar nesse fim de semana e nos vamos justamente nesse, o que é chato. Se tivéssemos planejado.
Clarisse encarou o marido e levantou aos poucos. Isso era mentira. Estavam planejando uma grande festa para o final de semana e ele iria viajar? Ronny estava outra vez sendo idiota, e controlando tudo que não deveria controlar.
— É uma pena. Eu gostaria de conhecer mais pessoas. Nossa família é pequena e não tem crianças para brincar. Que tal?
— Crianças? Quer dizer irmãos? – Ronny riu — Eu concordo, mas a sua mãe não quer. – Os dois olharam para Clarisse fazendo bico — Mas como você já melhorou e temos o dia todo, quer sair encontrar alguns presentes para os pais da Clarisse?
— Sério? Sim. Eu quero. – Levantou da cama pulando na mesma — Mamãe disse que minha vó gosta de colares bonitos, vamos comprar um colar pra ela, bem bonito. O mais bonito de todos.
— Vamos sim. Vou me arrumar. Te espero lá embaixo.
Ronny saiu do quarto e não demorou a Clarisse lhe alcançar no deles. Fechou a porta indo até ele com o menor sorriso nos lábios.
— Mentiu pra ele. Não minta pro nosso filho.
— Você tá achando que eu vou levar "nosso filho" pra conhecer aquele cara?
— Aquele cara é o seu pai.
— E pai dele também. – Clarisse desviou o olhar — Eu não quero que aquele homem se envolva com a minha família.
— Que família Ronny? Essa que você quer fingir que vivemos bem? – O marido não respondeu, mas a encarou firme, muito firme — Não minta pro meu filho outra vez. Puna a mim, não ao Jasper. Ou eu que acabo com tudo. BABACA!
Saiu outra vez, deixando-o sozinho.