LIA (Lua)
O terror da queda na cozinha e o olhar de Lídia ainda queimavam em minha memória. Eu havia chegado ao Lux naquela noite carregando o peso de duas vidas fracassando: a babá estava exausta e a dançarina, falida.
Eu estava terminando de me maquiar, a máscara de renda em minhas mãos, quando a porta do camarim se abriu. João, o capanga de Durval, não perguntou; ele ordenou.
— Durval quer te ver. Agora. Sem máscara.
Deixei a máscara e a peruca de lado. Eu não era Lua em seu escritório; eu era Lia, a devedora, e não havia disfarce que escondesse o medo.
O escritório de Durval ficava no andar superior, isolado do barulho. Era menos um escritório e mais uma câmara de poder. As paredes eram revestidas de madeira escura, e a única iluminação vinha de um abajur de mármore sobre a mesa, lançando sombras longas e ameaçadoras. O ar era pesado, cheirando a dinheiro velho e charuto.
Durval estava sentado em uma poltrona de couro. Ele não estava sorrindo. Seu terno era impecável, e