O escritório de Helena era um espaço acolhedor, repleto de livros, documentos e o aroma de chá de ervas. Erin estava sentada em uma poltrona confortável, acariciando distraidamente sua barriga arredondada de seis meses.
A porta se abriu de repente, e Celeste e Isla entraram em meio a uma discussão animada. — Eu aposto que Erin vai querer as frutas que eu trouxe — Celeste disse, segurando um pratinho com pedaços coloridos de morango, manga e mirtilo. — Ah, por favor! — Isla revirou os olhos, segurando uma tigela de mingau de aveia fumegante. — Mingau é muito mais nutritivo! Helena, que estava sentada atrás da mesa, riu da pequena disputa. — Vocês duas agem como se pudessem prever os desejos de uma grávida — brincou. Erin, com um sorriso divertido, olhou para as irmãs e pegou as duas porções sem dizer nada. Em seguida, despejou as frutas dentro da tigela de mingau, misturando tudo. Celeste e Isla fizeram expressões de puro espanto. — Eca! — Isla fez uma careta. — Isso parece errado em tantos níveis… — Celeste acrescentou. Helena riu ainda mais alto ao ver os rostos das filhas. — Aproveitem para rir agora — disse, divertida. — Porque quando for a vez de vocês, vão ter os mesmos desejos estranhos. Erin saboreou a mistura e olhou para as irmãs com um sorriso maroto. — Vocês não sabem o que estão perdendo. Depois que terminaram de rir e Erin limpou as mãos com um guardanapo, seu semblante ficou sério. — Tem algo que preciso contar para vocês. Celeste e Isla pararam imediatamente de brincar. — O que foi? — Celeste perguntou, preocupada. Erin respirou fundo. — Como acontece todos os anos, recebi um convite do palácio para o Baile de Companheiros. Ele vai acontecer em dois meses. Celeste e Isla trocaram olhares. — E como todos os anos, vamos recusar, certo? — Isla disse, esperando a confirmação. Helena suspirou e se levantou da cadeira. — Na verdade, não. Desta vez, acho que devemos ir. O silêncio tomou conta do escritório. Celeste e Isla pareciam ter ouvido errado. — O quê? — Celeste arregalou os olhos. — Mãe, você recusa esse convite há anos! — Isla exclamou. Helena cruzou os braços e olhou para as três filhas com seriedade. — Por muitos anos, usamos nosso luto como justificativa para nos afastarmos do mundo. Perdemos nosso alfa, Erin desapareceu, e a Matilha da Lua Escarlate se isolou. Mas não estamos mais de luto. Erin voltou para nós. E, por mais que tenhamos nos fechado para o mundo, ele ainda continua girando. Celeste e Isla ouviram em silêncio, absorvendo as palavras. — Vocês duas precisam estar abertas para encontrar seus companheiros — Helena continuou. — E Erin… você tem uma chance de reencontrar o seu. Os olhos de Erin se arregalaram. — Você realmente acha que ele vai estar lá? Helena deu um pequeno sorriso. — Se ele for realmente seu companheiro, o destino vai dar um jeito de colocar vocês frente a frente novamente. Celeste e Isla não tinham argumentos contra isso. A mãe delas estava certa. O isolamento não podia durar para sempre. — Então está decidido? — Erin perguntou. Helena assentiu. — Sim. Este ano, a Matilha da Lua Escarlate comparecerá ao baile. --- O grande salão do palácio estava em constante movimento. Criados, organizadores e conselheiros circulavam, discutindo os detalhes do evento mais importante do ano: o Baile de Companheiros. Lucian estava sentado à mesa de seu escritório, revendo uma longa lista de convidados ao lado de seu beta, Rylan, e seu gama, Damon. — O convite para a Matilha da Lua Escarlate foi enviado? — Lucian perguntou sem tirar os olhos do papel. Rylan assentiu. — Sim, eu mesmo cuidei disso. Lucian largou a caneta sobre a mesa e se recostou na cadeira. O nome daquela matilha trazia lembranças amargas. A Guerra. Depois da traição do meio-irmão de seu pai, o reino mergulhou no caos. Seu pai e sua mãe foram assassinados. A guerra devastou inúmeras matilhas, mas nenhuma sofreu tanto quanto a Matilha da Lua Escarlate. Seu alfa, um homem de honra, deu a vida para salvar Lucian em batalha. E, junto com ele, sua pequena filha desapareceu. Lucian fechou os olhos por um momento, recordando os dias antes da guerra. Lembrava-se de duas meninas correndo pelo palácio sempre que seus pais vinham tratar de assuntos com o rei. Celeste e Selena. Desde aquele dia fatídico, nunca mais as viu. Nem a mãe delas, nem ninguém da matilha. A Lua Escarlate se isolou completamente do mundo. Lucian abriu os olhos, sua expressão sombria. — Eles responderam ao convite? Damon verificou a correspondência recém-chegada. Ele folheou os e-mails até encontrar a resposta da Matilha da Lua Escarlate. Ele leu em silêncio antes de erguer os olhos para Lucian. — Sim. Eles confirmaram presença. Lucian sentiu um frio na espinha. Depois de tantos anos, os sobreviventes da matilha voltariam ao palácio. Rylan percebeu a tensão no ar. — Você acha que ela… Lucian o interrompeu com um olhar severo. — Não vamos criar expectativas. Muitas coisas mudaram. Rylan apertou os lábios. — Você não deve se culpar pelo que aconteceu. Lucian respirou fundo. — Eu sei. Mas isso não impede que eu lembre. Damon pigarreou e colocou alguns papéis de lado. — Bem, então temos algo novo para nos preparar. A Matilha da Lua Escarlate estará no baile. Lucian assentiu lentamente. E, pela primeira vez em anos, sentiu que algo estava prestes a mudar.