— Vamos Alina, atira!
Minha mão tremia em volta do cabo da pistola 765 prateada, que fazia um contraste gritante com minhas unhas impecáveis e pintadas de vermelho. O homem estava ajoelhado em minha frente e ao invés de implorar para que eu não atirasse nele, parecia rir da minha cara de medo apontando a pistola para a cabeça dele.
Lucas estava logo atrás de mim e engatilhou a arma dele, falando de forma a me encorajar:
— Você vai atirar ou vai amarelar de novo, Alina!?
Eu nunca tinha atirado em ninguém antes e a voz da minha mãe choramingando quando eu decidi ser policial, estava mais do que nítida em minha cabeça:
— Minha filha, você vai se tornar uma assassina!
— Não, mãe! Eu vou caçar os assassinos, é diferente!
— Não é, não. Não se pode vencer o mal fazendo o mal.
— Eu vou fazer o bem para a população!
O bem seria livrar a sociedade daquele traste ajoelhado em minha frente. Sabia muito bem que se o levasse para a Delegacia, algum advogado de merda ia achar um jeito de devolvê-lo ás ruas e isso eu não podia deixar acontecer.
Lucas, meu parceiro de operação, e de foda, concordava comigo. Estávamos os dois ali com o mal em nossa frente e cabia a nós exterminá-lo, mas minha mão tremia tanto que pensei que a pistola fosse cair.
Lucas se aproximou de mim e falou com voz fria:
— Quer um bom motivo para matar esse verme? Eu te dou: ele estuprou uma menina de dez anos e assim que você levar ele para a Delegacia, sabe o que vai acontecer, não sabe?
O bandido deu uma risada irônica e não pareceu acreditar que eu fosse capaz de matá-lo.
— Qual foi, sua policial gostosa? Nunca atirou em ninguém, não é?
Lucas se aproximou dele e deu-lhe uma coronhada na cabeça, fazendo- o dobrar o corpo para a frente.
— Cala a boca, seu filho da puta! Se ela não te matar, eu vou te mostrar quem é gostosa aqui.
Ele endireitou o corpo e me olhou sem medo.
— Não se preocupe, eu gosto de garotas mais novinhas, você não faz meu tipo.
Aquilo fez meu sangue ferver e eu apontei a arma para a cabeça dele. Eu fiz um juramento que defenderia os fracos e oprimidos contra todo tipo de violência, mesmo que tivesse de agir com ela contra algumas pessoas.
— Se disser mais uma palavra, vou estourar seus miolos!
Lucas sabia quando eu estava falando sério e pelo tom da minha voz, ele entendeu que deveria recuar.
O bandido esticou os lábios num sorriso debochado:
— Não diga! Sabe mesmo apertar esse gatilho ou só sabe abrir as pernas para seu amigo ai?
A vida te leva para alguns caminhos que você não pode escolher. Já está escolhido para você. Só te resta correr e se esconder ou enfrentar aquilo que o destino coloca em sua frente. Eu nunca fui de me esconder de nada.
Engatilhei a arma mirando bem no meio da testa do verme que e encarava com olhos desafiadores.
— Vou abrir minhas pernas para ele com muito mais tesão hoje, pois estarei com sentimento do dever cumprido.
Minha voz era fria como aço. E descarreguei a minha pistola bem no meio da testa daquele traste nojento.
Ali meu destino estava traçado.
Sujei minhas mãos de sangue pela primeira vez, honrando meu juramento de proteger o bem contra o mal.
Lucas se aproximou de mim e me abraçou.
— Calma, é assim mesmo que você se sente quando faz essa merda pela primeira vez.
Estranhamente, eu não estava sentindo nada.
— Você sabe que hoje eu não vou conseguir dormir sozinha, não é?
— Sei. Tem Whisky na sua casa?
— Não.
— Então eu levo.
Meu estômago embrulhava e se eu não saísse dali logo, eu ia vomitar.
— O que vamos fazer com ele? - perguntei nervosa.
Lucas olhou o corpo estirado no chão.
— Bom... você vai ter que me ajudar a colocá-lo no fundo da viatura.
— O que vamos dizer na Delegacia?
Ele arqueou uma sobrancelha:
— A verdade, não é Alina? O cara estava com uma arma apontada para minha cabeça. O que você faria como minha parceira? Só lhe restou atirar.
— Nossa alma está no inferno. Sabe disso, não é?
Ele guardou a arma na cintura e arregaçou as mangas, pronto para iniciar a tarefa:
— Bom, ainda tem o purgatório antes.
Respirei fundo e o encarei.
— Vamos terminar logo com isso.