LIA (Lua)
O ar frio da noite chicoteou meu rosto enquanto eu corria para o ponto de ônibus. A camiseta de malha fina de babá foi trocada por uma jaqueta escura e surrada. Olhei para o relógio: 19:05. A pontualidade era lei no Lux..
Deixei a casa de Alexandre a tempo, mas a exaustão já pesava. Oito horas com Lorena haviam sido gratificantes, mas intensas. Agora, a segunda jornada me esperava.
Ao chegar no bairro do Lux, o contraste era gritante. Os carros que passavam eram silenciosos e caríssimos. A rua cheirava a asfalto molhado e perfume importado.
Entrei pela porta dos fundos da boate, o cheiro de fumaça e bebidas me atingindo como um soco. João, o capanga de Durval, mal acenou com a cabeça.
— Atrasada. Cinco minutos. Durval não gosta. — Sua voz era um grunhido. — Vá para o camarim. Sua aula de dança é em dez.
O camarim era um labirinto de espelhos, luzes fortes e um cheiro enjoativo de laca e suor. As outras dançarinas me olharam com uma mistura de desdém e curiosidade.