“Tirando o fato de eu estar literalmente no colo de um estranho...”, pensou Luna, antes de responder:
— Estou sim! Me desculpe, sou muito desastrada... lhe machuquei? — disse ela rapidamente, com a voz trêmula de nervosismo.
— Essas escadas são perigosas. Não deveria se arriscar assim.
— Foi só um desequilíbrio. Nunca aconteceu antes. — Luna tentou disfarçar o constrangimento, erguendo o livro nas mãos. — Aqui está. Só preciso que me coloque no chão para que eu possa embrulhá-lo.
Com um leve sorriso, ela desviou o olhar, sentindo o peso da tensão entre eles. Eron manteve os olhos fixos nela enquanto, lentamente, a colocava no chão. Em seguida, olhou para a entrada da livraria, notando a chegada de Brawer.
— Prepare o livro. Eu vou levá-lo. — disse ele, sem tirar os olhos de Luna.
— Como desejar! — respondeu ela, observando-o se afastar, ainda tentando entender quem era aquele homem misterioso.
Eron caminhou até a mesa e se sentou.
— Brawer, por que tanto atraso?
— Fui seguido até aqui — respondeu o homem, olhando ao redor, atento a qualquer sinal de perigo.
A revelação fez Eron arquear a sobrancelha. Somente ele e Xavier sabiam do encontro na livraria.
— Seguido? Por quem? — questionou Eron, desconfiado.
— Ainda não sei. Desde que saí de casa, senti a presença de alguém. Tentei despistá-los, mas só consegui me livrar deles ao chegar aqui.
Xavier observava cada canto da livraria, em alerta.
— Como descobriram sobre esse encontro? — murmurou Eron, desconfiado.
— Talvez tenham nos rastreado desde o último encontro... ou talvez estejam mais próximos do que imaginamos. Precisamos redobrar os cuidados.
Apesar da preocupação, Eron não conseguia evitar os olhares lançados a Luna. De onde estava, ele percebia o quanto ela era gentil e dedicada.
— Eron, não estamos aqui para flertes — alertou Xavier, percebendo o interesse do mafioso.
Mais tarde, já no carro, Eron jogou o pacote no banco do passageiro com desdém. Ser gentil não fazia parte de sua natureza. Colocou os óculos escuros e ordenou que o motorista partisse.
---Na livraria Recanto dos Livros
Luna acabava de atender um cliente quando Drica se aproximou, empolgada.
— Luna! Você sabe quem era aquele homem?
— Não. Ele não disse o nome.
— Eu pesquisei! — disse Drica, mostrando o celular. — É Eron Garossy, filho de um megaempresário dono de empresas ligadas à tecnologia e proprietário de várias casas noturnas e cassinos aqui na região.
— O que alguém como ele estaria fazendo numa livraria? Não parecia um amante dos livros...
— Nunca dá pra entender a cabeça de gente rica, amiga.
Drica se afastou para outro atendimento. Luna, curiosa, deslizou os dedos pela tela do celular, lendo mais sobre o homem misterioso: Eron Garossy, filho de Felix Garossy. Ela repetiu o nome em voz baixa, sentindo um arrepio percorrer sua espinha.
O mafioso chegou ao aeroporto onde um jatinho particular o aguardava. Eles desceram do carro e seguiram diretamente para a aeronave, que decolou rumo à Espanha. Don Félix já os esperava.
Após aproximadamente quatro horas de voo, o avião de pequeno porte aterrissou no topo de um prédio onde funcionava uma das empresas da família. Afinal, eles precisavam de um negócio de fachada para justificar a origem de tanto dinheiro.
Já se aproximando da porta que dava acesso ao escritório, Eron observou a movimentação de alguns homens, conhecidos como soldados. Cabia a eles realizar todo tipo de trabalho sujo. À medida que o mafioso caminhava, os olhares daqueles homens se voltavam para o chão. Ninguém ali ousava encará-lo. Ele era o Sottocapo, ocupava uma das posições mais altas da organização, ficando abaixo apenas do Don. Era o sucessor direto, o próximo no comando caso o chefe adoecesse, morresse ou fosse preso.
— Estão vinte minutos atrasados — comentou Félix, apoiando os cotovelos sobre a mesa de mármore reluzente.
— O atraso foi por conta do atentado contra a vida de Brawer — Eron respondeu, jogando-se em um dos sofás da sala.
— Já estou sabendo do ocorrido. Coloquei alguns de nossos homens no caso. Precisamos saber com quem estamos lidando.
Algumas batidas na porta interromperam a conversa. Felix autorizou a entrada.
— Chefe? — chamou o soldado, mantendo a postura rígida.
Felix apenas ergueu os olhos, esperando que ele prosseguisse.
