Eduardo
O relógio marcava poucos minutos para o início do evento, e a atmosfera nos bastidores era uma mistura de tensão e expectativa. O burburinho de vozes, o estalar de flashes testados pelos fotógrafos, o cheiro de maquiagem, laquê e whisky velho se misturavam num ar pesado. Eduardo ocupava o centro daquela engrenagem invisível: todos se moviam ao seu redor, mas nenhum ousava tocá-lo sem permissão.
O secretário geral da presidência entrou apressado no camarim, trajando um terno impecável e com a expressão séria.
- Senhor Braga, está na hora. O evento começa em quinze minutos.Eduardo se levantou da poltrona, ajeitando o paletó com um gesto automático. Cada fibra do tecido parecia mais pesada do que o normal, como se antecipasse a noite que estava prestes a se desenrolar.
- Já vou. - Seguiu o assistente até a saída, mas algo o fez parar. - Onde está minha esposa?Marcos hesitou por um instante, e aquele pequeno silêncio pareceu durar horas. Então, com um movimento discreto, tirou do bolso uma pequena caixa de veludo azul e a entregou a Eduardo. - Um dos funcionários do hotel comentou que a senhora Braga saiu apressadamente há poucos minutos, senhor. Ela deixou isto para trás no camarim.
Eduardo segurou a caixa, sentindo o peso da notícia como um soco no estômago. A tampa se abriu devagar, revelando a gargantilha de safiras que brilhava sob a luz do teto. Um contraste cruel com o vazio crescente dentro dele.
O primeiro impulso foi negar. Talvez tivesse havido um engano. Talvez ela estivesse apenas atrasada, presa no trânsito, ou tivesse descido para atender a uma ligação. Mas, no fundo, ele sabia. Vivian jamais deixaria para trás uma joia que ele mesmo escolhera.
Apertou o maxilar, tentando controlar a raiva que latejava como um tambor. Pegou o celular do bolso e discou o número dela. A chamada caiu direto na caixa postal. Tentou de novo. A mesma resposta. O telefone estava desligado.
- Vivian... - murmurou, a voz tensa e carregada de raiva.Marcos aguardava pacientemente, consciente de que o momento exigia cautela.
- Está na hora, senhor.Eduardo respirou fundo, fechou os dedos em volta da caixa de jóias, virou-se para Marcos com um olhar firme e decidido:
- Marcos, quero que encontre minha esposa. Quero saber onde Vivian foi para me irritar.O assistente assentiu sem hesitar, já pegando o celular para disparar ligações. Sua expressão séria refletia a urgência da missão.
Foi então que uma voz suave, quase ensaiada, interrompeu seus pensamentos.
- Eduardo.Ele ergueu os olhos e viu Elisa se aproximar. O vestido vermelho parecia ainda mais chamativo sob a iluminação forte dos corredores, e o sorriso calculado nos lábios brilhava como uma lâmina recém-afiada. Ela caminhava devagar, consciente do efeito que causava.
- Está tudo bem? Você parece preocupado. - Elisa segurou o braço dele de forma íntima, como se o lugar fosse dela. Houve um tempo em que aquele toque teria feito o coração de Eduardo acelerar. Agora, só havia irritação. O contato apenas acentua a ausência de Vivian.
Por um segundo, imaginou como a esposa reagiria se o visse ali, com Elisa pendurada em seu braço. A única característica da Vivian mais extravagante era o ciúmes.
- Não é nada. Vamos? - respondeu, com um leve sorriso de satisfação treinada.
Elisa aceitou o braço dele, triunfante, e juntos atravessaram o corredor em direção ao palco principal. Os flashes dispararam no mesmo instante em que surgiram diante da imprensa. Eduardo manteve o sorriso de fachada, o mesmo que sempre usava nesses eventos. Parecia impecável, intocável, o perfeito líder. Elisa, radiante, adorava cada segundo da atenção.
Mas, assim que passaram pelas câmeras e entraram em uma área mais reservada, ele retirou o braço dela com firmeza. Não houve grosseria explícita, apenas a frieza que Elisa conhecia bem demais. Eduardo sacou o celular outra vez: nenhuma mensagem de Vivian. Nenhuma ligação perdida. Nada.
A frustração e a raiva borbulhavam, misturadas a uma sensação incômoda de vazio. Ele sempre acreditara que controlava tudo. Negócios, contratos, pessoas. Até Vivian. Mas, pela primeira vez, a ausência dela deixava claro que talvez tivesse perdido muito mais do que estava disposto a admitir.
Guardou o celular no bolso, fechando os olhos por um breve instante.
"Vamos ver como ela reage a isso."Era um pensamento sombrio, mais vingativo do que racional. Mas Eduardo Braga nunca soube lidar bem com a ideia de perder.