Matthew se viu obrigado a seguir sua mãe. Ela sempre conseguia o que queria.
Ele a acompanhava, transmitindo uma falsa calma, mas por dentro estava mergulhado em ira. Sabia que seu amigo passaria mais tempo com a mulher que ele desejava.“ Amanhã... Amanhã você vai vê-la. Amanhã você vai ficar ao lado dela…”Repetia esse pensamento, tentando se acalmar.— Já cansei de dizer à Patrícia que nem tudo é da nossa conta, principalmente quando pode prejudicar nossos filhos. Mas ela nunca aprende — disse Nancy, impaciente.— Mãe, você tem ideia do que aconteceu hoje? — Matthew a interrompeu, firme.— Eu sei que preciso proteger meu filho.— Pelo amor de Deus! Uma colega da faculdade foi assassinada brutalmente! A amiga dela encontrou o corpo e está em choque! — a voz de Matthew aumentava a cada palavra. — Eu estou bem, Otto está bem... Mas Julia e a família dela não estão!Ele respirouDentro do escritório, Edward serviu dois copos de whisky. Os dois se sentaram, e antes que o silêncio se tornasse incômodo, Matthew quebrou a tensão:— Ela não está bem — murmurou, a cabeça baixa, a voz carregada de peso.Edward franziu a testa.— O que aconteceu? Ela chegou aqui completamente descontrolada.Matthew soltou um suspiro, esfregando a mão na nuca.— Colocou na cabeça que eu acho a Patrícia melhor que ela.Edward inclinou-se para frente, o olhar sério.— Ela disse isso?— Sim.Edward passou a mão pelo rosto, pensativo.— Matt, me conta essa história direito.Matthew contou sobre a morte da amiga, sobre como a noite tinha sido longa, carregada de medo e tristeza.— Certo, mas e você e sua mãe? — Edward interrompeu, percebendo que Matthew enrolava, contando a história mais devagar do que o necessário.Matthew passou a mão pelo rosto, exausto.— Ela
— Otto? — chamou Patrícia, tocando de leve no ombro do filho. — Filho, acorda.Ele resmungou, os olhos ainda pesados de sono.— Hã? O que foi, mãe?Patrícia sentou-se na beira da cama e puxou o lençol devagar, revelando o rosto dele. Otto piscou algumas vezes antes de encará-la.— Precisamos ir ver a família da Julia e levá-la à clínica.— Estou tão cansado…— Eu sei, todos estamos. — ela passou a mão nos cabelos dele com carinho. — Mas vamos, quanto antes resolvermos isso, melhor.Patrícia se levantou e saiu do quarto. Otto não demorou a segui-la e, logo, os dois estavam prontos para sair de casa. No caminho, passaram na padaria, compraram café e algumas rosquinhas antes de seguirem para a casa onde Julia morava.Ao descerem do carro, notaram uma movimentação incomum na casa. Ficaram observando por alguns instantes, até que Grace os avistou e se aproximou com um sorriso forçado.— Vocês realmente vieram. — Grace disse, surpresa.— E trouxemos café e rosquinhas. Espero ter acertado no
A torção no tornozelo obrigou Julia a usar uma bota ortopédica. Ela detestou a ideia assim que o médico a mencionou, mas não havia alternativa. O incômodo físico era o menor dos problemas — o que mais a incomodava era a sensação de fragilidade.— Promete que vai cuidar direitinho desse pé? — perguntou Patrícia, com um tom meigo, mas firme, como quem cuida de alguém há anos.— Prometo, não se preocupe. — Julia tentou sorrir, mas havia um traço de cansaço em sua expressão.Patrícia assentiu, já se afastando para concluir os encaminhamentos.— Já mandei separar os remédios — disse, voltando-se para Otto. — Pegue na recepção e leve-a para casa. Nada de esforço por hoje.— Pode deixar. — Otto respondeu com um aceno leve, mas sem muito entusiasmo.Otto deu um beijo na mãe, segurou a mão de Julia e os dois saíram da sala, deixando Patrícia no consultório para que pudesse voltar ao trabalho. Passaram na recepção, pegaram os remédios que já estavam separados e foram embora.Ao se aproximarem d
Na manhã seguinte, ele fez o que havia prometido: buscou Julia e foram juntos à faculdade. No trajeto, foi carinhoso e gentil — acariciou o rosto dela, suas mãos, e pousou a mão em sua perna de forma suave.Ao estacionar o carro, inclinou-se em sua direção e lhe deu um beijo. Ela correspondeu. O beijo foi esquentando, e logo ele desceu a mão, acariciando seus seios, sua barriga—E acordou.Foi um sonho. Real, intenso, mas apenas um sonho. Ainda deitado na cama, Matthew cedeu novamente aos desejos que se tornavam cada vez mais fortes."Ela nunca vai me querer desse jeito... Mas eu posso fazer ela querer.”Estava certo do que queria — e não pretendia desistir tão cedo.Vestiu-se às pressas e saiu de casa com o coração acelerado.Dirigiu como se cada segundo fosse precioso. A ideia de não conseguir um momento a sós com Julia o deixava inquieto.Ao chegar à porta da casa, ele buzinou. Julia saiu com pressa.— Nã