— Conseguimos localizar o carro usado no atentado. Estamos com dois prisioneiros em um dos galpões.
Don Félix sorriu e levantou-se em direção ao bar que mantinha no escritório. Serviu-se de um whisky, virando o copo de uma só vez.
— Preciso saber quem os enviou — falou, saboreando o gosto da vitória iminente.
— Posso ir lá descobrir. Garanto que arrancarei a informação necessária antes de aniquilá-los — disse Eron, esperando a autorização do pai.
— Tinha outros planos para você, mas está liberado da missão. Vá. Eu mesmo irei com os soldados acompanhar o descarregamento da carga — referindo-se à droga que estava a caminho.
— Ok.
Eron se levantou e saiu da sala. Estava cansado da viagem e precisava relaxar antes de retornar à Itália. Ao chegar ao galpão, encontrou alguns de seus homens na entrada. Acenou com a cabeça, cumprimentando-os, e entrou. Lá dentro, um dos prisioneiros estava acorrentado; o outro não resistira aos ferimentos.
— Ora, ora, ora... Olha só quem apareceu: o próprio diabo em pessoa — debochou o prisioneiro, mesmo com o rosto coberto de hematomas.
— Sem elogios, por favor — disse Eron com voz calma, quase suave. O tom tranquilo tornava tudo ainda mais ameaçador.
— Não tenho medo de você! — disse o prisioneiro, rindo de forma debochada e mostrando a língua. Parecia alucinado.
Eron caminhou até uma longa mesa no canto do galpão. Sobre ela, uma coleção de armas e ferramentas de tortura: alicates, facas, cordas, chave de fenda — e até mesmo uma furadeira.
— Me mate, seu desgraçado! O que está esperando? Não vai conseguir tirar muita coisa de mim. Na verdade, vocês caíram direitinho na nossa emboscada.
Por um instante, o mafioso desviou a atenção, encarando o prisioneiro.
— Do que você está falando, seu infeliz?
Ele se aproximou furioso, encostando o revólver calibre .500 bem no centro da testa do prisioneiro.
— DO QUE VOCÊ ESTÁ FALANDO, SEU MERDA? — gritou, perdendo a paciência.
— Logo, logo você vai descobrir — respondeu o homem, gargalhando.
Sem mais paciência, Eron puxou o gatilho. O disparo ecoou pelo galpão, provocando morte instantânea. A cena era brutal, mas o mafioso já estava acostumado. Saiu do local e ordenou que os soldados se livrassem do corpo sem deixar vestígios.
---Já era noite quando Eron se viu entediado na enorme cama do quarto de hotel onde estava hospedado. Na verdade, ele se sentia esgotado. A semana havia sido intensa. Como braço direito do pai, estava presente em quase todas as missões.
Levantou-se, foi até a janela de vidro panorâmica. A vista era espetacular. De lá, podia observar boa parte da cidade. Após alguns minutos contemplando o movimento lá fora, virou-se, pegou o paletó e saiu do quarto. Vicent, o soldado responsável por sua segurança naquela noite, assustou-se com a saída repentina do chefe.
— Onde vamos, chefe? Achei que fosse descansar — perguntou, tentando acompanhá-lo.
—Nightclube. — respondeu seco.
O Nightclube era uma casa noturna onde mulheres se prostituíam por valores mais altos que os das ruas. O local também funcionava como cassino. Era comum encontrar ali políticos corruptos, homens casados buscando aventuras e um ambiente carregado de álcool e entorpecentes.
Ao chegar, Eron entrou acompanhado de seus homens. Como esperado, a casa estava lotada. Ele caminhou até um dos sofás de couro e sentou-se, observando o movimento. Em pouco tempo, uma das dançarinas desceu do palco e veio em sua direção. Tinha cabelos loiros longos, seios fartos e trajes tão curtos que deixavam pouco à imaginação.
— Não me lembro de você por aqui — disse ele, sem tirar os olhos dela.
— Comecei hoje, Sr. Garossy — respondeu a mulher com um sorriso insinuante.
— Sabe quem eu sou?
— Seria estranho se eu não soubesse, não acha? — Ela deslizou a mão pelo abdômen dele até alcançar o meio de suas pernas, iniciando movimentos provocantes. O mafioso mordeu o lábio inferior, jogando a cabeça para trás.
— Vamos para um lugar mais reservado — ordenou.
Levantou-se, segurando a mão da loira, e os dois subiram até um dos quartos privados. Era um ambiente já familiar para ele, com iluminação baixa e uma grande cama redonda. Sem muita conversa, tocou os lábios da mulher com malícia. Ela os chupou com vontade, e, ao fechar os olhos, ele a puxou com firmeza. Não demorou muito para pedir que ela se ajoelhasse. E o resto... bem, você pode imaginar como a noite terminou.
Continua...