A lua cheia pairava sobre o céu límpido, iluminando o castelo da matilha real. Dentro dos muros de pedra imponentes, os preparativos para o grande baile estavam finalizados. O evento era aguardado com ansiedade por muitas fêmeas em busca de seus companheiros, mas para o rei, Lucian, aquilo era apenas uma formalidade exaustiva. Ele já sabia o que esperar: uma noite longa, cheia de lobas tentando seduzi-lo, esperando que fossem a escolhida de seu lobo.
Mas aquela noite seria diferente. A uma hora dali, na matilha da Lua Escarlate, Erin e suas irmãs estavam quase prontas para partir. Isla resmungava enquanto prendia um grampo nos cabelos escuros. — Não é justo! Celeste e Erin já foram quando eram crianças, e eu nunca tive essa chance. — Isso porque você ainda não tinha nascido, sua tonta — Celeste zombou, ajeitando o vestido azul-claro que realçava seus olhos. — Na verdade, não é bem assim — Erin interveio, lançando um olhar curioso para a irmã mais nova. — Mamãe não sabia que estava grávida de você antes da guerra, e depois... bem, depois de tudo, nos isolamos. Isla suspirou, cruzando os braços. — É, eu sei. Mas agora que tenho a chance de conhecer o palácio, estou animada! Mesmo que eu ainda tenha dezesseis anos e não possa encontrar meu companheiro. Helena, a mãe delas, entrou no quarto, os olhos carregando um misto de emoção e orgulho. — Minhas meninas estão lindas — disse, sorrindo. — Mas antes de partirem, quero apresentar alguém a Erin. Elas a seguiram até a sala principal, onde um homem alto de cabelos castanhos e olhos dourados as esperava. Assim que Erin entrou, ele a olhou fixamente e, sem conter a emoção, murmurou: — Selena… O nome antigo de Erin soou estranho aos seus ouvidos, mas algo nele lhe trouxe um calor no peito. — Você me conhece? — ela perguntou hesitante. O homem sorriu, abrindo os braços. — Sou seu tio, irmão do seu pai. Era o beta dele. A surpresa se estampou no rosto de Erin, e antes que pudesse reagir, ele a puxou para um abraço apertado. — Me perdoe por não ter estado aqui antes. Quando voltei do exterior, soube que você estava viva, mas não consegui chegar antes para vê-la. Ela o abraçou de volta, sentindo o peso do momento. Sua família estava crescendo. — Você tem primos também — ele continuou. — Estão ansiosos para conhecê-la, mas ainda não puderam retornar devido ao trabalho e aos estudos. Erin sorriu, tocando sua barriga arredondada. — Mal posso esperar para conhecê-los. Helena pigarreou, chamando a atenção delas. — Eu não irei ao baile. Mas seu tio irá acompanhá-las esta noite. As três assentiram, e pouco depois partiram em direção à cidade da matilha real. --- O salão estava repleto de luz e música. Lobos e lobas dançavam, brindavam e se entregavam à alegria do evento. Mas o rei, Lucian, estava impaciente. Ele se sentou em seu trono, observando a multidão sem real interesse. Seu beta se aproximou, percebendo sua expressão sombria. — Pelo menos tente parecer animado — brincou. Lucian suspirou, esfregando a têmpora. — Você sabe que odeio esses bailes. São sempre a mesma coisa. — E quem sabe este ano seja diferente? Lucian bufou. Seu lobo estava inquieto aquela noite, algo dentro dele pulsava com uma energia diferente, mas ele não conseguia identificar o motivo. — Apenas terminemos isso logo — murmurou. Ele se levantou para fazer seu discurso de abertura. No exato momento em que sua voz ecoava pelo salão, alguém vagava pelo jardim do palácio, sem notar a importância daquele instante. --- Erin não suportava mais estar ali. O ambiente estava quente, o barulho da música e das vozes era sufocante. Precisava de ar. Com passos lentos, caminhou até os jardins do palácio. O cheiro das rosas e do orvalho noturno a acalmavam, e ela fechou os olhos, respirando fundo. Mas, de repente, sua loba se agitou dentro dela. Seu coração acelerou. Um calor percorreu seu corpo, e um desconforto começou a crescer. — O que está acontecendo? — sussurrou para si mesma. Então, a percepção a atingiu como um raio. Os bebês estavam chegando. Com dificuldade, ela ativou seu vínculo mental e chamou suas irmãs e seu tio. "Estou no jardim. Os bebês estão vindo." Em segundos, eles estavam lá. Celeste segurou sua mão, preocupada. — Consegue andar? — Acho que sim... mas precisamos sair daqui rápido! — Erin arfou. Seu tio os guiou habilmente pelo palácio sem chamar atenção, levando Erin direto ao médico da alcateia. --- A dor era intensa, mas Erin se manteve forte. Com o apoio de suas irmãs, respirou fundo e se concentrou. — Está indo bem — o médico disse. — Só mais um pouco. Com um último esforço, um choro preencheu o quarto. O primeiro bebê nasceu. Erin sorriu, lágrimas escorrendo de seus olhos quando colocaram o menino em seu peito. — Luke... — sussurrou, acariciando a pequena cabeça coberta por fios escuros. Mas logo outra onda de contrações veio, e minutos depois, outro choro encheu a sala. — É uma menina — o médico anunciou, entregando-lhe o segundo bebê. Erin olhou para sua filha e sorriu, os olhos brilhando com emoção. — Lucy. O médico sorriu. — Eles estão saudáveis, e você também. Mas recomendo que fiquem aqui até o amanhecer para termos certeza. Enquanto Celeste e Isla admiravam os pequenos, Erin olhou para sua filha e guardou um segredo em seu coração. Lucy. Uma homenagem ao homem que, mesmo sem saber, era pai daqueles bebês. --- Na manhã seguinte, Erin e sua família partiram, voltando para a matilha da Lua Escarlate. Horas depois, Lucian foi informado de que uma mulher deu à luz no hospital da matilha real durante o baile. Sem interesse inicial, foi apenas para verificar se a família precisava de algo. Mas assim que entrou no quarto onde o parto aconteceu, seu mundo desabou. Um cheiro o atingiu com força, seu lobo rosnou dentro dele. Seu coração disparou. — O que... que cheiro é esse? — ele perguntou, já em alerta. O médico olhou confuso. — É da mulher que teve os bebês. Ela partiu ao amanhecer. Lucian sentiu seu lobo tomar controle por um instante, um rugido ecoou pelo quarto. — Quem era ela?! Onde está agora?! O médico hesitou, mas respondeu: — Ela não deixou seu nome, mas os bebês... chamam-se Luke e Lucy. O rei sentiu o ar fugir de seus pulmões. Luke e Lucy. Seus olhos se encheram de lágrimas. — Meus filhos... A dor da perda tomou conta dele. Ele estivera tão perto e não percebeu. Agora, sua companheira e seus filhos estavam longe, e ele não sabia para onde. Mas uma coisa era certa: ele os encontraria. E nada o impediria disso.