Matthew ficou plantado na porta de Julia por horas. Quanto mais o tempo passava, mais furioso ele ficava. O ciúme e o desejo de posse nublavam sua mente.Enquanto esperava alguém surgir, imaginava, planejava seus passos e tudo o que poderia acontecer. Queria estar à frente de tudo.Sua mente o levava sempre para frente, para o futuro. O atormentava com a possibilidade de não tê-la, trazia imagens dele vitorioso.Era uma grande confusão — e ele estava cada vez mais imerso nela.Já estava quase anoitecendo quando um carro estacionou logo atrás.Matthew estava do lado de fora, encostado no próprio carro, lendo um jornal. Estava cansado de ficar sentado esperando. Quando olhou para o veículo que acabara de chegar, viu claramente Otto no volante — e Julia ao seu lado.Sua mente começou a turvar. O desejo de atacar Otto se intensificou.“Eu podia acabar com ele agora mesmo.” — pensou.“Esmurrá-lo até que não sobrasse nada.”A porta d
O cemitério estava cheio. Lin era muito conhecida e querida por todos.Vizinhos, amigos, familiares, professores — todos estavam lá.A banda em que ela tocava prestou uma homenagem, tocando a música que ela mais gostava.Julia deu alguns passos à frente, parando ao lado do caixão. Os olhos inchados, o rosto marcado pela dor. Não havia microfone, apenas silêncio. Um daqueles silêncios que gritam.Ela respirou fundo, tentando conter o tremor da voz.— Eu nunca pensei que um dia teria que dizer adeus assim... não a você, Lin.Fez uma pausa, encarando as flores sobre o caixão.— A gente cresceu juntas. Dividimos brinquedos, segredos... e até o medo do escuro. Você dizia que o mundo era grande demais para gente se esconder. E me puxava pra vida, me fazia rir quando tudo doía. Me fazia levantar quando eu achava que não conseguiria.Um leve sorriso atravessou seu rosto, breve como um sopro.— Eu lembro de quando a gente
Matthew estacionou o carro e olhou para Julia, que estava no banco de trás. Ela permanecia parada, encarando o nada. Demorou alguns segundos até perceber que já haviam chegado em casa. Ao seu lado, Allan também parecia não saber como agir diante daquela situação.Julia piscou algumas vezes, como se voltasse à realidade.— Fica — disse para Matthew, com a voz chorosa.— Claro — respondeu ele, com um sorriso doce.Julia repousou a cabeça no ombro de Matthew, que logo começou a acariciar seu rosto.Com ela, ele demonstrava um carinho verdadeiro, mesmo que sua mente estivesse mergulhada em ilusões.Sentia o cheiro do cabelo dela, a pele macia, levantou o queixo dela e olhou-a nos olhos. Não havia mais lágrimas, mas era notória sua fragilidade. Ele sabia que esse era o momento perfeito para avançar, tinha que aproveitar a situação. Mas, dessa vez, foi Julia quem avançou. Beijou-o, demonstrando desejo. Matthew correspondeu com intensid
Os dias se passaram, e Matthew cercava cada vez mais Julia, aproveitando-se de cada oportunidade.Era sutil quando havia plateia, mas, a sós, avançava feito uma raposa — astuto, cauteloso, frio. Quem percebia suas ações acabava enganado por ele. Era muito bom de lábia.— Matthew, não acha que está avançando demais? Julia não está bem, tá claro como água, e você não desgruda, vive em cima. — disse Allan, certa vez.— E você prefere que ela fique sozinha, mergulhada em culpa e pensamentos ruins? — respondeu Matthew. — Olha, cara, eu gosto dela. Nunca passei por algo assim. Eu também gostava da Lin... eu não sei lidar com isso, e juntos esquecemos um pouco de tudo.— Mas não é o que parece. Você age como se quisesse ela só pra você. Parece que quer afastá-la de todo mundo. Isso também não é bom. A Julia tem várias pessoas que a amam e querem o bem dela.— Allan, eu sei o quanto você se preocupa com ela. Mas ela me procura. Se ela não está buscand